segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Em busca do Tango perdido - SACRAMENTO

 
 
Nos anos 1500 Espanha e Portugal disputavam os domínios do mar. Martin Afonso de Souza, o navegador português foi o primeiro a entrar no estuário do Rio de la Plata. Outros navegadores a serviço do reino de Espanha também estavam de olho nessas mesmas águas barrentas, indicando que aqui desembocavam rios muito poderosos, mas, ninguém se aventurava rio acima, pois o foco principal de suas missões era descobrir uma passagem para o Oceano Pacífico. Isso demonstra claramente que todos já sabiam que a terra era redonda, enquanto a "santa madre" ainda queimava na fogueira os hereges que diziam publicamente o contrário.

Aqui nesta Sacramento de 2013 estamos todos bem, sem fogueiras. Cometemos um engano aqui, outro ali, como entrar num café que te cobra trinta reais por dois expressos e uma água mineral, a metade do que pagastes por um churrasco completo, com vinho e tudo, da melhor qualidade, poucos instantes atrás.

No mais, é dormir de janela aberta. Percebi isso na noite que passei aqui, as casas não se preocupam em fechar janelas. Famílias se congratulam nas calçadas largas, sorvendo o mate quente das suas cuias de chimarrão. Milongas soam nas tardes de cinema, amantes enchem a noite com tangos de prazeres, filósofos meditam no azul inconstante das águas que nos separam de Buenos Aires, logo ali em frente e completamente invisível.

É uma hora ou mais de navegação em linha reta. Estamos defronte ao Retiro, onde um dia desembarcaram escravos negros de África, e que agora servem de inspiração para a milonga de um brasileiro, feita sobre poema de Jorge Luis Borges.
 
 
 
De Montevideo a Sacramento são 200 quilômetros. Há dois pedágios a 5 reais cada um, uma pexincha se compararmos com o trecho Porto Alegre - Pelotas, onde gastei mais de 50 reais para percorrer 300 km em 5 horas, devido ao precário estado da "rodovia". Aqui no Uruguai, temos pistas duplas separadas por lindos canteiros de flores. Notei que há pouquíssimos postos de combustíveis na estrada e nenhum hotel. Aliás, no Uruguai inteiro, só há hotéis nas cidades. Deve ser resquício da grande estância que era o país até muito pouco tempo atrás.

Hoje não mais. Entre Montevideo e Sacramento, assim como entre a capital e Punta del Este, há fábricas modernas de alta tecnologia espalhadas pela pampa, antigamente dominada apenas por rebanhos de vacas e ovelhas. Sim, percebe-se que o Uruguai está cambiando. Primeiramente a mudança se faz na economia, para, em seguida, mudarem os hábitos. Já se percebem hotéis de turismo e algumas vinícolas que recebem visitantes para degustações, coisas de alto padrão. Certamente, em seguida, virão os motéis e estabelecimentos para se passar a noite, coisas tão comuns no Brasil e no mundo dito desenvolvido.

De todo modo, o caminho entre as duas principais cidades uruguaias é muitíssimo agradável, tendo por cenário sempre a pampa sem fim. Até que uma placa estampada no meio da rodovia anuncia que a velocidade máxima deve ser reduzida dos 120 para 60 km por hora.

Senhoras e senhores, chegamos à Colônia do Santíssimo Sacramento, patrimônio cultural da humanidade.
 
 

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