domingo, 22 de março de 2015

"De pernas pro ar". Uma crônica sincera da história recente brasileira.



JOVEM TAMBÉM TEM SAUDADE 
(de um tempo que não viveu e nunca entendeu)

Neste início de outono, algumas pessoas comemoram os 51 anos do golpe militar de 1964, que se auto proclamou como "Revolução Redentora".   A experiência de vivenciar a intervenção militar e suas consequências,  foi uma das coisas mais importantes vivenciadas pela minha geração, a que nasceu junto com a Guerra Fria e chegou a pensar que poderia mudar o mundo!  

Nos dias de hoje, a ideia de uma ditadura militar conservadora está em alta, devido ao desgaste monumental de um governo supostamente de esquerda, que ganhou as últimas eleições seguindo uma estratégia de marketing que tinha como foco a destruição moral de seus adversários; aliada a uma propaganda enganosa de seus objetivos políticos, sociais e econômicos, prontamente desmentidos logo que a contagem eletrônica das urnas foi concluída, com uma pequena margem de votos a seu favor.  





"FECHAM-SE AS CORTINAS". Ou será que se abrem? 

Trinta anos atrás chegava ao fim a ditadura militar proclamada há 51 anos. Durou vinte e um anos, portanto, e, agora, parece renovada em esperanças para uma boa parcela da população brasileira, especialmente das classes médias.  À época de seu fim, oficializado em 1985, o regime despencava aos trancos e barrancos pelos desfiladeiros políticos brasileiros.   Um ano antes, em 1984, o congresso nacional havia rejeitado uma emenda constitucional defendida pela campanha "Diretas Já", que levou milhões de pessoas às ruas. Para compensar a enorme frustração popular, decretou-se (mais uma) reforma política e se fez uma eleição indireta de um presidente civil para substituir o último general. Às vésperas da posse, o eleito Tancredo Neves adoece e vem a falecer no dia 21 de abril, um domingo, morte comunicada à nação no horário do programa Fantástico, da Rede Globo, um sucesso de público. Foi a morte mais midiática da história brasileira.  O PT  e outras forças políticas, como Leonel Brizola, queriam novas eleições, mas, isso iria bagunçar o acerto feito pelos líderes dos partidos PMDB e PDS, os dois maiores, junto com os generais que estavam loucos para sair de cena, mas, queriam garantir a certeza de tranquilidade criminal para si e os seus num futuro ainda nebuloso. Então se acomodou o vice José Sarney na presidência, com o mesmo ministério já anunciado por Tancredo. A história desse José Sarney, por si só, nos dá conta do que foi a política brasileira nos últimos 50 anos. 

Acabava assim, à meia boca em 1985, a aventura do "Brasil Grande" sonhado pelos militares de direita, que deram um golpe de estado em 1964 contra o governo legal e constitucional de Jango Goulart, um gaúcho latifundiário com terras em tres países, e que havia sido ministro da fazenda no governo de seu compadre gaúcho Getúlio Vargas; e do Trabalho no mandato do "presidente bossa nova", o judeu mineiro Juscelino Kubitschek. 

RAZÕES PARA A INTERVENÇÃO MILITAR

Não houve razão que pudesse ser entendida como tal. Não era a primeira vez, nem seria a última, em que o país estivesse bagunçado, como sempre esteve. Nada ameaçava o domínio da classe elitista, nem estava ameaçada a propriedade privada, nem os privilégios da burguesia industrial e rural. Os ricos continuavam no comando das coisas, os pobres trabalhando feito burros de carga. Tudo estava normal, apesar do barulho. 


Na verdade, a reação militar foi atiçada pelos políticos e eclesiásticos mais conservadores, pela população amedrontada com o fantasma midiático das reformas; e pela espionagem internacional da norte americana CIA, em plena guerra fria contra os soviéticos. Era essa aliança sui generis que temia o programa com o qual Jango tentava salvar o seu governo, ao qual chamava "Reformas de Base". O presidente Jango era um político conservador, típico representante da classe dirigente brasileira. Ainda assim, foi inexplicavelmente pintado como um revolucionário incendiário, que estava às vésperas de implantar o comunismo no Brasil. O que efetivamente dava calafrios na oligarquia era a Reforma Agrária, que mal dava seus primeiros passos e, afinal, nunca foi implementada no Brasil, ao contrário da pátria idolatrada dos golpistas, os Estados Unidos, onde a reforma foi feita há mais de duzentos anos. 



