sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Floripa velha de guerra



O Palácio Cruz e Souza tornou-se residência oficial do assassino Moreira Cezar


No ano de 1894, a capital de Santa Catarina passou por um banho de sangue, por que ousou apoiar os Maragatos gaúchos, que haviam se revoltado contra o governo tirano de Floriano Peixoto. No dizer do jornalista Duarte Schutel, "encheu-se de presos tudo que se podia servir de prisão". A cadeia propriamente dita, mais a câmara de vereadores, o quartel central da polícia, o teatro Álvaro de Carvalho e a Fortaleza de Anhatomirim. A tortura era utilizada como meio trivial de interrogatório. Os condenados sem sentença nem julgamento foram escolhidos à dedo, para servirem de exemplo de como a República pune com rigor os que se lhe ousam fazer confronto. Muitos inocentes foram fuzilados, degolados ou enforcados, calculando-se entre 185 e 220 os executados na Ilha de Anhatomirim. Pais eram obrigados a assistir o fuzilamento dos filhos, outros tinham que enterrar em covas rasas seus parentes e conhecidos, antes de eles próprios serem mortos. 

Para coroar o escárnio, o governador Hercílio Luz, que perdera vários parentes e amigos entre os executados, decretou a mudança do nome da capital do estado, de Nossa Senhora do Desterro para FLORIANÓPOLIS, uma homenagem ao "marechal de ferro" Floriano Peixoto.  Como se vê, o atual Raimundo Colombo não está inovando, ao puxar o saco dos chefões federais do PT. 

Quis o destino que o coronel Moreira César, autor da carnificina, tivesse pouco tempo a celebrar seu feito nas rodas do Rio de Janeiro. Enviado dois anos depois a combater os revoltosos de Canudos, foi morto por uma bala certeira cabocla, durante a segunda tentativa do exército em tomar o baluarte de Antonio Conselheiro, no sertão da Bahia. 

Florianópolis continua tendo o nome oficial de seu algoz, mas, nenhum logradouro na capital ostenta este nome sangrento, nenhuma praça, nenhuma rua ou avenida, nenhum prédio sequer. Por outro lado, a cidade está cheia de homenagens às vítimas: Gama D'eça, Pinto da Luz, Caldeira de Andrada, Batovi, etc.  É estranho que o poder político não tenha providenciado a mudança de nome da capital.  Talvez seja a síndrome de Hercílio Luz, ou o medo de não agradar aos poderosos. Apesar disso, o povo se encarregou de mudar na prática e, nas conversas internas, poucos cidadãos se referem à cidade pelo seu nome oficial. Instituiu-se o simpático "Floripa", que acabou sendo "oficializado informalmente" pelo resto do Brasil. 



Eu, o autor dessas mal tecladas linhas, vim parar em Floripa no ano de 1979. Larguei de mão um par de boas propostas para trabalhar em São Paulo. Não me arrependo. Aqui passei os melhores momentos da minha vida. Incríveis manhãs de domingo na praia de Ingleses, da qual voltava em 20 minutos até minha casa no Saco dos Limões, onde preparava o almoço sorvendo uma boa caipira de cachaça artesanal, produzida no Engenho do Joca, Sertão do Peri. As praias do sul da ilha, incluindo as inacessíveis Lagoinha do Leste e Naufragados, exigiam uma visita de dia inteiro. Deslumbrantes almoços tipo festivais artísticos no Bar do Arante, Pântano do Sul, coroavam nossa aventura por este território não imaginado. 




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