terça-feira, 22 de maio de 2012

Suahssuy




Deixei o burburinho da Pajuçara e vim passar uma semana em Suahssuy. Casa ampla, com piscina e muita sombra, em meio ao coqueiral infinito. De vez em quando um som forte, "ploc", corta o silêncio da noite. São os cocos maduros despencando e batendo na areia fofa. O único valor econômico destes maravilhosos e saudáveis frutos é sua água, vendida na praia a 2 reais. E côco maduro tem muito pouca água, então, ficam lá, apodrecendo. O cajú, infelizmente foi vítima de uma praga, que deixa o cajueiro enferrujado e anulou a safra de inverno. Não há cajú nem para remédio. Em compensação, as mangas dão show de bola. Nunca comi tanta manga no pé, deliciosas, sumarentas, dividem a minha preferência com a água de coco e não sei escolher o que é melhor, sendo assim, fico com as duas. 

Allan, o dono da casa, está em Maceió, onde trabalha na companhia estadual de energia, que foi reestatizada, pois o empreendedor privado abandonou o negócio. Para não deixar o estado ainda mais escuro, o governo federal a encampou e a colocou no conglomerado Eletrobrás, que é igual coração de mãe e aceitou também outras estaduais falidas pelo Amazonas, Rondônia, Acre, Piauí, etc. Em compensação, vendeu a Eletrosul, entregando as galinhas dos ovos de ouro por uma bagatela aos príncipes belgas e franceses da Tractebel, que recebeu algumas das jóias da coroa, como as duas usinas do Rio Iguaçu. E quase fica com todas as demais usinas naquele rio, pois o governo pefelista do Paraná, no mandato de Jaime Lerner, estava entregando a Copel inteira aos mesmos felizardos. O negócio só não se concretizou por que o PT do Paraná comprou a briga e começou a criar comitês de defesa da Copel pelo estado inteiro, dezenas deles só na capital. Mais ainda, prometia uma campanha pública para boicote das faturas, assim que a Tractebel assumisse a companhia. Diante do imprevisível, e mediante o impacto do ataque às Torres Gêmeas, os belgas se encagassaram e desistiram da compra. Hoje, a Copel é seguramente uma das melhores companhias de energia do mundo, como era a Eletrosul Geração e talvez seja a Tractebel. 


Conheci Allan quando trabalhei no projeto da Eletrobrás para dar confiabilidade aos controles financeiros das empresas do Grupo. O plano era detectar os pontos falhos, propor melhorias e implementá-las. Claro que o projeto foi boicotado por todos os lados, inclusive por quem deveria zelar pela sua implantação. Alguns gestores, mais sinceros, simplesmente se negavam a assinar o relatório de Falhas, quanto mais a aceitar sugestões de melhorias. Outros, mais espertos, simulavam interesse a participavam ativamente da fase de estudos, sabendo que nunca implementariam os planos. Nenhuma autoridade os obrigava a tanto, visto que eram nomeados por políticos que continuam mandando no sistema, todos da mesma farinha com que são feitos os Sarneys. Gastou-se uma fortuna incalculável em consultoria internacional e despesas com mão de obra interna, hospedagem e deslocamento de pessoas, mas, o projeto nunca foi concluído. Não sei o que fizeram com a papelada, mas, é possível imaginar. Na iniciativa privada, gestores como aqueles teriam sido demitidos. Abrigados nas estruturas federais, nada acontece com eles, ao contrário, alguns são guindados para posições ainda mais importantes. É o jeitinho do estado brasileiro fazer negócios. Isso explica por que o projeto de privatização foi tão apoiado pela nossa população. 
Todas essas energias negativas do setor elétrico não abalaram minha amizade com Allan. Também não fazem a menor diferença aqui em Suahssuy, casa ampla, com piscina e muita sombra, em meio ao coqueiral infinito.     





2 comentários:

  1. Grande Allan, um dos poucos do projeto SOX de 2005 que ainda mantenho contato por e-mail. Linda casa, também quero ter o privilégio do Laercio de conhecê-la.

    Laércio, quando você pretende publicar os seus principais diários de viagens? Já deve compor uns três livros ou mais.

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  2. Lalá,
    minha sugestão é dar um pulo no litoral norte de Alagoas. É extraordinário. Estive na Praia do Toque, em São José dos Milagres. Um deslumbre. Fiquei numa pousadinha no meio do povoado. Peguei tempos de lua cheia. À noite, a maré recua uns 200 metros, 300 metros (ou até mais, segundo os moradores). É daqueles lugares que a gente fica sonhando voltar algum dia...

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