A maioria das pessoas que pedem intervenção militar, têm uma ideia romântica do que seja isso. Pensam que os oficiais comandantes das tropas vão intervir, afastar e prender os corruptos, colocar a casa em ordem promovendo eficiência nos serviços públicos, acabar com a violência e a criminalidade, ou seja, transformar a realidade humilhante do país de hoje. Alguns eleitores cidadãos querem que, depois de feito o serviço, eles convoquem eleições. Outros pensam que seria bom se o regime continuasse para sempre. 

Esse tipo de pensamento político nos mostra que a população brasileira não está acostumada aos padrões políticos democráticos, que faz parte da tradição de outros países. Primeiro, há os que simplesmente vendem o voto. Outros, a maioria, não sabem analisar e escolher os melhores candidatos. Quase sempre o aventureiro mais simpático e carismático ganha a eleição, tanto mais se anunciar que vai "acabar com os políticos", como fez Collor de Mello em 1989. Também dá impressão de que o povo gosta do lema positivista da nossa bandeira,  "ordem e progresso", como se este fosse decorrência direta daquela. O primeiro golpe militar brasileiro foi a proclamação da república, aplicada para acabar com a "bagunça" do império. Foi engendrado pelo ministro da guerra do próprio imperador, junto com sua alta oficialidade. Traição? Claro que não, imagina!  Apenas limpeza e renovação dos ares. Com os mesmos generais comandantes, evidentemente!


Posteriormente, tivemos outros exemplos de "ordens" que acabaram em grandes desordens. Em 1950 o ex ditador Getúlio Vargas prometia reviver os bons e ordeiros tempos do Estado Novo. Seu slogan vitorioso para as eleições era "bota o retrato do velho no mesmo lugar", e, para comprovar que a história só se repete como farsa, o velho saiu do palácio morto por uma pistola por ele disparada contra o próprio coração, única maneira que encontrou de se livrar do abacaxi em que se transformou seu governo.   


Em 1961, um maluco chamado Jânio Quadros ganhou as eleições empunhando uma vassoura, com a qual iria "varrer" a corrupção e limpar o país. Não durou um ano e renunciou, tentando repetir o gesto de Vargas, mas ficando vivo, para voltar ao poder nos braços do povo. Acabou preso domiciliar pelos próximos 20 anos, na sua doce e nativa Corumbá, na distante fronteira boliviana. Impedido de politicar, escreveu uma brilhante coleção sobre gramática da língua portuguesa, "Fi-lo por que qui-lo".   


  



GOLPES DENTRO DO GOLPE

A história da revolução de 1964 mostra que as coisas não são estáticas, assépticas e bem intencionadas como deveriam. No início, é até possível que os generais golpistas tivessem mesmo a intenção de limpar o país do perigo comunista e da desordem, para em seguida convocar eleições gerais. Isso é o que levou todos os políticos importantes a apoiarem a intervenção armada. Juscelino, então o político mais popular, sonhava voltar ao poder em 1965. Ao invés das esperadas eleições, em outubro de 1965 o governo do general Castello Branco acabou com os partidos políticos e introduziu a eleição indireta para a presidência da república. Todos os políticos tradicionais, que se consideraram prejudicados e traídos pelo regime militar, iniciaram um movimento articulado de oposição liberal que venceu as eleições de 1966.  Em seguida, o regime deu sua dura resposta, estendendo as eleições indiretas para os governos estaduais e para municípios das capitais ou considerados de segurança nacional. Com a edição da nova Lei de Segurança Nacional, em 1967, trataria de inviabilizar completamente a atividade política no país, que não fosse estritamente aquela autorizada pelo alto comando militar. 

O primeiro golpe dentro do golpe se concluiu em 1967, com a indicação do general Costa e Silva para suceder Castello Branco, contra a vontade deste. Aí o presidente já não era importante, passando a ser uma figura decorativa do "Comando Supremo da Revolução", na verdade um conclave que juntava no mesmo nível de autoridade os chefes comandantes das tres armas.  Curiosidades e uma onda de mistérios envolve a morte de Castello Branco em julho de 1967, quando o avião em que viajava com outros companheiros militares de alta patente foi abalroado em pleno processo de aterrizagem, por um caça da FAB.  A morte de Costa e Silva também esteve envolvida em mistérios e seu corpo nunca foi mostrado no período de doença que antecedeu o falecimento, atribuído oficialmente a um AVC enquanto assistia a um famoso prêmio de Turfe. 


