domingo, 23 de setembro de 2012

Nos vamos tornando velhos



No filme "Sonhos", de Akira Kurosawa, há uma cena em que um ancião de mais de 100 anos se recorda de como sua amada preferiu outro, ao invés dele, quando ambos eram ainda jovens. Agora, prepara-se para o cerimonial de sepultamento da ex musa e dá risadas do tempo que passou. Não guarda qualquer mágoa, numa prova cabal de que o tempo a tudo cura e reconstitui. Como nos foi contado, no Japão os funerais são festivos, exceto os das crianças. No caso de uma idosa, que viveu longo tempo, todos festejam sua passagem para outra dimensão, visto que os budistas japoneses são crentes na lei do "karma", segundo o qual a roda de reencarnações só terá fim quando o espírito atingir a iluminação, o "satori", estado de santidade que dispensa a volta ao mundo da terceira dimensão. Alguns espíritos iluminados só voltam se quiserem, caso pretendam ajudar a evolução dos outros espíritos ainda em processo de santificação. Acredite quem quiser. Os evangélicos, por exemplo, como a maioria dos meus sobrinhos, acham isso "coisa do demônio", rs rs rs.   



Parece que o amor é algo sempre complicado, em qualquer civilização. Apesar disso, todos querem envelhecer na companhia de um grande amor.  As canções de amor não se cansam de repetir o mantra do amor eterno. Na minha opinião, quem chegou mais perto da explicação espiritualizada de um grande amor foi um cubano,  Pablo Milanez, provavelmente ateu, visto ser comunista de carteirinha, que compôs uma canção chamada "AÑOS".  A própria namorada dele, Yolanda, para quem dedicou outra canção primorosa,  conta que conheceu Pablo quando este tinha 25 anos de idade e era apenas um rapaz cubano, mulato, pobre e triste. Yolanda o abandonou justamente no pior momento, quando o rapaz descobriu um câncer ósseo e teve que se afastar do mundo artístico para se tratar, vindo a perder uma perna e a ficar vários meses entrando e saindo de hospitais. Apesar, disso, nunca deixou de amá-la. 

Pablo construiu sua carreira com várias canções de intensa alegria, mas, foram grandes obras românticas como  "Años" que consolidaram um estilo completamente novo e desconhecido da música cubana, a partir do movimento que se autodenominou "Nova Trova", inspirada nas canções românticas dos negros norte americanos, como o blues do delta do Mississipi. Mais tarde, com sua doença sob controle e uma prótese na perna amputada, Pablo Milanez correu o mundo, física e artisticamente. Nenhum outro músico  cubano foi tão reverenciado no exterior.






O tempo passa e vamos ficando velhos
Eu, o amor já não reflito como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impoe sempre um pedaço de temor



Passam os anos e como muda o que eu sinto
O que ontem era amor vai se tornando outro sentimento
Porque anos atrás, tomar tua mão, roubar-te um beijo
Sem forçar o momento, fazia parte de uma verdade



O tempo passa e vamos ficando velhos
Eu o amor não reflito como ontem 
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de temor



Vamos vivendo, vendo as horas
que vão passando, velhas discussões
Se vão perdendo entre as razões
A tudo diga que sim e a nada digo que não, para construir
Essa tremenda harmonia que põe velhos os corações

Porque o tempo passa e vamos ficando velhos
Eu o amor já não reflito como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe um pedaço de temor



Vamos vivendo,vendo as horas
que vão passando, velhas discussões
Se vão perdendo entre as razões
A tudo diga que sim e a nada digo que não, para construir
Essa tremenda harmonia que põe velhos os corações
O tempo passa e vamos ficando velhos
Eu o amor não reflito como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de razão



Porque O tempo passa e vamos ficando velhos
Eu o amor já não reflito como ontem




2 comentários:

  1. Com o passar dos anos nossas máscaras de sobrevivência vão dando lugar à verdadeira essência, que é simples, leve, amorosa e verdadeira. Nos desnudamos para sermos mais reais e felizes.

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