segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Van Gogh




Peter O'toole estrelava o elenco de astros do filme "A Noite dos Generais", obra prima do cinema britânico sobre a segunda guerra mundial,  mas foi o egípcio Omar Shariff que roubou a cena ao interpretar o investigador que descobriu os crimes do general nazista que esteve no comando da ocupação de Paris, durante um certo período na segunda guerra mundial. Esse general tinha sérios problemas psicológicos e costumava levar prostitutas de rua  para hotéis baratos, onde as assassinava. Na mesma linha psicótica, entrava em transe diante de certos quadros do Museu do Louvre. Apesar das forças alemãs terem fechado todos os museus da cidade, ele visitava o depósito onde estavam guardadas as obras de arte, durante as madrugadas, quando podia apreciar à vontade os quadros que escolhia. Uma das cenas mais impressionantes do filme é quando o general confronta seus malucos olhos azuis contra os de Van Gogh, pendurado ali na parede.

No ano 2000 eu fiz um roteiro de trinta dias para seguir os passos de Van Gogh de Amsterdan até o sul da França, culminando com seu túmulo nos arredores de Paris. Nos museus da Holanda estão guardadas a maioria de  suas obras, no entanto, sua história e principais quadros estão na França. Lá visitei as cidades por onde ele passou, cujo epicentro é Arles, onde  dezenas de artistas do mundo todo hoje procuram reproduzir suas obras, aquelas que Van Gogh pintou nos bares e cabarés da cidade ou às margens do Rio Rhone, conforme se pode ver na maravilhosa tela reproduzida abaixo, a qual pintores do mundo inteiro tentam reproduzir, sem sucesso, diga-se de passagem. 

Van Gogh pintou a cidade de Arles com seus próprios olhos malucos e brilhantes
Foi bom para mim observar os jovens pintores nesta impossível tarefa, pois a energia do local fica muito agradável, principalmente se você em seguida vai ao bar que ele pintou na mesma época, e que persiste da mesma forma até hoje, uma relíquia preservada no tempo, graças a gratidão da cidade de Arles com seu mais famoso habitante.

O mesmo bar pintado por Van Gogh em 1888 e hoje. Visita obrigatória a todo turista que não quer apenas tirar fotos.
Dito assim,  parece que a vida de Van Gogh tenha sido uma beleza. Pois, não foi, não!  Morreu aos trinta e sete anos de idade sem nunca ter vendido um só quadro. 

Desde que saiu da roça, na Holanda, viveu sob a dependência econômica de seu irmão,  que já era negociante de artes em Paris. Esteve várias vezes internado como louco, que era mesmo. Hoje é considerado um dos maiores gênios da humanidade e seus quadros valem milhões de dólares, inclusive um,  "O Escolar",  que temos a sorte de contar no acervo do MASP em São Paulo,  trazido por outro louco, o mago italiano Pietro Maria Bardi, que veio da Europa destruída pela guerra para dirigir o museu que Assis Chateaubriand mandou erguer às suas próprias custas, graças à sua extrema generosidade e visão futurista.



A mais bela homenagem a Van  Gogh que eu assisti não foi na França nem na Holanda. Foi na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, quando um artista apresentou uma exposição temática, muito bem decorada, onde mostrava  vários quadros inspirados numa  suposta festa de casamento de Van Gogh, algo que realmente nunca aconteceu.  Consta que Vincent Van Gogh nunca teve sequer namorada e suas poucas experiências sexuais deram-se com prostitutas. Mas, ao contrário do outro maluco, o do filme, Van Gogh nunca matou ninguém a não ser a si mesmo, quando estava em tratamento psiquiátrico com um médico francês, Dr. Gachet, que o acolheu em sua casa nos arredores de Paris.

Van Gogh está enterrado ali mesmo, no meio de um maravilhoso trigal, que pintou tantas vezes com seu incompreendido amor. Foi lá que chorei minhas lágrimas mais verdadeiras, como se estivesse na tumba de um irmão. 

Van Gogh suicidou-se em meio aos trigais que povoaram sua curta vida. Está enterrado num deles, perto de Paris.

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