Montevideo, uma cidade antiga, linda, encantadora e ao mesmo tempo moderna. |
Descobri que hostais podem ser hospedagens alegres, confortáveis e a baixo custo. Quem precisa de portarias luxuosas, elevadores, carregadores de malas, e cafés da manhã engordurantes? |
O Uruguai falido que preponderou nos últimos quarenta anos
já não é o mesmo. Percebe-se claramente que ele está voltando a ser um país de
classe média, como foi nos tempos de 1950, quando era conhecido como "a
Suiça latino americana". O presidente José Mujica, um ex
guerrilheiro de extrema esquerda, (como Dilma Roussef), lidera uma coalizão das
forças políticas que desistiram de fazer a revolução proletária, eleita com um
programa ideológico muito bem alinhado com a nova direita internacional,
(ao contrário de Dilma), ou seja: desregulação financeira; desnacionalização da
produção e da comercialização dos itens tradicionais (carne, arroz, trigo,
lácteos), concentração da terra, multiplicação do regime de zonas
francas; isenções tributárias às multinacionais do agro negócio, de
pasta-celulose e mineradoras, privatizações, terceirizações, projetos em
participação público-privada, e tudo o mais que deixa de cabelo em pé seus
antigos camaradas Tupamaros.
Que bairro de que cidade pode apresentar uma feira de livros de rua dominical? |
Salve, Montevideo, minha ilha caribenha! |
Por outro lado, não há criança uruguaia
fora da escola e os estudantes de todas as escolas públicas estão, cada um,
munidos de notebooks e tablets. Com o apoio do FMI e do Banco Mundial, que, junto com
parcerias público privadas financiam as obras de infra estrutura, o país pisa
fundo nas reformas sociais, executando políticas de caráter "compensatório". As
"reformas estruturais" que antes a esquerda propunha (reforma
agrária, nacionalização dos bancos e do comércio exterior, reforma urbana, não
pagamento da dívida externa, rompimento com o FMI, etc) se empoeiram em algum
baú de memórias da revolução que não veio. Aos velhos revolucionários não resta
muito, senão manifestações de rua ou em sindicatos de trabalhadores públicos,
de onde reclamam da nova ordem e relembram seus tempos de combate a ditadura.
Mesmo neste campo restrito, o governo continua dando de goleada (novamente ao
contrário do brasileiro), pois a Lei de Anistia foi revogada, centenas de
torturadores estão sendo processados e vários generais criminosos foram
condenados a décadas de prisão, e, efetivamente, estão encarcerados pra valer,
não "de mentirinha", como no Chile, ou dando palpites na política e
na economia, como no Brasil.
Até a velha elite conservadora, que deu suporte ao golpe e apoiou os militares ao longo de todo o processo ditatorial, já se convenceu que só tem a ganhar com os novos tempos. Por isso, a oposição é tênue e quase inexistente. Não por que o governo a tenha comprado, como faz o governo brasileiro, mas, apenas por questões práticas. "Por que vou combater o que só me faz bem?" Para o economista Luis Bértola, doutor em História Econômica da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, e aderente da Frente Ampla, "O governo Mujica será lembrado por não ter concretizado os desastres que os Tupamaros propunham há quatro décadas". A renda per cápita uruguaia quase dobrou em dez anos e já é a terceira da América do Sul, com 16 mil dólares, à frente do Brasil com seus menos de 12 mil dólares anuais. No índice de desenvolvimento humano (IDH), o país também está 30 posições à frente do Brasil no ranking mundial.
Apesar disso, não há dúvidas de que o Uruguai ainda é um país
limitado, que não chega perto do potencial econômico brasileiro, com nosso
mercado interno de 200 milhões de potenciais consumidores e nosso gigantismo
econômico. Até por isso, você parece estar sozinho na estrada quando trafega
pelas excelentes estradas uruguaias, pagando para isso um pedágio decente de 5
reais a cada cem quilômetros, e não dez ou doze reais por estradas horríveis,
como no vizinho Rio Grande do Sul. A solidão perceptível nas estradas é a prova
de que a infra estrutura foi super dimensionada e aquele pequeno enclave agora
democrático, esprimido entre os gigantes Brasil e Argentina, só pode ter um
futuro brilhante de crescimento e distribuição da riqueza. Que assim seja!
Já houve quem propusesse o José Mujica para Prêmio Nobel. Pois, eu o
proponho para presidente do Brasil! Podem até escolher o caudilho Lula de
vice na chapa.
La Cumparsita, o primeiros tango a fazer sucesso
em escala mundial, é uruguaio.
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