Tango, a sensualidade dançável. |
VOLVER (Carlos Gardel e Alfredo le Pera)
Antes da segunda guerra mundial os tangos tinham força dramática impressionante. A começar com La Cumparsita, o primeiro sucesso mundial, seguiram-se grandes tangos de forte impacto como À Media Luz, Cuesta Abajo, Cambalache e tantos outros que ficaram na memória inconsciente do público, retratando quase sempre crises morais e decadência, em ambientes que misturavam elegância e violência, sedução e traição. Carlos Gardel, que foi o maior de todos, pertencia a esse universo meio marginal, meio romântico. Consta que frequentava o baixo mundo de Buenos Aires e interagia profundamente com os personagens que descrevia em suas canções, a ponto de ter sofrido um tiro, disparado por ninguém menos que o pai de Ernesto Guevara, o futuro Chê, numa briga de bar, não sei dizer se disputando alguma dama da noite. No entanto, quando excursionava pela Europa na década de 1930, Gardel encontrou em Paris o paulistano naturalizado argentino, Alfredo le Pera, que passou a cuidar não só das letras das músicas, mas também do figurino e da imagem do ídolo, além de dirigir seus filmes. Em 1935 os dois produziram juntos o mais brilhante disco de tango de todos os tempos, poucos meses antes de ambos morrerem no acidente aéreo que os vitimou e à toda a orquestra. Era simplesmente fantástico, pois trazia pérolas como El Dia que me Quieras, Por una Cabeza (que foi tema do filme Perfume de Mulher) e, na minha opinião, um dos tres mais belos tangos de todos os tempos, VOLVER, um poema escrito por Alfredo, dando cor à inconfundível marca tangueira do grande moroso del Abasto, o bairro onde cresceu o pequeno marginal que veio com sua mãe do Uruguai, para ali se instalar quando ele tinha dois anos de idade. Aqui, mostramos Volver na voz da espanhola cantora de flamenco, Estrella Morente, trilha sonora da famosa película homônima dirigida por Pedro Almodóvar.
BALADA PARA UN LOCO (Astor Piazzolla e Horácio Ferrer)
Astor Piazzolla já nasceu milionário, pois era filho de um grande empresário da cidade de Mar del Plata. Este senhor tinha grandes planos para o filho: queria vê-lo dirigindo óperas e grandes orquestras sinfônicas no circuito Paris-Nova Yorque, por isso o mandou estudar música nos Estados Unidos. Acontece que o pequeno Astor gostava mesmo era de bandoneón e tango, o que lhe era proibido terminantemente pelo zeloso pai. Mas, não teve jeito. Assim que se viu formado, Piazzolla voltou para a Argentina e se instalou em Buenos Aires, onde aprendeu a técnica perfeita com uma orquestra clássica de tango, para, em seguida, revolucionar tudo e mostrar o que vale uma boa formação erudita. Seu início de carreira nos anos 1950 foi tão conturbado e suas canções tão complexas, que os tangueiros o proibiram de anunciá-las como "tango". Então, ele passou a chamá-las de "música contemporânea da cidade de Buenos Aires", para não se misturar aos desafetos que o rejeitavam. Porém, chegados os anos sessenta, Astor Piazzolla começou a pegar o jeito do gosto popular e lançou um grande hit, que descrevia poeticamente nos versos de Horácio Ferrer, as aventuras de um maluco beleza completamente doido e santo, livre nas ruas da capital portenha, "mistura rara do penúltimo vagabundo com o primeiro caroneiro clandestino na viagem para Vênus". Assim nasceu Balada para un Loco, neste vídeo interpretado pela atriz Joseán Morloesin Mellado, com ilustrações dela própria.
