Igreja de São Benedito, da Arquidiocese de Floripa, apóia o Coro Lírico Catarinense cedendo o espaço para os ensaios, que antes se realizavam em espaço público, o Centro Integrado de Cultura. |
O Brasil já foi um país bem mais musical. Não
que tenha deixado de sê-lo, afinal, agora nós temos um verdadeiro mercado
interno, a tal classe "C", consumidora voraz que tudo compra e a tudo
quer ter acesso. Nada mais natural que tenhamos uma categoria artística muito
mais rica que as anteriores, tanto financeira quanto qualitativamente, graças
ao capital investidor e às novas tecnologias de gravação e distribuição. Até
mesmo a música caipira, antes tão discriminada, hoje vende milhões de discos,
excursionando de avião próprio, com suas bandas próprias, dezenas de técnicos e
músicos. Em seu tempo, os "Tonicos e Tinocos" de antigamente viajavam
de ônibus e tocavam em auditórios de rádios.
No campo da música artística de alto nível, temos
gênios como Arrigo Barnabé, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e tantos outros
desconhecidos do grande público, que vivem de sua própria música. E não consta
que estejam passando dificuldades, ao contrário de seus pares do passado, que
morriam de fome e das doenças da miséria. Músicos eruditos também estão em boa
fase, como o demonstra nosso querido Arthur Moreira Lima, pianista que mora em
pleno Costão do Santinho e frequenta os melhores points de Floripa e do Brasil,
como bem merece este grande personagem de nossa música, que alguns dizem
maldosamente também representar a linha etilizada, além do
elitizado, papéis que, aliás, ele desempenha muito bem.
Quanto a essa questão mercadológica, o Brasil vai
muito bem. Quando digo que o país já foi bem mais musical, lembro-me de
Villa-Lobos e seu livro didático "Canto Orfeônico", que orientava a
disciplina musical ensinada nas escolas primárias e secundárias do país.
Lembro-me de nosso compatriota maestro Edino Krueger, de Brusque, como
então secretário do MEC, espalhando corais e partituras pelo país afora. Eu
mesmo tive maravilhosos professores de música, matéria obrigatória nos
primeiros anos escolares. Enfim, dos anos sessenta para trás a música era
realmente popular, e não apenas um fenômeno de marqueting. Toda escola,
sindicato, clube, empresa, até famílias, tinham seu coral.
Então, veio a “redentora” com seus militares, que
só gostavam de marchas. Não as de carnaval, maravilhosas, mas aquelas tocadas
nos quartéis. Daí que resolveram trocar o Canto Orfeônico por outra disciplina,
mais de acordo com os novos tempos: “Educação Moral e Cívica”.
Três falácias numa só, pois aquilo nunca foi "educação", de
"civismo" não tinha nada e nossa governamental ética "moral"
ficou cada dia mais na lama, digo, no chumbo. Foi uma péssima troca.
Depois dos militares, Fernando Collor se encarregou
de jogar a pá de cal no caixão da cultura popular musical do país.
Hoje, governos de todos os naipes adoram reformar e construir teatros. Minha ingenuidade não me permite perscrutar as razões por que o fazem, uma vez que tais palcos vivem fechados. Vendo que era necessário ocupá-los minimamente, inventaram complicadas leis de incentivo à cultura, que são espertamente apropriadas por políticos e grupos de empresários, especializados não em música, mas, em negócios. Ao invés de incentivarem grupos artísticos locais, trazem artistas prontos da televisão nacional e faturam duplamente: o dinheiro do governo e dos bolsos das plateias imbecilizadas pela telinha na novela das nove. Os grupos locais que se julguem com algum talento, e queiram se expressar ao público apreciador de arte, que tirem a grana dos próprios bolsos, ora bolas!
Foi o que fizeram o Coro Lírico Catarinense e a
Orquestra Piu Mosso.
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