terça-feira, 3 de julho de 2012

ROMANTISMO NA MÚSICA POPULAR - Jealous Guy






"Amar é mel e fel", já nos resumiram milhares de poetas ao longo dos milênios. Os sábios de todos os tempos estão sempre a nos  explicar a natureza do amor, que pode ser definido numa frase bem curtinha: "O amor é poço onde se despejam lixos e brilhantes, orações, sacrifícios, traições..." .  Estas frases pertencem a canções de amor. São definições cortantes e pontiagudas, que colocam sempre os amantes em situação de risco, "dançando nas cordas bambas de uma viola vadia". Mesmo assim, todo mundo quer amar, por que a sensação de estar amando é a suprema realização humana. Não há dinheiro que compre o amor, embora o cínico escritor Nelson Rodrigues tenha dito que o dinheiro é tão poderoso que compra até amor sincero. Pode ser, mas, com ou sem dinheiro, "o importante é amar". 

Todos os que se aventuram pelos caminhos do amor, estão sujeitos a diversificadas armadilhas, de todos os tipos e calibres. Porém, talvez a mais terrível delas seja o CIÚME. Ele é insuportável, tanto para quem o sente, como para o objeto de sua ação devastadora, ou seja, o ser amado. A pessoa que sente ciúmes é tremendamente infeliz e provoca o infortúnio de seu par, através do seu doentio sentimento de posse. Por que o ciúme não é outra coisa, senão o desejo de submeter o ser amado ao controle do ciumento. Porém, assim como qualquer droga, o viciado em ciúme nunca estará satisfeito. É como uma rosca sem fim. Quanto mais segurança o amante tentar lhe passar, quanto mais mostrar-se exclusivo e solidário, mais o ciumento procurará motivos para expressar sua desconfiança, sua baixa auto estima, seu sentimento de posse, ou seja lá o que se queira expressar com esse componente negativo da relação amorosa. 

O ciúme é mesmo traiçoeiro, mas pode até servir de charme na relação, especialmente quando esta encontra-se amortecida e sem muito brilho, devido a rotina ou qualquer outro motivo, que leva um ou os dois amantes ao desinteresse pela pessoa amada. Quando praticado em doses bem moderadas, com elegância e bom humor, é capaz de nos devolver a paixão e o tesão pelo objeto do nosso amor. Nestes casos, o ciúme demonstra ao par o quanto é desejado pela nossa cara metade ciumenta, desde que não se vá além do sutil limite entre demonstração de interesse e desejo de posse. Dentro deste precioso limite, me arrisco a dizer que o ciúme até nem é tanto ciúme, mas um encantador jogo de sedução.  Claro que é maravilhoso quando notamos o quanto o ser amado nos quer, a ponto de se interessar pelo que andamos fazendo quando não estamos na sua presença, e manifestar claramente o desejo de nos ter, que vem misturado com a preocupação de não nos perder.  

Existem belas canções de ciúmes. Uma das mais eloquentes, sinceras e amorosas, é a que John Lennon fez para Yoko Ono, reconhecendo seu terrível sentimento de insegurança e desconfiança, buscando superá-los no emocionante pedido de perdão, necessário para renovar os laços que o prendiam à valorosa militante pacifista e artista plástica japonesa. 





Eu estava sonhando com o passado,
E meu coração batia rápido,
Então comecei a perder o controle.

Eu não pretendi te ferir,
Eu sinto muito que te fiz chorar,
Oh não, eu não quis te ferir,
Eu sou apenas um rapaz ciumento.

Eu estava me sentindo inseguro,
Por que você poderia não estar mais afim.
Eu estava tremendo por dentro.

Eu estava tentando mirar-me em seus olhos,
E achei que você estava tentando se esconder. 
Foi como se estivesse engolindo minha dor.

Eu não pretendi te ferir,
Eu sinto muito que te fiz chorar,
Oh não, eu não quis te ferir,
Eu sou apenas um rapaz ciumento.

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