terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nosso coral na Basílica de Aparecida

O Coral de Santa Catarina brilhou cantando a missa na Basílica

Fazemos parte dos corais regidos pelo maestro Robson Medeiros Vicente, concentrados principalmente na grande Florianópolis. São mais ou menos 400 cantores, dos quais uns 70 aderiram a um projeto extraordinário: cantar no festival nacional de corais da cidade de Conservatória, na serra Fluminense, a meio caminho entre Petrópolis e Volta Redonda. Na tourné, duas paradas obrigatórias a todo bom católico, como são pelo menos 90% dos cantores desse grupo:
1ª)  cantar uma missa na Basílica de Aparecida (SP).
2ª)  visitar o Mosteiro dos Franciscanos de Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP). 





Na primeira vez que visitei a Basílica de Aparecida, a padroeira do Brasil, eu ainda estava sob a influência do marxismo e achava que a religião cumpria exatamente o papel que o ilustre alemão lhe reservava: "o ópio do povo". Via os padres católicos com os olhos do preconceito e os imaginava em conluio com as supostas fortunas ancestrais do Vaticano, recolhidas de sua associação com os reinados mais devassos e cruéis da idade média, da exploração dos novos mundos pelas potências coloniais católicas, bem como da luta de classes que animava a história humana desde que Roma declarou o cristianismo como sua crença oficial, como forma estratégica de prolongar a existência do império por mais alguns séculos, o que de fato se sucedeu na realidade. 

Eu colocava a religiosidade popular como exploradora da boa fé dos pobres ignorantes. Até que cheguei perto de um grupo de romeiros de Minas Gerais, que se preparavam para cruzar a passarela imensa que liga a Basílica ao centro alto da cidade de Aparecida naquele distante 1980 e poucos. Na frente vinham alguns tocadores de viola e cantores sertanejos, entoando suas canções religiosas. A emoção daquele povo simples me transformou. Fiquei completamente tomado pela força daquela fé. Quando entrei para visitar as salas de devoção,  especialmente a Sala das Velas, a única coisa que conseguia articular eram os versos da canção "Romaria", de Renato Teixeira, que eu mentalmente entoava entre as lágrimas da emoção de estar sentindo pela primeira vez na vida uma experiência mística. Ali, já não me importava se os padres eram arrogantes com o povo, se a cidade era feia e desalinhada, se os estabelecimentos de hospedagem e alimentação cobravam o seu peso em ouro, se a decoração era brega ou seja lá o que fosse. A mim, só me importava viver aquela emoção pura e verdadeira do choro contemplatório. Era como a conversão de São Paulo, cegado por uma Luz inexplicável que apareceu no seu caminho.



Agora, nosso coral adentra às instalações da portentosa basílica de Aparecida e o encantamento já me domina logo na visão do grande templo. Eu, que já fui nos principais centros do mundo católico, Fátima em Portugal, Santiago de Compostela na Galícia, Nossa Senhora do Pilar em Saragoza, El Escorial perto de Madrid, Bom Jesus de Matozinhos no Porto, Notre Dame de Paris, eu que vi os vitrais sagrados de Nantes e Reims, que subi as escadas da Penha e visitei as históricas igrejas barrocas, que participei dos 200 anos da aparição de Nossa Senhora em Lourdes, entre tantas atividades místicas do cristianismo, com todo um background de vivências religiosas, em nenhuma delas senti a emoção de entrar no ambiente sagrado da Nossa Senhora negra.

Tudo na colina sagrada lembra a devoção por Nossa Senhora Aparecida
Tivemos a sorte de contar com um padre extremamente simpático, alegre e animado, que fazia da celebração da missa uma reunião de velhos amigos. Falou de sua amizade com Acácio Santana, mestre de nosso maestro Robson, ficou encantado com nossos cantos e se disse agradecido por nossa participação em sua missa, especialmente por sermos de Santa Catarina, terra que ele disse gostar imensamente. Havia um mestre de cerimônias e um cantor oficial da Basílica dirigindo o culto, homens  muito bem preparados, como são todos os servidores e oficiantes em serviço no templo.

O cantor se perde ao sentir a mansidão que reina no templo 
Depois da missa, muitos de nós demoramos um tempão visitando as instalações, sem vontade de ir embora. Só fomos mesmo por que a basílica seria fechada em seguida, para o descanso sagrado dos peregrinos como nós, alguns dos quais ficamos até altas horas celebrando no bar da piscina do hotel, cantando sambas enredos e marchinhas nem um pouco ortodoxas. Ninguém é de ferro, né, apesar de que no outro dia sairíamos às sete e meia da manhã para nossa visita ao Mosteiro de Frei Galvão. Novas emoções ali nos aguardavam ...
  
       

6 comentários:

  1. Meu querido amigo ,quando estamos bem, quando conseguimos sentir parte da criação divina, sentimos sim tamanhas emoções e fico muito feliz quando leio suas descobertas e aprendo muito com vc.

    Eraldina Assini - Itajaí (SC)

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  2. Muito bom!!!!!!

    (Maria Aparecida Carvalho - Floripa)

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  3. " É muito bonita a Basílica de Aparecida, já estive enumeras vzs,e toda vez que retorno me comovo"

    Neca Garcia - Porto Alegre (RS)

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  4. "Ficou muito legal a crônica das experiências e visitas a Basilica."

    Suely Riskala (Itajaí-SC)

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  5. A emoção tomou conta de mim ao ler o texto e sentir a sinceridade em tuas palavras.

    (Lydia Ferreira - Itajaí-SC)

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