Antes de Violeta Parra, a produção musical visível chilena era representada principalmente pelo cantor e compositor Lucho Gatica, que cantava boleros e fazia grande sucesso popular em todo o mundo hispânico. Vivia no circuito Madrid-Mexico e raramente ia ao Chile. Suas letras falavam de amores perdidos e desilusões, numa linguagem antiga, envelhecida pelo tempo desde que esse ritmo foi desenvolvido em Cuba, lá pelos anos 1800, quando as moças colonizadoras espanholas bailavam com seus vestidos longos, com desenhos de grandes bolas coloridas, daí o nome da dança, bolero.
Violeta também falava de amores perdidos e desilusões, só que numa linguagem moderna, apropriada ao seu país, sem parecer uma "caribenha", como Gatica. Compunha em ritmo de "cueca", a música folclórica dos camponeses e índios chilenos, mesmo quando tratando de temas banais como o abandono. Contemporânea de Gabriela Mistral, era completamente diferente da poetisa chilena que ganhou o Prêmio Nobel. Era rebelde e comunista de carteirinha, não tinha nada a ver com a moça bem comportada e respeitosa dos valores familiares, tão à gosto dos conservadores cidadãos chilenos brancos de classe média.
Os que acompanham a música folclórica sul americana, como eu, especialmente as canções de protesto político e comportamental, têm na chilena Violeta uma referência na luta contra a ditadura fascista de Pinochet, embora a maioria não saiba que ela morreu seis anos antes do golpe, por suicídio que cometeu em pleno teatro que mantinha junto com os filhos, anexo a um restaurante folclórico em Santiago, conhecido como La Peña de Los Parra, onde se apresentava regularmente, com grande sucesso de público e crítica. Os negócios iam bem, estava rica e na melhor fase artística. Só não estava feliz. Vá se compreender as mulheres apaixonadas! Havia completado 50 anos de idade e tinha passado por três casamentos oficiais. Já tinha feito uma sólida carreira internacional, na poesia e no canto. Folclorista fundadora da música chilena, conquistou padrão de qualidade inigualável, gerando e educando talentos como Victor Jara, Quillapayum e Inti-Illimani, músicos que tornariam suas canções mundialmente famosas.
Estava apaixonada por um sujeito que ela chamava de Run Run... A questão é que ele tinha ido para o norte, ao deserto de Atacama e sua principal cidade, Antofagasta, dizendo-se em missão do partido. E ela se lamentando em Santiago, sem saber quando ele regressaria ... Que tristeza! Ele nunca mais voltou.
Estava apaixonada por um sujeito que ela chamava de Run Run... A questão é que ele tinha ido para o norte, ao deserto de Atacama e sua principal cidade, Antofagasta, dizendo-se em missão do partido. E ela se lamentando em Santiago, sem saber quando ele regressaria ... Que tristeza! Ele nunca mais voltou.
Karla Grunewaldt e seu grupo é da cidade de Rosário (Argentina)
En un carro de olvido,
antes del aclarar, de una estación del tiempo decidido a rodar, Run Run se fue pa'l norte, no sé cuándo vendrá; vendrá para el cumpleaños de nuestra soledad. A los tres días carta con letras de coral me dice que su viaje se alarga más y más, se va de Antofagasta sin dar una señal, y cuenta una aventura que paso a deletrear. ¡Ay, ay, ay, de mí! Al medio de un gentío que tuvo que afrontar, un trasbordo por culpa del último huracán, en un puente quebrado cerca de Vallenar, con una cruz al hombro Run Run debió cruzar. Run Run siguió su viaje; llegó a el Tamarugal. Sentado en una piedra se puso a divagar "que sí", "que esto", "que lo otro", "que nunca", "que además", "que la vida es mentira", "que la muerte es verdad". ¡Ay, ay, ay, de mí! La cosa es que una alforja se puso a trajinar, sacó papel y tinta, y un recuerdo quizás; sin pena ni alegría, sin gloria ni piedad, sin rabia ni amargura, sin hiel ni libertad, vacía como el hueco del mundo terrenal, Run Run mandó su carta por mandarla no más. Run Run se fue pa'l norte, yo me quedé en el sur; al medio hay un abismo sin música ni luz. ¡Ay, ay, ay, de mí! El calendario afloja por las ruedas del tren; los números del año, por el filo del riel. Más vueltas dan los fierros, más nubes en el mes, más largos son los rieles, más agrio es el después. Run Run se fue pa'l norte, ¡qué le vamos a hacer! Así es la vida entonces, espinas de Israel; amor crucificado, coronas del desdén, los clavos del martirio, el vinagre y la hiel. ¡Ay, ay, ay, de mí! |
Em
um vagão de esquecimento,
antes
do amanhecer,
de uma estação do tempo
decidido
a viajar,
Run
Run foi para o norte,
Não
sei quando voltará;
Voltará para o aniverrsário
de
nossa solidão.
Aos tres dias uma carta
com
letras de coral
me
diz que sua viajem
se
alonga mais e mais,
se
vai de Antofagasta
sem
dar qualquer notícia,
e
conta uma aventura
que
passo a soletrar,
Ai
de mim!
Em
meio a uma turba
Que
teve que enfrentar,
Uma travessia por culpa
do último furacão,
Em
uma ponte quebrada
Perto
de Vallenar,
com
uma cruz nos ombros
Run
Run teve que cruzar.
Run
Run seguiu sua viagem;
Chegou
a (pampa de) Tamarugal.
Sentado
em uma pedra
Se
pôs a divagar
que
sim, que isto e que aquilo,
que
nunca, que portanto,
que
a vida é mentira,
que
a morte é verdade
Ai
de mim!
A
questão é que um alforje
começou a trotear,
tirou papel e tinta,
E
talvez uma recordação;
Sem
sofrimento nem alegria,
Sem
glória nem piedade,
Sem
raiva nem amargura,
Sem
aflição nem liberdade,
Vazia
como um ôco
Fincado
no meio da terra,
Run
Run mandou sua carta
Apenas
por mandar.
Run
Run se foi para o norte,
Eu
fiquei aqui no sul;
Entre
nós há um abismo
Sem
música nem luz.
Ai
de mim!
O calendário perde importância
Conforme
giram as rodas do trem;
O
passar dos dias do ano,
Pelos
fios de aço dos trilhos.
Mais
voltas dão os ferros,
Mais
nuvens no mês,
Mais
longos são os trilhos,
Mais
ácido fica o futuro.
Run
Run se foi para o norte,
O
que se vai fazer!
Então
a vida é assim mesmo,
Espinhos
de Israel;
Amor
crucificado,
Coroas
do desprezo,
Os
pregos do martírio,
O
vinagre e o fel.
Ai
de mim!
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