domingo, 3 de agosto de 2014

O panorama visto da ponte




PANORAMA 1
ARROGÂNCIA RENDE VOTOS?


Fazer previsões sobre economia e investimentos se transformou em profissão de risco. Daqui pra frente, os analistas econômicos dos bancos podem requerer adicional de periculosidade. 

O Brasil, que retirou seu embaixador de Israel por considerar desproporcionais as forças em combate, vê agora sua "presidenta" apelar aos infernos, frente a uma simples avaliação negativa vinda de uma profissional, que supostamente era paga para dar palpites aos investidores ligados ao Santander. Como os petistas vão se explicar com mais esta atitude explícita de arrogância?


Você já viu investidor gostar de perder dinheiro? Então, o que o Santander previa para seus clientes é que a subida eventual de Dilma nas pesquisas, teria como consequência a baixa nos mercados. Só isso. Escrito por uma moça paga para dar palpites nessa área. Se o palpite foi publicado nos extratos bancários das pessoas acima de 10 mil reais de renda, isso não era problema dela. Passou a ser um problemão, com o assédio moral de Dilma, que, junto com Lula, fez um escândalo internacional sobre o assunto. Pois bem, o presidente mundial do Santander demitiu a moça. Estão satisfeitos? Vingados? Quantos votos ganharam com isso?





PANORAMA 2
SEJA COMO FOR, VAMOS MUDAR!

Não digo que seja uma onda como a Vermelha, que varreu o país em 2002 e colocou Lula na presidência. O povo estava cansado de oito anos de PSDB. A privataria, que eles achavam popular, realmente o foi, no início, por que o povo também estava cansado do mundo de faz de conta das estatais, herdadas do regime militar. Com inflação baixa, história de crescimento sustentado e o escambau, o sucessor de FHC foi um oposicionista, Lula.

Com o tempo, descobrimos que havíamos trocado seis por meia dúzia, mas, é parte da vida. Desencantos e decepções à parte, o importante FOI MUDAR!

Agora, parece que os ventos da mudança começam a soprar de novo. Não há grande variedade de oferta no mercado de novidades. A megamilitante da sustentabilidade, Marina Silva, vem acompanhada de um sujeito burocrata e medíocre, que inventou o financiamento através das letras lastreadas no passivo judicial depositado em juízo. Não sabem o que é? Também não importa. O fato é que o sujeito foi governador de Pernambuco duas vezes, sucedendo o avô Miguel Arraes, que também o foi por duas vezes (ou tres, se somadas). Sua mãe é conselheira do TCU, o que por si só já é um cartão de desapresentação negativo. Ninguém chega lá sem culpa no cartório.

De outro lado, temos outro neto, este fictício. Aécio, que nunca foi Neves, se apresenta como herdeiro político do avô adotivo Tancredo. Não tem nem um terço da malandragem nem da competência do velho de S.João del Rey, mas, sendo mineiro, pra bobo não serve.

Os outros candidatos não contam, por absolutamente inviáveis.

Fazer, o que? Mudar por mudar? Eis o que penso:

"A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro."
John Kennedy

SEJA COMO FOR, VAMOS MUDAR!



PANORAMA 3
DILMA E A FALÊNCIA DAS DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA
O modelo do setor de energia elétrica no Brasil foi concebido na gestão de Dilma Roussef à frente do Ministério, no primeiro governo Lula. Foi construído a partir dos escombros da Privataria Tucana, sobre a qual Lula disse em campanha que realizaria uma auditoria internacional. Convenientemente, esqueceu o assunto mesmo antes de tomar posse. Eu sou um dos que desconfiam que "nesse angú tem caroço" e houve negociação por debaixo do pano, afinal, são todos farinha do mesmo saco e um poderia precisar do outro no futuro.
A tal Privataria ainda cometeu o crime lesa pátria de privatizar o filé mignon da geração hidrelétrica para o capital internacional, ficando com a geração à carvão, as novas usinas à gás, a manutenção cara de extensas linhas de transmissão e a encrenca da distribuição em estados inviáveis (AM, RM, AC, AP, PI, RO, AL), onde o empresário privado levou o sistema à falência e o devolveu ao governo central, que, para não deixar TUDO no escuro, os colocou debaixo das asas da generosa galinha federal chamada Eletrobrás.

