quarta-feira, 2 de setembro de 2015

“ Está provado que só é possível filosofar em alemão ”






O estudo da filosofia lhe dá um ferramental interessante para o papel de crítico. Você se afasta da confusão do momento, se afasta para tentar compreender as razões da luta pelo Poder,  apenas pelo poder imenso que esta posição representa. Você passa a se perguntar se vale a pena se aliar ao próprio diabo, como fazem os políticos atuais, apenas pelo prazer efêmero de parecer tão  “importante” ou de possuir coisas que só lhe trazem uma segurança aparente.  Vale o sacrifício?

Desde muito cedo eu aprendi com meus avós que a simplicidade é tudo na vida. Não há necessidade de muita riqueza material, nem de ser famoso no entorno de nossas vizinhanças e suas circunstâncias pré datadas. Nunca compreendi por que uma pessoa que teve a sorte cósmica de caminhar até a consagração, que um dia foi miserável e tornou-se milionário, tenha a necessidade de estar permanentemente na luta pelo Poder. Pessoas assim viram prisioneiras de seus destinos. Estarão sempre insatisfeitas.
Nesta canção dos negros do sul dos Estados Unidos, aqui cantada por Nina Simone, fala-se de um homem que permanece livre dentro de si mesmo, ainda que esteja numa cela do presídio de Nova Orleans.



Este estoicismo filosófico de estar feliz por simplesmente SER, ao invés de TER, é o significado de SIMPLICIDADE existencial. Conta-se que o Imperador Alexandre, o Grande, ao visitar uma pequena aldeia no interior da Grécia, deparou-se com um velho e famoso sábio de nome Diógenes. O imperador perguntou-lhe do que ele precisava, pois, sendo Alexandre tão importante e rico, poderia satisfazer todos os desejos do velho peregrino. Diógenes respondeu apenas uma frase: "Gostaria que Vossa Majestade se afastasse um pouco para o lado, e saísse da frente da luz do sol, por favor".

Quando se estuda filosofia, você alcança uma visão mais verticalizada, atinge um ponto de vista à parte da confusão e pode vê-la com um distanciamento crítico diferente, aquele a partir do qual você vê a confusão sem fazer parte dela, seja na condição de comensal do regime de Poder, seja na condição de adversário político, como seria o meu caso na atual circunstância, mas, ao perceber todo o conjunto e não ver muita alternativa imediata, você vai perdendo o interesse de intervir como parte envolvida. E vira apenas um OBSERVADOR.  O caminho do observador, sem o envolvimento pessoal, é a chave para o crescimento, tanto Social quanto Individual. É necessário que se deem certas condições para a mudança em ambas esferas, para a transformação de uma realidade em outra. A principal delas, sem dúvida, é a CONSCIÊNCIA.  Além disso, é preciso ter independência pessoal, que significa não ter rabo preso com ideologias ou dogmas de qualquer espécie.



Immanuel Kant,  foi um  filósofo alemão (1724 a 1804) que faz a ponte entre a antiguidade e a idade moderna. Fundador da filosofia alemã, trata de temas complexos em sua extensa obra, que abrange temas diversos como a MORAL, o DIREITO, a RELIGIÃO e a ESTÉTICA.
Deve-se a Kant a fama de que a filosofia é algo complicado, quando, na verdade ela busca apenas facilitar a missão do ser humano, que é "encontrar a felicidade" . Desde sempre se sabe disso, mas, cada escola de filosofia encontra uma abordagem diferente. O que nas palavras de Platão se resume em um parágrafo, Aristóteles vai usar uma página inteira. Já os filósofos alemães acharão pouco o espaço de um livro.
A teoria básica da filosofia é a mesma desde os gregos. Há dois caminhos paralelos para se chegar ao topo da experiência humana. Um é o que Platão chamava mundo SENSÍVEL, o que os alemães vão chamar de EMPIRISMO. É o mundo da sensibilidade e da emoção, que o espiritualismo moderno chama de Mundo Astral. O outro é o mundo INTELIGÍVEL, que Descartes e Kant chamam de RACIONALISMO. É o mundo dos pensamentos concatenados e das ideias complexas, o que no espiritualismo se relaciona com o Mundo Mental (Kama-Manas).
A nossa civilização ocidental considera que a Razão seja preponderante sobre a Emoção. Mas, do ponto de vista de Kant, assim como dos filósofos gregos da tríade monumental (Sócrates-Platão-Aristóteles), o componente astral do conhecimento (emoções) é tão importante quanto o componente mental (lógico).
KANT passou toda sua vida numa cidadezinha da então Prússia, sem qualquer projeção nacional ou mesmo regional.  Devido a sua frágil estrutura física, teve necessidade de seguir dietas restritas e levar uma vida muito metódica. Uma piada bem humorada conta que os cidadãos da pequena Konigsberg sabiam que eram tres horas da tarde, quando o Professor Kant cruzava a rua principal para sua caminhada vespertina. Apesar de ter nascido e morrido ali, Kant era antenado com seu tempo, na medida do possível. Era assinante dos periódicos e revistas literárias de Paris, por exemplo, através dos quais acompanhou todo o desenrolar da Revolução Francesa. Essa universalidade que não se continha nas fronteiras de sua aldeia, foi que o consagraria como o "filósofo das tres críticas", por suas formulações filosoficamente inovadoras em Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e Crítica do Juízo (1790). Pode-se dizer que nesta trilogia ele vem reforçar a verdade espiritual cristã de que "não se deve fazer a outros aquilo que não queres que te façam", ou, de outra forma, foi ele quem colocou no plano filosófico a noção de que "o Direito é o confronto entre duas liberdades". Ou, ainda em outras palavras, ele introduziu a noção do DEVER, não como uma obrigação, mas, como o usufruto de uma liberdade regulada por um conjunto de regras éticas, a Lei. 
Sua obra seria fundamental na educação de Nietzsche, o filósofo que iria influenciar fortemente o fundador da Psicanálise, Freud. Assim, através de vários caminhos, Kant chega aos nossos dias. Sua herança filosófica redundaria nas tres vertentes modernas da Psicanálise no século XX, a materialista-dialética focada no condicionamento humano pela repressão sexual e formação de couraças de caráter, (Reich), a racionalista analítica   (Lacan) e a  focada na espiritualidade humana e nos arquétipos exotéricos  (Jung). 


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