O autor, depois de cantar na missa.
Mais de uma pessoa com quem falei saiu chorando do filme "O Quarteto", produção inglesa surpreendentemente bem dirigida pelo veterano ator norte americano Dustin Hoffmann (A Primeira Noite de Um Homem, nos longínquos anos sessenta). O filme é basicamente em torno do imenso ego dos artistas. A lição, se há alguma, é "quanto mais brilhante for uma pessoa, mais ego terá". O cenário é um asilo de luxo, no magnífico campo das cercanias de Londres, local maravilhoso que serve de moradia a velhos artistas do mundo musical, onde se destacam quatro excelentes cantores de óperas, dois homens e duas mulheres, sendo que o quarto componente se completa com a chegada da ex esposa de um dos cantores, a qual, a seu tempo, foi a estrela principal da ópera inglesa. Eles nunca mais se falaram, depois que a moça foi pra cama com um tenor italiano, enquanto se apresentava no Teatro Scala de Milano. Aquilo acabou com o casamento e com a energia amorosa que ambos tinham, que foi trocada pelo ódio e amargura infernal que habitava os seus corações, principalmente do homem, que já estava em suposta paz, dando palestras para jovens e vivendo sua velhice de forma serena e digna. A chegada do objeto de seu ódio mudou tudo, até o final surpreendente, em que ambos retomam o amor, por razões que a razão desconhece, como diria Vinícius de Morais.
Essa questão do EGO é recorrente na história da humanidade. Todos os místicos sempre pregaram que era necessário destruí-lo, por que ele significa afastamento da energia divina, que é basicamente doadora e não acumuladora. E não há nada mais acumulador do que uma pessoa centrada no próprio umbigo, concordam?
Pois, de um tempo para cá, o assunto mudou um pouco de foco. Certos movimentos espiritualistas, a partir do indiano Osho, complementado pela ordem mística brasileira chamada Eubiose, passaram a valorizar a expressão pessoal como muito importante no caminho do crescimento. Passamos a entender que sem ego, também não existe alma. E esta é nossa parte realmente imortal, que passa de encarnação em encarnação, em busca da iluminação final, que ponha fim ao ciclo das tentativas de melhoria, ou seja, o acesso ao paraíso. Depois deste evento cósmico de natureza transcedental, ninguém sabe como será nossa vida, aquela futura e eterna vivência dos seres ascensos, os que venceram a morte, à exemplo de Jesus Cristo ou do Gautama Budha.
Pelo que sabemos de relatos psicografados, o céu é um ambiente neutro, onde não existem paixões nem sexo. Os espíritos iluminados são apenas energia e estão a serviço da evolução cósmica e, apenas por isso, se bastam. A imagem que temos do céu é nada agradável, aquele ambiente insípido e inodoro, anjos cantando em nuvens de algodão. Tem uma piada que conta da aventura de um ser que adentrou aos céus e ficou entediado com tanta paz. Reclamando com São Pedro, recebeu autorização para visitar o inferno e avaliar as condições de mudança. Ficou encantado, com tanta mulher gostosa, festa permanente, conforto e bebidas à vontade. Não teve dúvidas em pedir a São Pedro sua transferência irrevogável. Foi recebido por um diabo com cheiro de enxofre, com um ferro na mão a cutucar sua bunda, mandando-o para um trabalho forçado num calor de 40 graus. Quando reclamou ao diabo de plantão, recebeu a seguinte informação: "Ontem, nós estávamos em campanha eleitoral para escolher o diabo presidente. Hoje, tudo voltou ao normal, seu vagabundo, trata de empunhar direito esta picareta".
Uma das coisas mais agradáveis ao ser humano com alguma sensibilidade é a música cantada ou tocada. Saber vibrar um instrumento musical, como as próprias cordas vocais, no caso do canto, é a suprema experiência mística permitida a um cidadão comum. Certa ocasião, tive oportunidade de participar de um concerto multi corais, organizado pela equipe da Catedral Metropolitana de Florianópolis, onde se apresentaram, ouso dizer, os melhores corais católicos da nossa região. Nessa oportunidade, nosso Coro Lírico Catarinense cantou uma obra de 1860, escrita por um grande compositor francês, cujo nome aparece no filme "O Quarteto", ornamentando o aposento da estrela principal, por isso mesmo a minha lembrança e associação entre os dois assuntos. Infelizmente não tenho o vídeo da nossa apresentação, mas, posso garantir que ela não ficou devendo a esta que estou postando.
Então, para encerrar a emoção espiritual completa, vamos ouvir uma obra que causa tremedeira em qualquer coral do mundo, para a qual é necessário ter autorização explícita da divindade ao cantá-la, exatamente pelo que representa na religiosidade cristã do planeta. Nosso amigo do coro, o Esis Rocha, contava que a música ficou no ouvido do compositor por anos, antes que tivesse vindo à tona, quando ele se tornou pastor batista nos Estados Unidos. Ela corresponderia ao soar das lamentações que ecoava dos porões do navio de escravos, que era o seu negócio, até que uma tempestade em pleno Atlântico sul o transformou de escravocrata em abolicionista. É uma linda história de milagres. Mais uma!
Allan Jackson foi um promissor cantor nos anos 80.
Não sei dizer o que foi feito dele.
Caro Laércio:
ResponderExcluirTambém participei do CONESPA com a Associação Coral de Florianópolis onde estou há dois anos e pude assistir a bela apresentação do Coro Lírico Catarinense. Temos em comum o nosso colega Egon Fritzen, baixo extraordinário, o qual empresta seu talento aos dois corais onde cantamos;
Parabéns pelos textos e informações que tenho recebido.
Atenciosamente
Carlos R. Scoz