OS ANOS DE CHUMBO

Ao longo do mandato de Costa e Silva, o país ainda aceitava democraticamente as passeatas estudantis e as barricadas de 1968, estas, por sinal,  como consequência direta das ideias libertárias importadas de Paris pela nossa juventude dourada. Porém, aos poucos o Brasil foi se transformando numa cruel ditadura militar pra valer. O pau fechou de vez quando se consolidou o golpe dos militares "duros" sobre os "intelectuais", no mandato do general Garrastazu Médici. A tortura passou a ser instrumento trivial de investigação policial e política. Comandos para-militares formados por policiais civis, militares, soldados das tres armas, e até civis atuantes na contravenção, passaram a lutar no combate à guerrilha urbana, comandados por instituições semi secretas como o DOI-CODI no exército, CENIMAR na marinha e CISA na aeronáutica. Eram altamente eficientes e em pouco tempo destruíram todas as bases e aparelhos clandestinos ocupados por organizações políticas, fossem ou não praticantes de atentados.   O Partido Comunista Brasileiro, por exemplo, negava terminantemente o uso da luta armada, mas, teve seus dirigentes presos, torturados, mortos ou exilados.  Foram os chamados "anos de chumbo", quando a "sorte" de ter um parente procurado pela polícia, ou por ter o nome citado em algum depoimento, levava automaticamente o cidadão a perder seu direito de existir. Ele podia "ser sumido" de um dia para o outro, ao bel prazer do aparelho repressor a serviço do estado totalitário. 



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Em 1973 a propaganda clandestina do PCdoB fazia crer que estavam promovendo o início da revolta popular contra a ditadura. Corriam relatos nas universidades, dando conta que havia territórios inteiros "libertados" na região do Rio Araguaia, que os posseiros já pegavam em armas para defender a revolução socialista, que o exército estava apelando para bombardeios de Napalm, como os usados então no Vietnam, para destruir os acampamentos guerrilheiros. Hoje, sabemos que aquilo nunca passou de alucinação, sabemos que os poucos guerrilheiros em ação na área foram facilmente presos. O petista José Genoíno foi um desses guerrilheiros presos e, na verdade, nunca entrou em ação. Era, junto com vários estudantes inexperientes, mais um voluntário em "treinamento" .  A verdade nua e crua é que a luta contra a ditadura havia acabado, por falta absoluta de guerrilheiros e de capacidade organizativa. O capo Zé Dirceu, que havia sido trocado pelo embaixador norte americano no famoso sequestro de 1969, voltou clandestino ao país em 1973, trazendo uma bolsa cheia de dólares falsos, afim de promover a "luta revolucionária". Não teve a quem passar a grana, pois seus contatos estavam mortos ou presos. 

ABERTURA LENTA, GRADUAL E SEGURA

O general Ernesto Geisel tomou para si a tarefa de rearticular os "intelectuais" e desmontar a arapuca da repressão. Começou inventando um novo slogan, o da abertura democrática "lenta, gradual e segura". Essa nova estratégia, evidentemente, não soou bem à ala dos "duros". Para provar que falava sério, Geisel teve que demitir o general "duro" Silvio Frota do comando do 2º exército (SP), depois que o DOI-CODI local (mais doía do que acodia) assassinou sob tortura um operário e um jornalista, ambos inofensivos militantes burocráticos.  Geisel foi o primeiro presidente militar que fez seu sucessor, justamente o último dos generais no poder, João Figueiredo, um agente chefe do serviço secreto de informações, que se passava por figura popular  ("plante que o João garante"), quando na verdade era um arrogante, que se dizia gostar mais "do cheiro de cavalo, do que cheiro de povo".  Até que, depois de milhares de cafezinhos e bate papos pelas esquinas do país,  o povo de Florianópolis lhe mostrou o caminho da porta de saída, em dezembro de 1979, após ter sido outorgada a tão esperada Lei de Anistia, junto com um tarifaço sensacional sobre os preços controlados, como a gasolina. Qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência!  Ali, na Praça XV, defronte ao palácio onde Jorge Bornhausen exercia o mandato de governador nomeado, começaram a ruir as últimas pedras do regime militar. 




