sábado, 17 de janeiro de 2015

Quando eu chegar a sessenta e quatro





Com Janaína no trem de Morretes (1985).
Ela queria correr pelos corredores do vagão, o que era perigoso,
 por isso a retive nos meus braços e ela se apresenta inconformada, kkk"



Quando eu ficar mais velho, perdendo meus cabelos
Daqui a muitos anos ...
Você ainda irá me mandar presentes no dia dos namorados?
Cartão de parabéns no dia do aniversário?  Garrafas de vinho?
Se eu ficar fora de casa até quinze pras três
Você irá trancar a porta?
Você ainda vai precisar de mim?  Vai me alimentar?
Quando eu chegar a sessenta e quatro?

Você estará mais velha também
E se você disser que sim
Eu poderia ficar com você.

Prometo que serei útil, consertando um fusível,
Quando suas luzes se apagarem sem aviso.
Você poderia me tricotar uma blusa para o frio
E nas manhãs de domingo poderíamos fazer um passeio.
Cuidaremos do jardim, arrancaremos as ervas daninhas.
O que mais eu poderia querer?
Você ainda vai precisar de mim?  Vai me alimentar?
Quando eu chegar a sessenta e quatro?

Num inverno no sul, poderíamos alugar uma cabana
No meio da Amazônia.
Iremos apertar os cintos e economizar
Netos sentados nos nossos colos
Vera, Pedrinho e Davi.

Publique uma linda foto no meu facebook, 
mande-me um e-mail
Informando o seu ponto de vista
Indique precisamente o que quer dizer
Não se esqueça de um  "atenciosamente" supérfluo
Me dê uma resposta, preencha no roda-pé:
"Meu para todo o sempre"
Você ainda vai precisar de mim?  
Vai me alimentar?

Quando eu chegar a sessenta e quatro?





"When I'm Sixty-Four" foi uma canção emblemática da década de 60, das muitas compostas por Paul McCartney nos primeiros anos dos Beatles, quando ainda tocavam no lendário Cavern Club de Liverpool, antes de seguirem para Londres.  Ficou assim, tipo reserva de alternativa para lado B, enquanto os Beatles gravavam coisas quentes como "She Loves You" , "Twist and Shout" e outros típicos rock-and-rolls do início da carreira de sucessos estrondosos. 

A canção foi finalmente gravada em dezembro de 1966, quando se iniciava a produção daquele que seria o mais significativo e revolucionário álbum dos Beatles, o "Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band".  O disco tinha coisas absolutamente geniais, saídas da mente brilhante de George Martin, o mago de estúdio das gravações dos Beatles. Trazia no repertório a joyciana e sinfônica "A day in the life", assim como a psicodélica "Lucy in the ski with diamonds". E não custava nada colocar no meio daquelas coisas bizarras uma doce balada suavemente embalada por um trio de clarinetes, tocando à moda antiga uma canção sobre a velhice, naquele que seria o álbum sonhado por George Martin para acabar de vez com a polêmica sobre qual seria a melhor e mais completa banda de música jovem do mundo... E assim foi. Sucesso imediato de crítica e público, Sargent Pepper's foi certamente o disco que mudou a história da música popular no planeta. Provocou tanta reação que os californianos rebeldes ensaiavam uma resposta. A banda The Beach Boys tinha mercado cativo na América branca, e seu marketing apregoava que eles tocavam o verdadeiro rock and roll e eram melhores que aqueles ingleses certinhos e chatos. 

A competição entre as duas bandas era incentivada pela indústria fonográfica, pois assim ambas vendiam mais discos. Na canção mostrada abaixo, por exemplo, os Beatles tiram um sarro do estilo surf-music norte americano. Segundo conta a lenda, McCartney sempre ouvia americanos que viajavam reclamarem da saudade do fast-food, dos donuts e da lavanderia automática, coisas típicas dos Estados Unidos. Ele resolveu então narrar o inverso: um russo saindo de Miami e voltando para sua pátria, a União Soviética. Percebeu que a sigla em inglês da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que era USSR, continha a sigla dos Estados Unidos da América, US, e aproveitou-se disso para fazer uma paródia da canção "Back in the U.S.A." grande sucesso dos Beach Boys. Em um ponto de sua canção os Beatles cantam: "Back in the US, back in the US, back in the USSR" para deixar clara a brincadeira.






