segunda-feira, 10 de agosto de 2015

ELOMAR




Meu segundo contato com o ídolo não foi muito alentador. Ele estava saindo de uma agência do Banco do Brasil no centro de Vitória da Conquista (BA). Pensei comigo:

--- Então ele não é esse místico perdido nas águas do rio Gavião!

Não era.

Conversando com as pessoas da cidade, cheguei a conclusão que ELOMAR é um cidadão comum, só que de uma raridade inestimável. Poderia ser um arquiteto endinheirado, mas, enquanto cursava o aprendizado para ser planejador do conforto da elite bahiana, este conterrâneo de Glauber Rocha, tão protestante anti católico religiosos quanto a estranha maioria de sua cidade, dedicou-se a expressar o som de sua origem. No início dos anos setenta, Elomar já era figurinha carimbada no meio cultural de Salvador.

O primeiro contato foi em 1973, com a audiência do seu fantástico álbum "Na quadrada das águas perdidas". Em 1976, por aí, nossa relação se aprofundou, quando ele já era famoso e foi fazer um show no teatro Guaira, em Curitiba.  Nós, estudantes do centro de ciências sociais da Universidade Federal do Paraná, fomos ao seu hotel, convidá-lo para uma conversa com os estudantes e sua possível participação nas manifestações de primeiro de maio, que naquele ano nós estávamos corajosamente empreendendo na cidade industrial de Curitiba, apesar dos sindicatos pelegos que iriam participar das festividades oficiais do estado, realizadas no campo de futebol do então Clube Atlético Ferroviário, atual Paraná Clube. Nós fomos à manifestação, onde 50 gatos pingados ocupavam a praça vazia. Todos ficaram em suas casas descansando, ou foram para a festa da pelegada. Afinal, o que temíamos não aconteceu. Não apareceu polícia nenhuma, a não ser alguns agentes disfarçados do SNI, DOPS e DOI-CODI, a gravarem os nossos discursos insensatos. 

Elomar nos atendeu com muita educação naquela véspera, mas, foi duro na resposta: "Meus amigos, vocês querem jogar fogo no dragão. Só que o dragão quer mesmo é mais fogo. Por isso, não contem comigo para essa manifestação. Vocês não sabem ainda, mas, o meu mundo é outro!"

Agora, eu acho que sei ... 

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