quinta-feira, 19 de junho de 2014

Alto Douro Vinhateiro



Foto premiada em concurso mostra o espetáculo das vinhas no Alto Douro, Portugal 

Começara a crise econômica européia em 2007. Eu encerrava com chave de ouro minha peregrinação pelos mais significativos templos católicos do mundo. Lourdes, Pilar, El Escorial, Fátima, Santo Antonio de Lisboa, Santiago de Compostela e Matosinhos, este último ali mesmo na cidade do Porto.

Chego na portaria do pequeno hotel e pergunto à simpática senhora da recepção (aqui a narração merece um parêntesis: senhoras idosas em recepções de hotéis só encontrei na Europa e em Havana).

--- Diga-me uma coisa, por favor, senhora. Se eu fosse um turista português, de Lisboa, digamos, qual passeio recomendarias na região do Porto, além da cidade?

--- Haaa!, se fosse eu, escolheria comer um cabrito assado no Alto Douro. Podes pegar o trem na estação Campanhâ, passar o dia nas montanhas e voltar à noitinha.

Fiz conforme a programação da sensata conselheira.
Passei um dia maravilhoso, mas, infelizmente não encontrei cabrito assado.



No interior de São João da Pesqueira estão aldeias tão antigas quanto o próprio Portugal 







Agora, seis anos depois, eis-me novamente no Alto Douro Vinhateiro, em busca de seus sabores incomparáveis e de seu vinho maravilhoso, seguramente um dos melhores do mundo.





Regiões Demarcadas são zonas de lavouras estanques que produzem sob condições de qualidade severamente controladas, de modo a torná-las inconfundíveis em suas características. Tais como as regiões demarcadas para produção de vinhos, das quais o Alto Douro foi a primeira do mundo a ser efetivamente regulamentada. Esse importante fato histórico deu-se no ano de 1757, menos de dois anos depois do grande terremoto que arrasou Lisboa.

A criação da zona demarcada foi iniciativa do Marquês de Pombal visando agregar valor às exportações de vinho, notadamente para a Inglaterra, e fazia parte do grande esforço feito pelo país para recuperar-se da tragédia e reconstruir a capital. Outra medida extrema naquela direção, tomada pelo então primeiro ministro do Rei Don José I, foi o aperto fiscal nos produtores de ouro da província de Minas Gerais. 







Hoje o Alto Douro é uma das regiões mais ricas de Portugal, com suas cidades de pequeno porte, porém extremamente limpas, organizadas e acolhedoras, com economias baseadas na produção de vinhos, complementadas por azeites de oliva. Nesta região, o Rio Douro se transforma num paraíso navegável, de onde se observa nas encostas o espetáculo das vinhas, entremeadas por formidáveis construções, algumas das quais produzindo os mais apreciados vinhos do planeta, incluindo os famosos "vinhos do porto", caracterizados pela sua extrema doçura natural, embora os adeptos da arte dos someliers prefiram os vinhos maduros, tintos e secos. Ainda que os brancos também sejam de qualidade superior, ideais para acompanhar os pescados do rio, saboreados em tabernas ao largo das margens, fritos ou ensopados.  


Barcos de grande porte navegam pelo Alto Douro, com turistas do mundo inteiro.  

A culinária é um espetáculo à parte, com suas comidas rurais de montanha que vão desde cozidos de carne e caldeiradas de peixes do rio, até o tradicional bacalhau preparado à moda lusitana, em suas diversas versões. 


A principal porta de entrada para o Alto Douro é a Cidade do Porto, onde convém ficar pelo menos uns tres dias, afim de aproveitar o que esta pequena metrópole oferece em termos de cultura, lazer e culinária. São imperdíveis os passeios de barcos que incluem as vinícolas do outro lado do rio e as tabernas do lado de cá, mais próximas do centro histórico. 

Quando achar que chegou a hora apropriada, e se estiver pronto para deixar a cidade grande e mergulhar na verdadeira alma do Douro, é subir a serra de trem. Também é possível ir de carro, porém, nada se compara à viagem de trem, com suas paisagens deslumbrantes, parando em pequenas estações ao longo do caminho, lugares tão antigos quanto o próprio Portugal. 

Ficamos hospedados em Peso da Régua, um próspero centro de comércio e lazer, onde há maior disponibilidade de acomodações a preços que variam entre 80 a 200 dólares, enquanto certos resorts na região chegam a 500 dólares por dia para duas pessoas.  Em compensação, os restaurantes oferecem refeições de alta culinária, acompanhada por excelentes vinhos, a custos médios de 30 dólares para duas pessoas. Muito mais em conta que restaurantes portugueses no Brasil !

Lá em Peso da Régua alugamos um carro por 50 dólares ao dia, enquanto o mesmo modelo sairia por no mínimo 100 dólares nas grandes cidades de Porto, Coimbra ou Lisboa. Coisas do interior, para quem gosta da vida simples, passeios em ar perfumado de roseiras, visitas a castelos e igrejas perdidos no tempo... Ainda com a vantagem de sermos os únicos brasileiros na área, ao contrário das cidades do litoral, onde se escuta por toda parte nosso inconfundível sotaque diferenciado, que tanto trabalho dá aos portugueses para nos entender.   



2 comentários:

  1. Como é mágica a sensação de estarmos na terra-mãe...Por onde quer que se passe, vai tornando-se presente a sensação de estarmos em casa. A comida... a fisionomia das pessoas... o comportamento ao mesmo tempo espevitado e reservado... o humor, sempre presente. Difícil dizer onde somos diferentes... É como se fosse uma volta ao tempo em nossas memórias atávicas que surgem diante do olhar... e a alma fica em êxtase. Não dá muito para explicar... É preciso sentir. Uma experiência única e inesquecível.

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  2. Momento de cultura. Tive a felicidade de visitar o Vale do Douro.

    Viliam Oto Boehme (Blumenau-SC)

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