quinta-feira, 5 de junho de 2014

Revolução dos Cravos


As muralhas e os jardins de Braga servem de cenário ao poeta da revolução necessária 

Em 1974, Portugal vivia sua fase obscurantista, iniciada ainda em 1926, com um golpe de estado patrocinado pelos comandos militares de então. O controle do poder acabou nas mãos de um extremamente conservador militante religioso e economista, chamado Antonio de Oliveira Salazar, um catedrático da Universidade de Coimbra, o qual tornou-se o mais famoso nome e símbolo da ditadura portuguesa, vindo a ser admirado pelos fascistas do mundo inteiro, inclusive pelos brasileiros, que nele se inspirariam para implantar aqui um regime de igual teor, inspirando igual temor, o auto denominado Estado Novo.

De "novo", o estado não tinha nada. As soluções propostas por Salazar eram as de sempre: diminuição drástica de gastos públicos, proibição da circulação e debates de idéias, acompanhadas de repressão brutal, que mantinha as cadeias lotadas de prisioneiros políticos, submetidos à toda sorte de torturas físicas e morais. Nós brasileiros mais idosos conhecemos bem essa realidade, pois, depois do nosso próprio Estado Novo, apenas decorridas duas décadas e já experimentaríamos novamente mais um período de ditadura inspirada no fascismo. Entretanto, para os que não sabem o que foi aquele período, ou queiram ter uma idéia de como é irrespirável o ar que paira sobre uma ditadura, recomendo o belíssimo filme alemão "Trem Noturno para Lisboa", que recém passou em rede comercial e deve existir ainda em locadoras no país.    

Formalmente, Portugal também tinha partidos políticos em funcionamento supostamente normal, inclusive elegendo o presidente da república, o que passou a ser feito indiretamente pelos parlamentares, sob estrito controle ditatorial, ante o remoto risco de alguém da oposição vencer o pleito. Mas, quem mandava mesmo era o Presidente do Conselho de Ministros, ou seja, Salazar. O ditador teve trágico destino:  em 1968, no apogeu do poder absoluto, sofreu um derrame cerebral. Ficou ainda dois anos em estado vegetativo, até que veio a falecer em 1970. Em seu lugar, assumiu Marcello Caetano, um fantoche do regime, pau mandado da aliança conservadora entre o catolicismo mais arcaico e as lideranças políticas regionais mais atrasadas e autoritárias. Como todo bom demagogo, Caetano começou seu mandato com um novo apelo à esperança da sociedade portuguesa em dias melhores. Qual o quê? O próprio lema de seu governo evidenciava a farsa: "Renovação na continuidade", rsrsrs. A polícia política e a exploração da nação por uma elite sanguinária continuaria a ser o mote central do governo. 

   

Por baixo dos cenários oficiais, nos meandros da guerra colonial movida contra os africanos, germinava entre os militares mais novos um sonho impossível: a derrubada da ditadura. Aos poucos foi se estabelecendo uma tênua rede de relacionamentos entre militares, intelectuais e a juventude civil, resultando numa aliança clandestina que se manifestaria de forma inesperada. Tão inesperada que, na noite de 24 de abril de 1974, Marcello Caetano ocupava sorridentemente sua cadeira especial no estádio da Luz, para assistir uma importante partida de futebol. Mal voltou ao palácio, pouco depois da meia noite, e foi surpreendido pelo anúncio da revolta, cujo sinal combinado secretamente era o entoar da canção Grândola, Vila Morena, por uma emissora de rádio de Lisboa. 


Estava finalmente concluída uma das etapas mais tristes da história da grande nação portuguesa. Naquele 25 de abril de 1974, começava uma nova era, a Revolução dos Cravos.


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