Quando os americanos do Beach Boys se juntaram em estúdio para dar a resposta esperada, o lider e mentor da banda, Brian Wilson, literalmente pirou. Saiu do ar direto para uma clínica de internamento psiquiátrico e os Beatles ficaram sozinhos na parada. Permaneceram juntos mais dois ou tres anos, até que a banda acabou. A partir de 1970 outras bandas assumiram a ponta da tabela, mas, o público do rock já era outro não estavam tão interessados em saber se os Stones eram melhor que o Led Zeppelin, ou o contrário.  


Há quem diga que nunca mais se vai produzir algo como o Sargent Pepper's. 
Talvez por que falte hoje as motivações daqueles anos loucos ...


Ficar velho é uma coisa complexa. Eu diria mais, é uma coisa perplexa! Ninguém quer morrer jovem, mas, todos temem a velhice. Algumas vezes a tentamos disfarçar, como a velha senhora que passa pela sétima cirurgia plástica, sempre em busca da eterna aparência jovem. Ou do cavalheiro de meia idade que compra uma perua 3.0 importada do Japão, tração nas quatro rodas e ele só anda no asfalto da cidade, de balada em balada que o faça esquecer que a sua própria potência já não é compatível com a máquina que conduz.  Não há milagre que funcione quando o relógio marca a inexorável passagem do tempo, apesar da ilusão coletiva afirmar várias artimanhas para disfarçar a realidade, desde a risível ameaça de que a "terceira idade" é a "melhor idade", até a filosófica frase "a vida começa aos quarenta", com que costumamos consolar aqueles que entram nas idades dos "entas" e delas provavelmente nunca sairão, a menos que o indivíduo complete um século de vida, coisa muito rara

Por outro lado, há certos benefícios em envelhecer, segundo observou um estudo científico realizado com um grupo de idosos saudáveis acima de 66 anos de idade. Por mais incrível que pareça, vamos listar cinco destas supostas vantagens:

1 - Você ficará acordado mais tempo. Seja o que for que isso signifique, o fato é que pessoas idosas dormem menos e, portanto, teriam mais tempo para "aproveitar" a vida.

2 - Foco na felicidade. Cérebros de idosos parecem selecionar as melhores lembranças, aquelas mais felizes do passado, dando a impressão de que suas vidas foram sempre muito gratificantes.

3 - Sabedoria. Pessoas idosas costumam tomar melhores decisões, por que a vida lhes ensinou a considerarem e conectarem várias informações entre si, mesmo as irrelevantes, formando um contexto mais abrangente. 

4 - Vida sexual gratificante e variada, sem preocupações com gravidez, falta de ereção, ejaculação precoce, essas coisas que costumam atormentar a vida sexual dos menos experientes. O sexo oral envelhece menos ainda! 60% dos participantes da pesquisa afirmaram terem praticado essa variedade nos últimos doze meses.

5 - Ter crianças por perto sem as inconveniente fraldas, birras, febres e infecções de ouvido. São os netos que chegam. E se vão, graças a deus!


Dos integrantes dos Beatles que gravaram "Quando eu chegar a 64" naquele distante dezembro de 1966, dois não chegaram. Lennon e Harrison, um assassinado e outro vítima de câncer. 

Felizmente chegaram o autor da canção, McCartney e o baterista Ringo Starr. 

E eu, ora bolas. 



  



































6 comentários:

  1. Linda cronica!
    Me deliciei, ri e "quase" tive vontade de chorar....
    Ah, o tempo... Realmente ficar velho é muito complexo...
    Abraço,
    Graci

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  2. No início da tradução da letra da canção dos Beatles; vai lá e escreve com "s" a palavra concertando.
    "Prometo que serei útil, (eu tb. rrsss) consertando um fuzível.
    E no final, tira a crase em "...graças a deus.

    Janete Gheller - Florianópolis - SC

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    1. Pois é, Janete.
      Posso ser bom em conteúdo, mas, em gramática nota zero.
      Agradeço de coração sua ajuda.

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  3. Grande LAE! Não és tão nulo assim em gramática. Escreveste "fusível" corretamente... com "S". hehehe...
    Boa crônica!

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  4. Tás vendo? De vez em quando, acerto. kkk. Obrigado, amigo, pelo comentário.

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  5. Muito legal essa pai, essa cançao é muito bonitinha

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