A distância até Lages é de 220
quilômetros a partir da ponte que dá acesso ao centro de Florianópolis.
Calculei tres horas com folga e saí do Rio Tavares 20 para as sete da manhã.
Trânsito nenhum na via usualmente engarrafada. Milagres do horário de verão! Com facilidade cruzei a ponte e segui meu
caminho para Lages, afim de submeter-me à primeira sessão de Terapia de Vidas
Passadas.
Terapias não são novidades
para mim. A partir dos 25, fiz tudo quanto é tipo de terapia, em grupos ou
individuais: Grito Primal, Freud, Reich, Lacan, Osho, Psicodrama, Gestalt,
ufa! Compreender mentalmente até que
compreendi, mas, não resolveu muito minha vida. Aos 50 e poucos parei com as
terapias e resolvi fazer apenas Reiki, meditar e rezar. Pelo menos, saiu mais
barato!
À cada parada nas
intermináveis obras da estrada, ia pensando nestas experiências terapêuticas e
em minhas outras incompetências e rebeldias, enquanto via os ponteiros se
aproximarem perigosamente das nove horas da manhã. Minha sessão estava marcada para 10 horas da manhã e
ainda estava passando a cidade de Alfredo Wagner, à 110 km de Lages.
Finalmente, depois de uma longa subida, eis que se apresenta o Planalto Serrano
e suas retas maravilhosas. O pequeno Fiat Uno 2013 passou a ser pilotado por um
dublê de piloto F1 e às 10 horas em ponto eu estacionei na esquina da Frei
Gabriel com Santos Dumond, no centro de Lages.
Aparece o
principal obssessor
Depois de anotar meus dados
pessoais, o terapeuta perguntou-me se eu sabia qual era a natureza do trabalho
ali. Eu respondi que sabia apenas o mínimo. Ele aparentemente julgou que era
suficiente e absteve-se de explicações. Apresentou sua auxiliar, que faria o
papel de canalizar as personalidades que aparecessem durante o trabalho, “haaa... perfeitamente, professor, seja lá o
que isso queira dizer...”. Na
verdade, ela serviria de médium para incorporar os espíritos que aparecessem e,
através dela, o terapeuta dialogaria e interagiria com eles. Falei um pouco do
que me levava até ali, disse da sensação de que algo estava errado na minha
vida, os sentimentos estranhos de incompletude, a insegurança nas relações
afetivas de namoro ou casamento, mesmo ao estar próximo de completar 63 anos de
idade. Disse também da esperança de que
algo diferente pudesse me ajudar a romper com certos traumas de infância, etc,
no que fui interrompido por uma pergunta direta e seca: “Que trauma te incomoda mais?”.
O primeiro que me veio à mente foi a expulsão de nossa família das
terras do meu avô, quando eu tinha 5 anos de idade e, ao começar a relatar como
foi, o terapeuta começou a pigarrear de forma tão insistente que me senti
instigado a comentar que eu vi muitas pessoas na mesma situação dele, talvez o
tempo não esteja muito favorável nesta mudança de estação. “Este
pigarro não é meu, é você que o trouxe. Por que?” Imediatamente lembrei-me que aquele meu avô
morrera de câncer de garganta, que depois virou metástase, e que ao vê-lo em
seu leito de morte eu tinha dúvidas se o perdoava ou se o continuava odiando.
Nisso a médium auxiliar
começou a falar algo incompreensível e o terapeuta disse para mim: “Olhe só, seu avô acaba de chegar”. Ele falava através dela e o jeito de falar
era mesmo parecido com o do velho. Uma fala pra dentro, com pouca sonoridade,
conceitos dúbios de difícil compreensão imediata. O terapeuta falava com ele,
para tentar clarear as coisas. Decorridos quase 40 anos de seu falecimento, ele
ainda não sabia que tinha morrido. Achava que os familiares o tinham abandonado
num lugar de doentes, um lugar cheirando à aroma adocicado, todos tinham o
olhar esbugalhado e cada um cuidava de si, não existia qualquer amizade ou
solidariedade entre as entidades presentes ali. Disse que depois de muito tempo
apareceu um grupo de pessoas dizendo que iam levá-lo para tratamento em outro
lugar, mas ele aproveitou a oportunidade e fugiu. Daí se grudou em mim, por que
nós éramos amigos há muito tempo, gostava de mim, gostava principalmente de
beber comigo. Eu era um bom companheiro de copo, mas, agora também o tinha
abandonado e ele disse que estava com muita raiva por causa desse abandono.
