Pelas margens do Senna, a melhor forma de viver Paris. Andar, andar e andar... |
O tempo que fiquei em Paris desta vez foi absolutamente insuficiente para curtir a cidade do jeito que eu e ela merecíamos. Quatro noites e cinco dias, como costumam apregoar as agências de viagens em grupo. Cidades do porte de Paris, Londres, Madrid, New York, São Paulo, Rio de Janeiro, etc, exigem muito mais tempo. Um mes talvez fosse o ideal, mas, uns quinze dias pelo menos, se considerarmos o custo benefício ideal. Sim, por que são caras. Paris mais ainda! Para se ter uma idéia, um café médio no restaurante do Cristo Redentor no Rio de Janeiro sai por tres euros. No da Torre Eiffell sai o dobro! Numa rua comum, no centro de Paris, a gente não toma um cafezinho preto por menos de quatro euros. Se o cardápio incluir um sanduíche regado a bom vinho (como são todos os daquelas paragens) ou uma gelada à la pression, coloque pelo menos 20 euros na carteira (66 reais). Quer outro exemplo de carestia comparada? Jantar com sobremesa, animado por grupo de fado de primeira qualidade, na casa onde iniciou carreira a dama Amália Rodrigues, tradicional reduto da noite Lisboeta (atenção, não estou falando daquele restaurante da Dilma, heim?) custou-me 150 euros para duas pessoas, com duas garrafas de vinho. Num restaurante equivalente em Paris, sem música ao vivo, não sai por menos de 400 euros, incríveis 1.320,00 reais. Convenhamos: esta Paris é para gente muito endinheirada, não é? Ou então, o turista tem que se virar como eu me virei: carregando o próprio lanche preparado no hotel, e a própria garrafa de vinho adquirida em super mercado, para deliciar-se nos incríveis parques da cidade, entre um passeio e outro... O jantar, para coroar com chave de ouro mais um dia na cidade luz, pode ser feito também no quarto do hotel, o cardápio de primeira servido em quentinhas, devidamente comprado nos Carrefours da vida. Não é tão chique, mas, com um pouco de imaginação... tudo é possível.
Turismo popular. Lanche coletivo no Jardim de Luxembourg. |
Paris sempre foi uma cidadela da liberdade. Quando os negões do jazz eram tratados pior que cachorros em Nova York, foi a parisiense Le Blue Note quem primeiro lhes abriu as portas do sucesso mundial. Retribuíram com seu talento, como nesta canção de 1948, feita pelo branco mais negro dos Estados Unidos, ele próprio um desalojado dentro de seu próprio mundo cultural e artístico, e aqui interpretada à moda branca por uma das maiores cantoras negras da história.
Impressiona quando você anda pela cidade e vê esculturas celebrando feitos militares do ano 840 da era cristã. Impressiona mais ainda quando lhe cai dentro da cachola a informação que a nação francesa foi consolidada por Clovis, o primeiro rei Franco, por volta do ano 500, quando uniu em torno de seu exército todas as tribos bárbaras que habitavam o pedaço. O sacrifício da mocinha de 19 anos, Joana D'Arc, só aconteceria 900 anos depois... Nós, brasileiros, que somos uma nação eminentemente moderna, não temos a menor ideia do que isso significa, em termos de percepção da passagem do tempo e sentimento da verdadeira nacionalidade. Talvez a Itália tenha algo semelhante! Por isso, é natural que os parisienses ainda comemorem a vitória de sua resistência contra a ocupação da cidade pelas tropas de Hitler, afinal, isso foi ainda outro dia qualquer...
Eu não tenho nada contra as viagens feitas de forma organizada, promovidas por agências de turismo. Ao contrário, eu as considero otimizadas e produtivas, onde o viajante gasta todo seu tempo em atividades fins, pelas quais pagou o justo preço da terceirização: você chega no aeroporto e já está lá um ônibus ou van para levá-lo ao hotel, que já está reservado, líquido e certo. Cada passeio já está programado e as datas bem definidas, não lhe cabe qualquer preocupação quanto a isso. Eu já fiz uma viagem assim e me senti muito confortável, tão à vontade que quase não estabeleci contato com os lugares que visitei. Falávamos apenas português dentro do grupo, as senhoras da excursão todo dia ligavam para suas casas no Brasil, ora para perguntar o que o maridão andava fazendo, ora para se informar do estado do animal de estimação, quando não para perguntar ao filhão como é que funcionava aquela encrenca da máquina de fotografar. Isso tira um pouco da graça de viajar por terras estranhas, acredito eu.
Por mais trabalho que dê, eu acho interessante o sentimento de frio na barriga quando você chega num lugar sem reserva em hotel, às vezes até sem a mínima noção de como é que vai chegar ao centro da metrópole, como no caso de Paris, tendo o ilustre e desinformado passageiro desembarcado no desconhecido aeroporto de Orly, pois veio de Lisboa e não do Brasil, cujos vôos desembarcam no Charles de Gaulle, do outro lado da cidade. É bom (e barato) andar de metrô, convivendo com os pobres, muitos deles estrangeiros como você, porém, em pior estado, pois são imigrantes na babilônia mal encarada. Você se sente mais internacional, quando está no segundo andar de um ônibus turístico, ouvindo conversas nas mais distintas e diferentes línguas, algumas das quais você nem consegue identificar, quanto mais entender. Para quem gosta de sofrer a síndrome da estranheza, onde tudo (ou nada) pode acontecer, é ótimo! Só precisa um pouco de sangue frio. E alguma cara de pau!
Manhã chuvosa defronte ao Louvre e sua famosa pirâmide. |
Curtindo a paz dos jardins de Maria Antonieta. |
Impressionado com a grandiosidade dos palácios. |
Viajei...
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