quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cem Anos do Gonzagão


No final de março de 1973, assisti um show de Luiz Gonzaga, por conta do aniversário de Curitiba. Fazia um frio do baralho, em meio a uma chuvinha fininha típica dos campos gerais, a mil metros sobre o nível do mar. Gonzagão vivia seu esplendor, aos 61 anos de idade, famoso no Brasil inteiro e idolatrado no nordeste. Subiu ao palco encasacado em vários blusões de couro, com seu chapéu típico de cangaceiro e cumprimentou o público: “Alô, Curitiba”, destacando bem o “tiba” com a pronúncia típica dos nordestinos, e não com o “txiba” pronunciado por cariocas e outros mal falantes da língua pátria brasileira.  Como o tempo não estava para sorrisos, saiu-se com esta: “Tempo tá ruim, né não? É a natureza que chora emocionada com teu aniversário, Curitiba”, Tiba com “T” verdadeiro. Se fosse uma tarde de sol, garanto que diria que a natureza sorria emocionada. Era um grande populista. Eu só fui ao espetáculo por que não tinha nada para fazer naquele feriado, pois até nem gostava tanto do Gonzagão. Eu preferia seu filho Gonzaguinha, nosso herói político contestador, que ainda não havia se reconciliado com o pai fujão, que o abandonou juntamente com a mãe à própria sorte, fazendo com que fosse criado por uma família pobre no Morro de São Carlos, enquanto ele próprio usufruía de sua gloriosa carreira de sucesso. 



Maragogi, onde toca Gonzagão a toda hora em todo lugar.




Agora, comemora-se cem anos do Gonzagão. Eu sabia que ele era admirado no nordeste, mas, não que fosse ainda tratado como um deus. É impressionante a admiração que o povo tem por este mito sertanejo. Todas as bandas, inclusive as de música brega nordestina, tipo Calcinha Preta, estão a serviço dos cem anos do homem. Eu vi uma entrevista do cantor de um grupo de forró moderno de Alagoas, quando ele disse na TV que, normalmente, por ocasião das festas juninas, eles já se dedicam para o forró tradicional, mas, neste ano, é como se fosse a celebração do fim do mundo. Toca Gonzagão em todos os lugares e a toda hora. Ouvindo agora suas canções, com a formação musical mínima que adquiri ao longo da vida, vejo que era de fato um grande cantor. Sabia fazer com grande competência a sua arte.  No final da vida, entrou na mesma canoa furada que levou vários artistas ao declínio, quando tentou ser político. Depois de várias décadas a serviço das oligarquias, cantando em seus comícios, ele achou que poderia ser prefeito de sua cidade, Exu, no sertão pernambucano. Deu-se mal. Ele não sabia das regras do jogo e foi simplesmente descartado pelos seus antigos parceiros de campanhas. Ao povo, este pequeno detalhe passou despercebido. O que ficou foi sua imensa capacidade de entretenimento.  





Mais de quarenta anos atrás, outro nordestino intuía a importância de Gonzagão para a música brasileira, ainda que os meios intelectuais o vissem com desconfiança, principalmente pelas suas posições políticas. Lá de seu exílio em Londres, Caetano Veloso mandava uma magistral interpretação reconfigurada da música de Gonzagão. Vejam o que ele conseguiu criar em cima de algo já pronto e tradicional. Uma versão absolutamente revolucionária do baião.




Um comentário:

  1. Ontem, fiz uma carne de sol com feijão de corda, com ingredientes comprados na feira. Cortei a carne em pedacinhos, refoguei com cebola e alho na manteiga de garrafa. Ferventei levemente o feijão verde, à parte, coei e joguei sobre o guizado. Acrescentei cebolinha, coentro e pimentão vermelho. Comi com farofa. Haaa, enquanto preparava o prato, tomei uma garrafa do famoso suco de cana Predileta, enquanto ouvia Gonzagão a todo volume, tocado na rádio Jovem Pan local.

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