A NOVA (velha) REPÚBLICA

José Sarney havia começado sua vida política no final dos anos 1950 como um político de esquerda, renovador, lutando contra a oligarquia maranhense. Era um jovem advogado e frequentava as rodas bohêmias de São Luis, na companhia de gente jovem, moderna e revoltada, como o poeta Ferreira Gullar. O golpe militar o encontrou nessa posição incômoda. Mas, o Maranhão era por demais longe e insignificante, dentro de sua própria miséria, para merecer a atenção dos generais. Assim que pode, Sarney (nome adotivo para o peculiar Ribamar) adere ao movimento militar e se elege governador do Maranhão, com uma campanha centrada na renovação e na moralização da política local. Dali pra frente, sua carreira pode ser resumida no ato de buscar a perfeição em como se comportar melhor em relação ao poder central de Brasília,  estabelecendo para si e sua família o poder local total na província. Foi por tres vezes governador do Maranhão (sua filha Roseana o seria mais duas vezes), várias vezes deputado e senador, cuja atuação se resumia a comícios literários sobre a transitoriedade do mundo e das pessoas, como a justificar os atos arbitrários de seus novos amigos militares, a quem servia humildemente. 

Com esses predicados, tornou-se o político mais confiável para fazer a transição ao regime democrático. Por isso, foi indicado para ser o vice presidente na chapa de Tancredo Neves, afim de garantir uma transição sem atropelos. Por alguma estranha razão, Tancredo morreu antes de tomar posse, fazendo do político maranhense o novo presidente da "nova" república, que já nasceu tão velha quanto as pedras das ruas do centro de São Luis. 

Seus seis anos de mandato foram uma catástrofe para o país, e os passou olimpicamente a viajar pelo mundo, levando comitivas com centenas de artistas, escritores, empresários e puxa sacos de todos os tipos. O então senador FHC costumava brincar com os ministros, ao perguntar: "E aí? A Crise está novamente de viagem?"  De crise em crise, chegamos às eleições diretas de 1989, disputadas em segundo turno entre Collor de Mello e Lula. Como parte de sua personalidade bandida, Sarney declarou voto em Lula, o que equivalia naquele momento ao beijo da morte, que foi ingenuamente aceito pelo candidato do PT, aumentando ainda mais a vantagem comparativa do "caçador de marajás".  

CARA PINTADAS

Assim que tomou posse, Collor decretou o sequestro das contas bancárias e dos investimentos em bancos, que estivessem acima de 50 mil "cruzados novos", o que equivaleria hoje a mais ou menos 10 mil reais. O resto de seu mandato foi dedicado a todo tipo de fraude e super faturamento, incluindo a liberação do dinheiro oficialmente preso, mediante o pagamento de propinas cobradas por seu confidente e tesoureiro informal, P.C.Farias.  Em dois anos, acredita-se que o bando tenha acumulado uma fortuna de 2 bilhões de dólares, razão pela qual o pobre P.C.Farias seria assassinado pelos seus próprios seguranças, depois de revelar ao irmão as chaves das contas bancárias no exterior. O PT, que havia perdido as eleições, iniciou uma campanha pelo impedimento do presidente Collor, levando às ruas os famosos "caras pintadas", liderados por estudantes ligados a UNE, uma entidade picareta que sempre foi comandada pelo PCdoB, desde sua refundação em 1980. Itamar Franco, o vice, assumiu a presidência, apesar do PT e Brizolla novamente pedirem a realização de novas eleições. No final do governo Itamar, o ministro da economia, FHC, lança mais um plano econômico extra ortodoxo, o Plano Real, em cujas ondas navegou em céu de brigadeiro e ganhou as eleições de 1994 logo no primeiro turno, contra o mesmo insistente Lula. 

"PLANO REAL". 
ESTÁ NASCENDO UMA NOVA MODA DE ARROCHAR OS TRABALHADORES!

O primeiro governo FHC se caracterizou por um profundo ajuste fiscal, comandado pela mesma equipe que hoje tenta ajustar sem sucesso o governo Dilma. Naqueles anos, a inflação foi tendendo gradativamente a zero, como convinha aos países "civilizados", como o Brasil dos tucanos. Os salários dos trabalhadores comuns sofreram de cara um novo embargo, na casa dos 30%, e depois foram congelados. Foi a paz dos cemitérios, atrapalhada de vez em quando pelas revoltas e greves promovidas pelos militantes do PT. Mesmo assim, FHC garantiu para si a 3ª derrota da candidatura Lula. Assim que esfriaram os votos nas urnas ainda manuais em 1998, o dólar oficial foi corrigido de R$ 1,17 em outubro/98 para R$ 1,45 em janeiro/99, mes da posse para o segundo mandato, cuja reeleição, segundo as más línguas e ao ministro das comunicações, foi comprada à razão de 200 mil reais por deputado do baixo clero. O preço cobrado pelos figurões não foi declarado por nenhuma das partes envolvidas. (Não se espante, naquela época as propinas ainda eram assim, baratinhas). O último dia do governo FHC em 2002 encontrou o dólar cotado oficialmente a R$ 3,73, para você ver o desafio que Lula teria que encarar.  