Aqui no sul, tivemos a entrega de usinas classificadas entre as mais rentáveis do mundo para os franco-belgas da Tractebel, enquanto a estatal Eletrosul continuou cuidando da transmissão. Quando a Eletrosul foi re-autorizada a gerar energia, ninguém sequer tocou no assunto de que seria bom rever o processo de privatização das usinas. Pra que chatear os amigos com isso, se as grandes famílias que comandam o estado já estavam tão simpáticas e em breve estariam apoiando o governo Lula? Então, a estatal Eletrosul se concentrou na geração eólica e solar, ainda muito caras por serem experimentais, e na construção de pequenas hidrelétricas, que podem parar diante de regimes de seca. Moral da história: enquanto a Tractebel navega em céu de brigadeiro, a Eletrosul vive de sonhos e do talento de seus colaboradores.
Era fácil prever que o sistema de distribuição entraria em colapso, diante de uma crise de secas como as que tivemos nos dois últimos anos. Por que? Por que as distribuidoras estaduais teriam que comprar energia térmica dez vezes mais caro que as hidrelétricas, sem repassar os custos reais para as tarifas, devido ao contingenciamento do governo central, sob o argumento indiscutível do controle inflacionário.
O cenário estava, portanto, prontinho para a tragédia que seria encenada.
No começo de 2013, Dilma anunciou com pompa e circunstância que as tarifas de energia seriam mais baratas dali pra frente. E as represou por decreto, de olho na sua reeleição. Num país que depende de São Pedro para encher os reservatórios das hidrelétricas, que tem geração complementar baseada em carvão e gás, uma promessa desse nível de irresponsabilidade está levando as distribuidoras à falência. Por enquanto, elas vão sobrevivendo na marra, às custas de financiamentos à curtíssimo prazo do BNDES, mas, os analistas já estão dando como certo que não elas não vão honrar os pagamentos das parcelas do financiamento. A primeira delas, a de julho, já está postergada pelo próprio credor. Como o futuro governo vai sair dessa sinuca de bico? Preparem os bolsos!



2 comentários:

  1. Laercio, tudo bem?
      
    Gostaria de comentar, se você permite, é uma frase sua contida no "Panorama 3" desta publicação, quando você escreve assim: "Foi construído a partir dos escombros da Privataria Tucana...".  Essa frase é bastante utilizada até hoje como artifício dos sindicatos para conquistar mais apelo popular.
       
    Posso comentar? O Modelo do Setor Elétrico concebido no governo FHC é muito, mas muito mesmo, semelhante aos governos Lula e Dilma. Praticamente não há diferenças nas regras para investimentos, concessões e comercialização de energia. A essência é a mesma. Veja bem, eu citei as palavras "modelo" e "praticamente". Isto significa que, embora no papel haja muitas semelhanças, há sim algumas diferenças. Porém, as maiores diferenças são referentes ao modelo de gestão implantado pelos dois partidos.
     
    Desta forma, o fato de ter havido ou não privatização de empresas do setor não é nem de longe o principal argumento capaz de classificar de forma incontestável como diferentes os dois modelos de gestão. Ele é um argumento buscado com muito mais frequência por pessoas alicerçadas em princípios ideológicos, em detrimento do conhecimento técnico sobre o assunto. 
         
    Com relação a palavra "escombros" eu analiso da seguinte forma. Quais são os argumentos que atestem que o modelo do setor elétrico herdado pelo Plano Real já não estava em escombros desde a década de 70? Até onde tenho conhecimento as tarifas eram usadas como controle inflacionário, infelizmente ainda o são. Havia a danosa equalização tarifária, artifício muito bem esquecido nos últimos governos, tanto tucanos como petistas. Todas as empresas elétricas tinham seus quadros de pessoal inchados, sendo que hoje o questionamento é o inverso, pois clamam-se por mais vagas. Os salários não eram compatíveis com as atividades exercidas, e hoje eles também não o são, mas pelo motivo contrário. O calote era institucionalizado. Ninguém pagava ninguém no setor. Indústrias, Hospitais, Universidades e Clubes de Futebol viviam dando calotes. Atualmente isso diminuiu bastante. Ninguém investia no setor elétrico (prefiro não adentrar neste assunto por ser extremamente polêmico). A contabilidade e transparência das demonstrações financeiras eram uma piada. Hoje melhoraram um pouco, mas ainda são muito susceptíveis às manipulações políticas. Todas as obras eram superfaturas, como muitas ainda o são. Havia, como ainda há nos dias atuais, loteamento político. Todo o sistema foi superdimensionado (poucos tem coragem de levantar esse assunto). Planejamento de longo prazo não era transparente, assim, só as grandes empreiteiras se beneficiavam com obras obtidas em curtos prazos, com base mais em negociação política do que técnica. Hoje podemos considerar o planejamento transparente, mas não está sendo possível cumpri-lo. Todas as concessionárias eram deficitárias pois viviam recebendo aportes do Tesouro, isso diminuiu ao longo dos anos. A tarifa era totalmente subsidiada, e voltou a ser nos últimos anos, embora não na mesma proporção histórica. As fontes de recursos do setor no período 1967-1989 incluíam recursos setoriais próprios (especialmente a tarifa) e de terceiros (empréstimo compulsório), além de recursos extra-setoriais próprios (dotações públicas) e de terceiros (empréstimos internacionais aumentando a dívida externa). O endividamento do setor era gritante, mas só foi possível mensurá-lo com o reconhecimento dos "esqueletos passivos", que existiam mas eram ocultados das estatísticas da dívida pública.
        
