Consta que a população de Buenos Aires no ano 1750 era formada 75% de negros.
Em toda Argentina, Uruguai e Chile, nos conta o folclore sobre grupamentos negros importantes, seja na luta pela independência, seja na consolidação da nação nacional, a partir de um povo racialmente reduzido e oprimido pela maioria branca, até o ponto de desaparecer da face da terra local e da história. De fato, é praticamente nula a presença histórica da raça negra nestes países, com a possível exceção do Uruguai.
Quando eu estive pesquisando na Universidade de Córdoba sobre a organização da Companhia de Jesus, deparei-me com o fato histórico de que aqueles padres tinham por costume negociar com os estancieiros do Rio Grande do Sul. Trocavam negros escravos brasileiros por mulas de linhagem própria, desenvolvida por eles, apropriadas para transporte a longas distâncias, com o que foi possível o estabelecimento da rota comercial entre as cidades de Viamão (RS) e Sorocaba (SP). Em princípio, fiquei fascinado com esta informação e tentei discuti-la com meus amigos intelectuais argentinos. Pois, nenhum deles quis entrar a sério neste assunto. Parece que o esporte preferido nacional argentino, ao contrário do que todos supomos, não é o futebol, mas, o ato de esconder de sua história que um dia tiveram escravos negros também.
Há sobre isso um poema de ninguém menos que Jorge Luis Borges, o eterno escultor da língua espanhola, que minha amiga Suely Riskalla teve a sorte de conhecer num navio, antes que ele se fosse para a outra dimensão. Sorte dela e do artista brasileiro Vitor Ramil, que fez uma milonga para resgatar esta história que fala da participação de negros na luta pela emancipação do país vizinho. Compreensivelmente, esta canção é praticamente desconhecida no repertório do cantor gaúcho, embora tenha feito relativo sucesso em Buenos Aires.
Quando Milton Nascimento se preparava para gravar o álbum Clube da Esquina, foi apresentado a um grupo musical chileno do deserto de Atacama, que o acompanharia naquele projeto. Ali, deparou-se com uma composição de Violeta Parra, a qual não poderia ignorar. Disso resultou uma obra prima, praticamente desconhecida em seu pais original, o Chile, a qual, a partir desta descoberta, correu o mundo e hoje faz parte do cancioneiro tradicional daquele país andino.
Quando o Lulla ainda era nossa esperança de liderança popular, a serviço da mudança que não veio, ele disse uma frase que espantou a burguesia e os conservadores. "Nosso Brasil vive sonhando com a cara virada para Paris e New York. E vive de bunda virada para nossos vizinhos latino americanos".
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