Propaganda do candidato Mauricio Macri comemora adesão do terceiro colocado no primeiro turno. |
MEMÓRIA HIPPIE
João Santana é atualmente o marqueteiro político mais bem sucedido do Brasil, embora viva praticamente clandestino com a mulher num amplo apartamento de classe A, situado na região dos Jardins, próximo a Avenida Paulista, em São Paulo. Já ganhou oito eleições presidenciais pelo mundo, incluindo as três últimas realizadas no Brasil. Até a passagem do milênio, era apenas mais um poeta e músico baiano, meio hippie, meio maluco, ligado com o movimento de contra cultura em Salvador. Fez parte do antológico grupo Bendegó e participou da gravação da canção "Canto do Povo de um Lugar", no álbum "Jóia", de Caetano Veloso, em 1975. Cansou, como ele mesmo diz. Pra gente ver como o mundo dá voltas... e perdemos um promissor artista da "Era de Aquarius".
João Santana é atualmente o marqueteiro político mais bem sucedido do Brasil, embora viva praticamente clandestino com a mulher num amplo apartamento de classe A, situado na região dos Jardins, próximo a Avenida Paulista, em São Paulo. Já ganhou oito eleições presidenciais pelo mundo, incluindo as três últimas realizadas no Brasil. Até a passagem do milênio, era apenas mais um poeta e músico baiano, meio hippie, meio maluco, ligado com o movimento de contra cultura em Salvador. Fez parte do antológico grupo Bendegó e participou da gravação da canção "Canto do Povo de um Lugar", no álbum "Jóia", de Caetano Veloso, em 1975. Cansou, como ele mesmo diz. Pra gente ver como o mundo dá voltas... e perdemos um promissor artista da "Era de Aquarius".
Jóia, "Canto do povo de um lugar",
1975, Grupo Bendegó e Caetano Veloso
Com o codinome Patinhas,
João Santana é co-autor desta canção
aqui interpretada pela bahiana Diana Pequeno
João Santana entrou pra valer no mundo do consumo, inicialmente como
publicitário comum, em seguida, vendo o sucesso de outros colegas como Nizan
Guanaes e Duda Mendonça, enveredou pelo campo do marketing político. Depois de descansar do sufoco
que foi a reeleição de Dilma, deu uma longa entrevista para o livro lançado no
início deste ano , denominado “João
Santana, um marqueteiro no poder”. Nesta obra, ele fornece
gratuitamente dicas para quem quer se aventurar no universo do
marketing eleitoral. “Perde quem não sabe atacar”, é sua primeira recomendação,
ao considerar a campanha do candidato Aécio Neves, seu concorrente em 2014,
como uma das “mais medíocres já feitas no Brasil”.
Um ponto
importante do livro é como explica o que chamou de “Operação Marina”. Lembra
que “ela corria leve e solta,
inatingível”. De fato, depois que Marina assumiu a cabeça de chapa após o
acidente aéreo do titular Eduardo Campos, disparou nas pesquisas, em parte
graças a sua pregação que misturava desenvolvimento ecologicamente sustentável
e reformas na economia, além de um passado pessoal impecável. João
Santana conta que chamou Lula, Dilma e o coordenador Aloísio Mercadante e
explicou-lhes a necessidade de “antecipar o segundo turno” e partir com tudo
pra cima de Marina. Obteve carta branca da cúpula petista. Dias depois, a
campanha de Dilma começou a fazer sinistras profecias, caso Marina vencesse. A
primeira praga era que iria faltar comida na mesa dos pobres. Em seguida, que o
futuro ministro da economia de Marina era da turma neo liberal e faria a
economia voltar a um tempo de “miséria”, e, finalmente, que o governo de Marina
retiraria todas as “conquistas” dos trabalhadores. Nas mídias sociais e no boca
a boca da Militância, carimbava Marina de “traidora”, por que havia abandonado
o PT. O efeito foi devastador e Marina despencou, ficando fora do segundo
turno.
João Santana refuta todas as acusações de que teria passado do ponto. “Se houve exagero, foi de qualidade fílmica e criativa”, reage às
críticas de que teria sido anti ético, já aproveitando para um auto elogio,
como costuma fazer ao avaliar o próprio trabalho. Tampouco entra no mérito do
conteúdo de suas denúncias, preocupado que está apenas com a questão da técnica: "Por que não responderam à altura, não provaram que era mentira?". A
questão ética também parece não ser problema para alguns colegas de profissão
do marqueteiro, ouvidos pela reportagem no lançamento do livro: “É um exuberante exemplo de pensamento estratégico bem
definido", comenta um deles, enquanto parece tornar-se consenso que "daqui pra frente é preciso saber mais atacar do que defender,
mesmo sendo governo".
DESAFIO E DERROTA NA ARGENTINA
É nessa
mudança de paradigma que João Santana confiou até aqui. Porém, foi derrotado em seu último e mais
importante desafio. Levar o candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli, à
vitória na Argentina. A meta de vencer a eleição já no primeiro turno falhou,
complementando o fracasso de uma jogada de risco empreendida por João Santana,
qual seja, colocar Lula como protagonista da eleição, aproveitando-se
de sua proximidade com os Kirchner e os bolivarianos. Lula entrou firme na
campanha da televisão e nos palanques. Cristina chegou a insinuar que, com o
apoio de Lula e tendo Scioli no poder, a Argentina passará a integrar o
grupo dos BRICS, que então se chamará BRICSA. É preciso reconhecer que
eles não pensam pequeno! Lula, por seu lado, assumiu completamente a defesa do continuísmo,
dizendo que os Kirchner mudaram a história da Argentina e, caso Scioli perdesse para o candidato da oposição, o país iria retroceder e os trabalhadores perderiam as "conquistas sociais" da última década. Com isso, tentava repetir a tática
utilizada no Brasil, o terrorismo eleitoral, aquilo que João Santana chama de
"saber atacar".
Vídeo da campanha de Scioli tenta comparar
o oposicionista Macri com ministro da ditadura militar
"Você se imagina sem teto? Se imagina com fome? Imagina realmente voltar para trás?”, gritavam na televisão os reclames do candidato governista. A campanha tentava chocar também a classe média, ameaçando que a eventual vitória de Maurício Macri no segundo turno, iria desestabilizar a geo política sul americana, o que não aconteceria caso Scioli vencesse, porque ele estaria próximo a Dilma, Lula, Maduro, Evo Morales, enfim, os chamados bolivarianos. Por seu lado, Mauricio Macri apelava para a auto estima dos argentinos, acusando a campanha governista de provocar “uma intromissão estrangeira, absurda e indevida em nossos assuntos internos”, referindo-se à presença de Lula. Pelo sim, pelo não, João Santana retirou o barbudo da campanha no segundo turno. Nos círculos internos, especula-se que Lula mais tirou votos de Scioli do que acrescentou, devido justamente a esse sentimento de intromissão estrangeira. Mas, não adiantou. Nem para o candidato de Cristina, nem para João Santana. O marqueteiro foi dispensado de comandar a reta final da campanha, afinal vencida por Macri.
Mauricio Macri virou nas pesquisas e caminhou em largos passos a caminho da vitória. Sem marqueteiro internacional, diga-se de passagem.
Vídeo da campanha de Dilma.
Qualquer coincidência, não é mera semelhança.
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