    (Continua no próximo comentário)

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  2. (Continuação do comentário anterior)
        
    O que o governo tucano fez foi buscar que o setor elétrico brasileiro passasse de um modelo institucional de monopólio verticalizado para um outro que restaurasse o fluxo de investimentos (principalmente privados) diminuindo a participação financeira estatal. Desejava-se a menor intervenção possível do Estado nesta atividade econômica. Também eram buscadas a equacionalização do déficit fiscal e o aumento da eficiência das empresas. Com as privatizações o endividamento do governo federal diminuiu, uma vez que geralmente a venda da empresa pública implicou na transferência para o setor privado de todas as dívidas que essa empresa detinha.
      
    O que os governos petistas fizeram foi manter a essência deste novo modelo institucional, aperfeiçoando-o ao longo dos anos conforme os princípios de desenvolvimento nacional que estes julgam serem os mais adequados ao nosso país. Porém, em nenhum momento as lideranças do setor elétrico questionaram o atual modelo de atração de investimentos a favor do modelo anterior totalmente estatizado. Os movimentos oposicionistas mais fortes que atuaram contra isso foram aqueles que não tinham o poder da caneta.
       
    Por fim, sobre o termo "privataria", eu não costumo comentar palavras de efeito. Mas não, não acredito que o processo todo tenha sido exemplo de lisura, afinal há políticos, gerentes de empresas, especialistas em energia, empregados e entidades do setor, tanto da oposição quanto do governo, de todos os tipos: honestos, burros, inteligentes, éticos, canalhas, corruptos... Suspeito que sejam um reflexo do povo, exatamente na mesma proporção.
      
    Após todas as considerações acima, acredito que a tal "privataria" talvez possa não ser a única culpada de todos os males do setor elétrico. Vou além, acredito que ela nem possa ser considerada um mal diante de todos os argumentos anteriormente mencionados e muito menos que o governo Lula assumiu um setor em escombros. Nada pode ser comparável à situação caótica da época da hiperinflação. Mas esse tipo de pensamento não vou e nem tenho a intenção de impor a ninguém. Nas minhas modestas considerações eu destaco três motivos principais que levaram o setor elétrico e todos os setores de infraestrutura do Brasil aos escombros nas décadas de 70 e 80, nesta ordem: a) a consequência de anos de elevação da taxa de juros americana; b) a fragilidade das nossas instituições políticas e c) as sucessivas políticas econômicas socialistas que interferiram nas questões técnicas.
       
    Note que, embora eu tenha levantado apenas argumentos técnicos, eu apontei "as sucessivas políticas econômicas socialistas que interferiram nas questões técnicas" apenas como o terceiro motivo de maior importância. Isso indica que não vejo a privatização ou a estatização das empresas como a principal pauta da discussão sobre o setor elétrico. Desde que as decisões sejam majoritariamente (pois totalmente seria utopia) tomadas sob argumentos técnicos, pouco importa o modelo setorial.

    Por fim, nada melhor do que finalizar um comentário sem a minha opinião, mas sim com a opinião de uma publicação reconhecida tanto pelo governo quanto pela oposição. O melhor documento a ser lido sobre os motivos que levaram à crise do modelo FHC e a crise do racionamento é o Relatório Kelman. Ali nota-se a diferença entre uma análise ideológica de uma análise técnica. Tal documento nunca foi questionado pela oposição petista da época, e nem poderia mesmo, pois o documento reconhece algumas falhas do governo, comportamento esperado de pessoas que buscam a lógica em detrimento da dialética.
      
    Abcs
    Marcus Gelain
    Eletrosul

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