SUR (Anibal Troilo e Homero Manzi)
Anibal Troilo é tão importante que a data de seu aniversário foi declarada "Dia Nacional do Tango" na Argentina. Veio do Uruguai ainda criança, como Gardel, e também se naturalizou argentino. Está situado cronologicamente entre Gardel e Piazzolla, lá pelos anos quarenta. Morou a vida inteira perto do obelisco da Avenida Nove de Julho, o ponto emblemático da capital. Tinha precária saúde cardíaca e, por mais que tomasse cuidados, provavelmente a fumaça dos cigarros de terceiros, nas longas noites passadas desempenhando sua arte pelos cabarés, acabou liquidando com seu FRÁGIL coração. Antes da hora, por que mal passara dos cinquenta anos. Foi o professor que ensinou bandoneón para Astor Piazzolla, que aqui lhe presta uma homenagem mais do que sincera, tocando ao seu estilo próprio a mais importante canção do mestre, considerada pelos críticos como o mais belo tango jamais feito. O cantor é Roberto Polaco Goyeneche, o crooner eterno da banda de Anibal Troilo. A canção fala de uma Buenos Aires que não existe mais, quando um velho se põe a recordar o passado, do tempo em que namorava sua pequena e adorada mulher, nos seus "vinte anos de idade tremendo de carinhos". Desiludido, chega a conclusão de que "nunca mais iluminarei com as estrelas nossas caminhadas tranquilas pelas noites de Pompéya", partindo da esquina de barro e pampa, San Juan com Boedo antiga, o ar ainda puro perfumando a noite com aromas de ervas daninhas e alfafa.
Essa ficou super porreta pai ;-)
ResponderExcluirJá está numa maturidade maior e traz só o néctar da informação. Parabéns!
O Tango está fora de moda no Brasil, por que a Rede Globo e toda a mídia resolveu investir no brega. À partir do fenômeno Michel Teló, todos os empresários estão tentando criar seu próprio "michelzinho", pagando jabás milionários aos Gugus e Faustão da vida, tentando emplacar seus queridinhos, que são sempre bonitinhos e sem talento. Passou a fase em que os promovidos pela mídia, pelos menos tinham algum valor artístico, tipo Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Chororó, Sérgio Reis, etc. Não! Hoje a manipulação é total. Todos são iguais e a diferença está no marketing. Lo siento mucho!
ResponderExcluirLaércio, concordo com o que fala sobre a media insistir em emplacar "cantores" e "músicos" de talento duvidoso ou de sucesso de uma música só. No entanto eu comecei a mudar de opinião sobre Michel Teló, o cara é sim um músico de primeira e um grande cantor e nem se trata de gosto pessoal. Sou mais um bom jazz, rock e tango. Mas o cara não é fraco não. Procure investigar melhor. Michel é multi instrumentista e domina o acordeón, piano, violão e outros instrumentos. É bom o menino, senão nem estaria na media a tanto tempo.
ExcluirPorém, na Europa, o tango é considerado coisa de primeira. Não sei por que, mas, os europeus, especialmente os espanhóis, enxergam os argentinos como povos civilizados, cultos, os preferidos de mama españa. Bem sabemos que eles são como nós, corruptos, miseráveis e cruéis, adicionados da soberba que os faz pensar serem ingleses no comportamento e italianos na culinária. Cada cidade francesa tem sua academia de tango. Não é muito diferente do resto do continente. Enquanto isso, o samba é pensado como ritmo de bárbaros.
ResponderExcluirMuito interessante esse resgate da historia do tango. Uma dança que valoriza a sensualidade da mulher sem destacar seu bumbum. Por isso no Brasil não é sucesso.
ResponderExcluirAmavel abraço
Muito bom. Meus favoritos são "Por una Cabeza" (1935), de Gardel; "Adiós Noniño" (1969), "Balada para un Loco" (1969) e "Libertango" (1974), de Piazzolla. =]
ResponderExcluirO tango é somente para aquele amam e sentem a musicalidade sexual.
ResponderExcluirO tango é um lamento cantado
ResponderExcluirNo Brasil; pesquisa realizada em 2010 ( ECAD/Editoras ), para se apontar os tangos mais executados em rádios, nos últimos cem anos; a listagem apontou esse resultado: 1º)"La Cumparsita"; 2º)"El Dia Que Me Quieras"; 3º)"A Media Luz"; 4º)"Adiós Muchachos"; 5º)"El Choclo"; 6º)"Caminito"; 7º)"Tango Pra Teresa"; 8º)"Jalousie - Jealousy"; 9º)"Júrame";10º)"Blue Tango";11º)"Guitarra Romana"; 12º)"Olé Guapa"; 13º)"Adiós Pampa Mía"; 14º)"Por Una Cabeça"; 15º)"Uno"; 16º)"Hernando's Hideaway"; etc...Esses, são considerados os mais populares em todo o Brasil....( Walmir Dantas ).
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