O terapeuta explicou-me que o
corpo astral de meu avô foi parar num Umbral onde habitavam espíritos de mesmo
nível, todos cancerosos em péssimo estado evolutivo, sem qualquer consciência.
As pessoas que o foram buscar, provavelmente depois de muitos anos, eram
socorristas espirituais que lhe propunham um caminho de cura, um longo tratamento
de seu corpo astral, o qual no momento estava em estado deplorável, imprestável.
Haveria que passar um longo tempo em tratamento, até ter condições de encarnar
novamente como humano e, mesmo assim, provavelmente passaria algumas
encarnações morrendo prematuramente ou sendo abortado, até que pudesse refazer
algum pacto reencarnatório que o levasse para um nível de vibração mínimo, que
desse sustentação a uma nova experiência, por que na última ele regrediu a um
nível caótico. O terapeuta disse que era capaz de “ver” o corpo astral de meu
suposto avô e que o que via não era nada animador. A situação estava péssima, o
que muito me prejudicava, por que ele havia se tornado meu obssessor principal
e não tinha a menor intenção de me largar.
Na sequência do diálogo com o
terapeuta espiritual, meu avô disse que se pudesse teria evitado minha ida àquela
sessão em Lages, mas que não podia fazer nada para impedir, por que eu havia
ingressado em um campo fora de seu alcance. Imediatamente lembrei-me das
sessões de reiki e de meditações que retomei nos últimos 15 dias, e de como
isso possa ter-me colocado vibrando numa dimensão inalcançável pelo obssessor.
Fiquei feliz e emocionado por isso, ao perceber que de fato as orações e as
atividades de cunho religioso afastam as trevas e os maus espíritos.
O terapeuta perguntou ao
espírito de meu avô a razão pela qual me seguia e este respondeu que eu era seu
único amigo. Quando foi perguntado se aceitaria ajuda para se curar, respondeu
que não, que não acreditava em nada daquilo. Então, iniciou-se um embate entre
o terapeuta e o espírito de meu avô, que dizia não haver mais esperanças para
ele, que haveria de morrer assim. Algo
realmente confuso, pois , parece que ele de fato se negava a aceitar que já
estivesse morto. Colocado contra dados irrefutáveis, lembrou-se de como a
doença o maltratara em vida e concluiu que estava mesmo em outro patamar, mas
se recusava a aceitar ajuda. Foi então orientado e desafiado a voltar mais e
mais no tempo, até que entrou no ar outra personalidade, desta feita um
espírito de uma pessoa muito rica e poderosa, que tinha uma associação comigo
em uma remota vida passada, provavelmente na idade média, pelas características
vistas pelo terapeuta a partir da canalização da médium. Nós éramos dois nobres
senhores e vivíamos em intermináveis orgias, gastando o dinheiro que tínhamos à
vontade. Comprávamos de tudo, de amantes a amigos, promovendo festas devassas.
Éramos grandes amigos, mas, já não era a primeira vez que vivíamos juntos. Já
tínhamos firmado vínculos em outras vidas anteriores. Ao longo do trabalho
terapêutico, muitas representações de laços cármicos foram sendo esmiuçadas, em
ordem desconexa e às vezes incompreensível para mim, mas, com a ajuda e
experiência do terapeuta, construímos um quadro que me pareceu coerente, dentro
mesmo do sentido da palavra KARMA, que significa Roda em sânscrito, a língua
sagrada da antiguidade. Significa que a imensa maioria dos espíritos passam
encarnações após encarnações repetindo as mesmas coisas, gerando pequenas
vinganças, trocando de papéis no mais das vezes, sem tomar a direção do
crescimento espiritual verdadeiro, do caminho da consciência para a evolução,
em busca do estágio que vai finalmente nos libertar da roda que gira sem sair
do lugar.
O Enredo das
Vidas Passadas com Meu Avô
Numa vida remota, num ponto
indeterminado no tempo, eu estabeleci uma parceria com uma de minhas esposas na
vida atual, algo como marido e mulher. Tivemos então tres filhos, mas eu tinha
dúvidas se eles tinham sido gerados a partir de mim ou se eram de outros
homens. Por isso os abandonei a todos, juntamente com a mãe deles. Caí numa vida
de irresponsabilidades e bebedeiras. Um dos filhos era meu atual avô, que era o
mais velho e fez de tudo para que eu não os abandonasse. Eu não lhe dei
ouvidos. Morri de um ataque do coração,
aos 69 anos de idade, profundamente arrependido, porém sem ter mais como consertar
os estragos que fiz.
