Meu pai, 96, com um de seus bisnetos, Paulinho, 7 anos. |
Eu sou confuso desde criancinha. Desde cedo revoltei-me contra as condições em que fui gerado e criado, e isso já faz parte do meu histórico karmático, desde muitas encarnações passadas. Meu espírito tem sido por natureza rebelde e principalmente teimoso, além de quase sempre equivocado. Deus colocou-me numa família completamente desarmonizada, um casal formado à moda antiga, vamos ser claros: um casamento arranjado. "O meu pai foi peão, minha mãe, solidão." como diz a canção que tanto me marcou na primeira juventude. Não sei por que, mas, diante da tristeza imensa que era a relação familiar em que eu fui inserido, eu desenvolvi uma alegria alegórica a partir dos meus 15 anos de idade, quando comecei a trabalhar, primeiro em escritórios de contabilidade na função de office boy, depois, numa emissora de rádio, onde realmente me tornei homem, até por conta da minha iniciação sexual com uma das periguetes que iam lá paquerar os locutores.
No próximo capítulo da novela, vamos encontrar já as desventuras na minha idade adulta. Prometi a mim mesmo várias coisas enquanto me (de)formava no ambiente de tristeza e agonia em que fui criado. Uma das promessas que fiz foi jamais fazer qualquer serviço de "marido", do tipo consertar coisas ou fazer pequenas manutenções em casa, além de não corresponder a nenhum padrão do sonho burguês de vencer na vida e constituir família. Claro está que nunca arranjei bons casamentos, pois sempre fazia as piores escolhas e, além disso, tornei-me um inútil do ponto de vista prático no lar, para desespero das infelizes namoradas. Daí para cumprir a promessa de nunca mais me casar foi apenas um passo. Com uma programação mental desse porte, os relacionamentos estavam destinados a seu triste e esperado fim.
Ainda assim, sonhei minha vida inteira ao lado de uma mulher amiga, criança, madura, prática, sonhadora, sensível e agressiva ao mesmo tempo, chorona e entusiasta, coração, corpo, sexo e alma. Eu sempre desejei seu toque, sua intimidade inteira, expressiva e sem travas. Mesmo agora, depois de tantas décadas, continuo querendo ainda essa mulher que vislumbra sonhos de envelhecer juntos, como na canção cubana que diz "a tudo digo que sim, a nada dizes que não, para poder construir esta tremenda HARMONIA, que tornam velhos os corações".
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