A ESPERANÇA VENCEU O MEDO 

Lula passou toda a sua carreira política combatendo a burguesia, desde que foi eleito em 1975 para a diretoria do sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista, levado pelas mãos de seu irmão comunista. Em 1978 já era o presidente da entidade. Esse pau-de-arara pernambucano transformaria o quadro político nacional com suas greves selvagens de 1979 e 1980.  O regime militar, ainda que morimbundo, tinha helicópteros da FAB que sobrevoavam o pequeno estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, para amedrontar os metalúrgicos que se reuniam nas assembleias da greve comandada por um Lula ainda jovem e berrante, com sua barba cerrada e sotaque suburbano.  O que ninguém sabia é que Lula procurava secretamente acordos com os burgueses da federação das indústrias e os membros da família Vidigal, então banqueiros e industriais de peso, os quais foram acusados ainda à pouco pelos petistas de financiar a candidatura da evangélica Marina Silva em 2014. Pelo visto, naquela época, na política já valia tudo. Talvez tenha sido esta a razão pela qual Lula foi tão bem tratado na prisão do DOPS, para a qual foi mandado após a intervenção militar no seu sindicato. Talvez também explique por que Lula assinou uma tal Carta aos Brasileiros no ano de 2002, pela qual abria mão de sua luta contra as privatizações das empresas estatais, assim como aceitava todos os contratos firmados pelo governo anterior de FHC.  

O governo Lula se iniciou diante de um terrível dilema: ousar fazer diferente e se arriscar, ou manter a forma de ajuste e controle exercida durante os anos FHC. Para desespero dos tucanos, que esperavam voltar ao poder em 2006, Lula e o PT escolheram a segunda e inesperada alternativa. Convocaram uma equipe tucana para o Banco Central e o Tesouro Nacional, sob o comando de um político experiente, com larga aceitação nos meios empresariais, o ex prefeito paulista e deputado,  médico de formação,  Antonio Palocci no ministério da fazenda. Não vale a pena citar o episódio do escândalo do Mensalão, por que é café pequeno diante do que viria depois, já no governo de Dilma Roussef. 

DE NOVO A NOVIDADE QUE NADA MUDA. 
Dilma Roussef e a tática "mais do mesmo". 

Em 2010 Lula impôs Dilma Roussef como candidata oficial à sua sucessão. Ela não era da linha tradicional no PT, por isso causou certa rejeição das lideranças internas. Dilma tinha ingressado no PT-RS em decorrência de uma dissidência de seu grupo político, contra o autoritarismo de Leonel Brizola, que exigia do PDT que marchasse junto com o candidato tucano ao governo do estado. Dilma apoiou o vitorioso petista Olivio Dutra, do qual se tornou secretária de energia. Eleita presidente em 2010, Dilma se afastou das práticas populistas de Lula. Pouco aparecia em público, não dava entrevistas e seu gabinete era de difícil acesso aos parlamentares da "base aliada". Por essa época, o deputado cassado e ex ministro José Dirceu prosperou, montando um escritório de representação de interesses lobistas diversos, para atuar junto aos ministérios de Dilma, aos quais ele tinha acesso privilegiado. Devido a pressões de Lula, do PT e de aliados políticos, o governo de Dilma foi aumentando o quadro de pessoas em cargos de confiança. A boa prática da gestão administrativa indica que o número de subordinados diretos de um executivo, para prover eficiência à organização, não pode passar do limite entre 7 mais ou menos dois, ou seja, entre cinco e nove. Pois o governo Dilma atingiu incríveis 40 ministérios, além do peso enorme e paquidérmico das estatais como a Petrobrás, hoje completamente desmoralizada no mercado internacional e a caminho da falência, graças aos escândalos de corrupção e incompetências na sua gestão. É a empresa mais endividada do mundo. Depois de 12 anos de governo do PT, o seu quarto mandato está à perigo, ameaçado pelo clamor popular, que pede uma intervenção militar imediata. 

Intervenção militar? Que novidade é essa? 



 




Um comentário:

  1. Além do contexto histórico, ganhei também, Caetano e Chico.
    Assim como o homem se faz por sua história, uma Nação se faz pelo conjunto de homens que a contém.

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