Numa encarnação posterior, meu
avô foi casado com minha atual mãe e eu fui o filho deles, sendo também abandonado,
como vingança cármica do que eu próprio havia cometido em encarnação anterior. A
então esposa (minha mãe atual) era uma mulher devassa e vivia aos trancos e
barrancos com seu marido (meu avô paterno atual). Nenhum dos dois me protegeu e
passei uma vida de grandes privações.
Depois aparece uma encarnação
onde meu avô é um doente mental (ou médium, não fica muito claro) e sofre
terrivelmente, sendo amarrado numa jaula. Parece que eu fui algum tipo de algoz
ou carcereiro, o que só fez aumentar o vínculo e o ódio cármico de um pelo
outro.
Quando tivemos a vida de
nobres amigos, o vínculo ficou mais fortalecido, com as bebedeiras e orgias que
fizemos juntos. Até que vem a encarnação atual, onde ele se vinga novamente,
promovendo a expulsão de meu pai, cujo papel ainda não apareceu na história. Muitos
outros papéis dos atuais filhos, esposas e tantas pessoas envolvidas nesse “saco
de gatos” ainda estão por serem elucidados, caso dê continuidade ao processo
terapêutico.
O
Encaminhamento do Espírito Obssessor
Num ponto do embate, o
espírito de meu avô se diz extremamente cansado, quando lhe é ofertado
novamente se quer fazer o pacto para se curar e se livrar dos sofrimentos
atuais. O terapeuta lhe diz que só há duas alternativas: Ou aceita a cura e
segue as regras, ou volta para o Umbral dos doentes, o que fatalmente
acontecerá se ele não se tratar e continuar sugando energia de obssecados como
eu. Parece claro que eu não sou o único neste jogo mortal (talvez meu irmão
seja outro?). O terapeuta pergunta se ele está vendo pessoas que queiram
ajudá-lo e ele responde que sim, que está vendo essas pessoas ali presentes. O
espírito quer saber se eu posso perdoá-lo e o terapeuta responde que não é necessário,
que ele não precisa do meu perdão. Incentiva-o a aceitar a ajuda que os
socorristas estão lhe oferecendo e ele diz que aceita. Em princípio há uma sinalização de solução
para o caso de minha obssessão, mas, por tratar-se de um espírito extremamente
rebelde e preguiçoso, pode ocorrer justamente o contrário, dele se agarrar
ainda mais na minha vida, afim de sugar as energias que necessita,
principalmente a do álcool, de modo que convém realmente que eu não dê chance,
que não abra essa brecha, por que, se eu deixar entrar o primeiro copo, passo a
dividir automaticamente o controle da minha sobriedade com este espírito que me
acompanha há muito tempo. E aí, senhoras e senhores, só a misericórdia divina
para tirar-me novamente do buraco onde estarei me refestelando com o espírito
de meu avô, bebendo todas até o ponto da embriaguês e da insconsciência. Como
eu parei de alimentá-lo, o espírito obssessor está com muita raiva e, se
pudesse, sua vingança seria terrível. Por isso mesmo, o terapeuta chama a
atenção para as práticas espiritualistas que me elevem a um patamar vibratório
que ele não possa alcançar.
O terapeuta diz que não
adianta lutar contra o obssessor na base da simples vontade, ou com orações que
peçam à divindade ou aos meus protetores o seu afastamento, por que sou eu
mesmo que o trago, uma vez que tenho vínculos com ele que vêm de muitos e
muitos séculos, muitas e muitas vidas passadas. Diz que o que eu preciso fazer
é romper esses laços de forma unilateral. Diz que eu devo rezar por ele, sim, pedir que se encaminhe para tratamento, para
sair do estágio atual e iniciar um longo caminho de aprendizado, algo que só
ele pode fazer, pois mesmo os seres no Umbral astral possuem livre arbítrio.
Quando estamos para encerrar a
sessão, que já passou das duas horas convencionais, aparece o registro akáshico
da minha vida anterior, na qual abandonei meu filho/avô à sua própria sorte, eu
que deveria cuidar da segurança dele e de sua mãe (uma das minhas companheiras
na vida atual). O terapeuta explicou que essas aparições são parte da minha
personalidade, meu Eu Superior, minha alma imortal e seus registros que se
personalizam para trazer alguma mensagem. No caso a mensagem que a médium
captou foi a seguinte: "queria
pedir que ele não fique apenas refletindo a respeito do karma, mas que parta
para o resultado que interessa, quero pedir que ele comece a trabalhar pelo
nosso futuro resgate, que comece a limpar os erros do passado, é um longo
trabalho, que não vai se concluir nesta encarnação, mas, que é preciso começar
a ser feito".
Já passou da hora!