terça-feira, 3 de setembro de 2013

Em busca do Tango perdido - URUGUAI, uma estratégia para vencer a pobreza


Montevideo, uma cidade antiga, linda, encantadora e ao mesmo tempo moderna.


A percepção que sempre tive de Montevideo era de uma cidade de velhos. Não apenas por que o Uruguai está em nosso subconsciente como um país destruído pelo terrível período das ditaduras militares do cone sul, que provocou a evasão de toda uma geração, a imediatamente abaixo da minha, mas também pela quantidade de jovens uruguaios que eu percebia ao meu redor, vivendo no Brasil, a maioria de bicos e de atividades nem sempre legais, sob todos os pontos de vista! Era uma das poucas grande cidades que eu ainda desconhecia na América do Sul e confesso que minha impressão sobre ela, além de ser uma cidade de velhos, era também de ser uma cidade velha e decadente. Até que tive a oportunidade de hospedar-me no Hostal El (verdadero) Esplêndido,  defronte ao monumental Teatro Solis e a uma quadra da Praça Independência, o Palácio Presidencial e o antigo prédio da sede do governo colonial, junto a vários hoteiszões cinco estrelas, um dos quais justamente o tal Esplêndido, a quem o Hostal presta uma luxuriante "homenagem", com seu jeito descolado e jovem, instalado num prédio sem elevadores para atender aos tres pisos, construído em 1903 e ladeado de pubs irlandeses, bares e restaurante, todos frequentados pela mais absoluta e linda juventude uruguaia e latino americana. Tudo o que vi na cidade mudaram completamente meu equivocado pré julgamento.



Descobri que hostais podem ser hospedagens alegres, confortáveis e a baixo custo. Quem precisa de portarias luxuosas, elevadores, carregadores de malas, 
e cafés da manhã engordurantes?



O Uruguai falido que preponderou nos últimos quarenta anos já não é o mesmo. Percebe-se claramente que ele está voltando a ser um país de classe média, como foi nos tempos de 1950, quando era conhecido como "a Suiça latino americana".  O presidente José Mujica, um ex guerrilheiro de extrema esquerda, (como Dilma Roussef), lidera uma coalizão das forças políticas que desistiram de fazer a revolução proletária, eleita com um programa ideológico muito bem alinhado com a nova direita internacional,  (ao contrário de Dilma),  ou seja: desregulação financeira; desnacionalização da produção e da comercialização dos itens tradicionais (carne, arroz, trigo, lácteos),  concentração da terra, multiplicação do regime de zonas francas; isenções tributárias às multinacionais do agro negócio, de pasta-celulose e mineradoras,  privatizações, terceirizações, projetos em participação público-privada, e tudo o mais que deixa de cabelo em pé seus antigos camaradas Tupamaros. 


Que bairro de que cidade pode apresentar uma feira de livros de rua dominical?

Salve, Montevideo, minha ilha caribenha!







































Por outro lado, não há criança uruguaia fora da escola e os estudantes de todas as escolas públicas estão, cada um, munidos de notebooks e tablets.  Com o apoio do FMI e do Banco Mundial, que, junto com parcerias público privadas financiam as obras de infra estrutura, o país pisa fundo nas reformas sociais, executando políticas de caráter "compensatório".  As "reformas estruturais" que antes a esquerda propunha (reforma agrária, nacionalização dos bancos e do comércio exterior, reforma urbana, não pagamento da dívida externa, rompimento com o FMI, etc) se empoeiram em algum baú de memórias da revolução que não veio. Aos velhos revolucionários não resta muito, senão manifestações de rua ou em sindicatos de trabalhadores públicos, de onde reclamam da nova ordem e relembram seus tempos de combate a ditadura. Mesmo neste campo restrito, o governo continua dando de goleada (novamente ao contrário do brasileiro), pois a Lei de Anistia foi revogada, centenas de torturadores estão sendo processados e vários generais criminosos foram condenados a décadas de prisão, e, efetivamente, estão encarcerados pra valer, não "de mentirinha", como no Chile, ou dando palpites na política e na economia, como no Brasil. 

                                                
Até a velha elite conservadora, que deu suporte ao golpe e apoiou os militares ao longo de todo o processo ditatorial, já se convenceu que só tem a ganhar com os novos tempos. Por isso, a oposição é tênue e quase inexistente. Não por que o governo a tenha comprado, como faz o governo brasileiro, mas, apenas por questões práticas. "Por que vou combater o que só me faz bem?"  Para o economista Luis Bértola, doutor em História Econômica da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, e aderente da Frente Ampla, "O governo Mujica será lembrado por não ter concretizado os desastres que os Tupamaros propunham há quatro décadas".  A renda per cápita uruguaia quase dobrou em dez anos e já é a terceira da América do Sul, com 16 mil dólares, à frente do Brasil com seus menos de 12 mil dólares anuais. No índice de desenvolvimento humano (IDH), o país também está 30 posições à frente do Brasil no ranking mundial.  





Apesar disso, não há dúvidas de que o Uruguai ainda é um país limitado, que não chega perto do potencial econômico brasileiro, com nosso mercado interno de 200 milhões de potenciais consumidores e nosso gigantismo econômico. Até por isso, você parece estar sozinho na estrada quando trafega pelas excelentes estradas uruguaias, pagando para isso um pedágio decente de 5 reais a cada cem quilômetros, e não dez ou doze reais por estradas horríveis, como no vizinho Rio Grande do Sul. A solidão perceptível nas estradas é a prova de que a infra estrutura foi super dimensionada e aquele pequeno enclave agora democrático, esprimido entre os gigantes Brasil e Argentina, só pode ter um futuro brilhante de crescimento e distribuição da riqueza. Que assim seja!  Já houve quem propusesse o José Mujica para Prêmio Nobel. Pois, eu o proponho para presidente do Brasil!  Podem até escolher o caudilho Lula de vice na chapa. 










La Cumparsita, o primeiros tango a fazer sucesso 
em escala mundial, é uruguaio.

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