terça-feira, 26 de janeiro de 2016

LUGARES IMPROVÁVEIS - Curitiba e a 34ª Oficina de Música




Não fosse pelo sol escaldante à pino, Curitiba teria sido neste janeiro um verdadeiro paraíso. Ruas tranquilas, quase sem engarrafamentos, parques e praças de padrão europeu, limpos e bem cuidados, gente educada nos teatros e restaurantes, enfim, a turba estava toda de férias nas praias, enquanto os músicos, arranjadores, compositores e estudantes, montavam um cenário cultural e artístico dos mais importantes na América Latina. Sopros, cordas e metais dedicados à 34ª OFICINA DE MÚSICA, que se realiza entre 07 e 27 de janeiro de 2016. 

Curitiba desde há muito tempo pratica a arte musical erudita, como poucas cidades brasileiras. À esta modalidade, vieram juntar-se brasileiros e estrangeiros que admiram ou praticam a música popular brasileira, como o samba, o chorinho, a valsa, a bossa nova e a música caipira, assim como experimentações de novos sons e tecnologias. Até o velho e bom rock-and-roll teve seu espaço.  Dos 113 professores que ministraram cursos e oficinas ao longo do festival, numa passada de olhos eu, que sou leigo no assunto, identifiquei algumas das figuras emblemáticas do cenário musical popular brasileiro, Sergio Valdeos, violonista peruano; Roberto Correa, violeiro; Paula Santoro, cantora, atriz e produtora; Paulo Belinati, violonista; entre outros.  

Cheguei à cidade na sexta feira 22,  à noite, e já vi um show fantástico com dois violões, o de Paulo Belinati e o de Marco Pereira.  São simplesmente dois monstros sagrados entre os principais instrumentistas brasileiros. Milhares de jovens estudantes aprendiam e aplaudiam na platéia.



Sábado, era dia de rock, estranhamente com o sol de meio dia queimando o palco na Boca Maldita, como convém a este estilo musical. A Banda Gentileza continuou apresentando estranhamentos, com um repertório inteligente e audível. Rapazes jovens e talentosos, bem educados e bons músicos, quase não combinando com a tribo que ali estava para esperar a apresentação dos velhinhos da Blindagem,  a épica banda do Paulo "chutes de poeta não levam perigo à meta" Leminski, cujo crooner foi Ivo Rodrigues, o "lobo da estepe". Ambos morreram de cirrose, para mostrar que não pegavam leve de jeito nenhum.   





Na noite do sábado, veríamos algo muito raro. Um quarteto camerístico só de violões, o Quarteto Maogani. Eles tocaram canções autorais variadas do quarteto e outras do disco Canela, que gravaram no Peru com o cantor Renato Braz, um intérprete único, de primeira linha. 



Agora, me diz, por que não se faz algo assim em Floripa? Das três capitais do sul, a nossa é a mais desprovida de atividades culturais. Será por que Curitiba e Porto Alegre possuem duas grandes Universidades e vários conglomerados educacionais ?  A nossa capital também tem duas grandes, UFSC e UDESC, além de várias fundações e entidades privadas como Unisul, Univale, Colégio Catarinense, etc., todas de grande importância e inserção social. Será por que Curitiba teria gestores melhores que os nossos? O atual prefeito de Curitiba é do PDT, que, assim como o PSD de Raimundão e Cezinha, estão na base aliada do PT federal. 

Será, então, que os políticos de Curitiba são mais cultos? E por isso dariam maior apoio para projetos culturais não comerciais? Aqui no estado também temos uma secretaria e um conselho estadual de cultura, que selecionam projetos a serem apoiados pelo setor público. Se usam estes recursos para patrocinar corridas de patinete, é por que se sentem à vontade, sem pressão da sociedade. Os políticos de Curitiba não são especialmente interessados em arte, por que isso não dá voto, nem lá, tampouco cá. O que acontece é que Curitiba foi capaz de criar pressão sobre os políticos que comandam o Estado e suas verbas, através de uma opinião pública atuante, politizada e organizada.    
  
Antes de pagar 300 reais ou mais para assistir um show de grandes artistas nacionais, pense que você poderia ver algo semelhante ou até superior, pagando a micharia de 10 reais, como eu paguei em Curitiba. 

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