segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Corais nas Termas do Gravatal


Há um grupo de estâncias termais situadas próximo do litoral Sul de Santa Catarina. A começar pela capital, Florianópolis, que conta com pelo menos duas estâncias hidro minerais de alta qualidade, Caldas da Imperatriz e Águas Mornas. A primeira delas já era utilizada nos tempos da colônia, ou seja, quando a corte portuguesa mudou-se para o Rio de Janeiro, fugindo da aproximação das tropas de Napoleão na Europa. Consta que no ano de 1808 já existia ali uma infra estrutura básica para banhos termais, que eram usufruídos pelos cidadãos do império, que naturalmente a julgavam suas, de bem e de direito. Não era o que achavam os índios selvagens que habitavam as matas da Serra do Tabuleiro, tanto que numa bela noite daquele ano,   atacaram a cidadela e mataram vários soldados, manchando com sangue a história das águas medicinais em nossa região. 


Coral Energia em Canto, da Eletrosul, e seu regente Robson Medeiros Vicente

Mais ao sul, ao lado do município de Tubarão, existem mais tres estações termais, sendo a maior delas a da cidade de Gravatal. Há ali vários bons hotéis e condomínios de alto padrão, além  dos loteamentos ocupados por pessoas simples e pobres. Afinal, alguém teria que executar os trabalhos mais humildes e necessários para o usufruto pleno dessas ricas fontes de águas termais. 

Um dos símbolos do trabalho de assistência psicológica e espiritual para a população católica local, tanto aos banhistas como aos trabalhadores, é executado pelo pároco da Igreja de Termas do Gravatal, onde se realizou em 3 de agosto de 2013 o 28º Encontro de Corais. O festival começou por volta das 15 horas de um sábado surpreendentemente quente, depois de temperaturas próximas de zero grau, que caracterizaram o inverno catarinense neste ano. Terminaria com uma missa seguida de jantar festivo, que se encerrou debaixo de um grande temporal que duraria toda a madrugada de domingo. 

Nem o calor do dia ou a chuva da noite assustou os mais de setecentos cantores, músicos, regentes e outros artistas envolvidos com as apresentações. Ao final da missa, foi entreouvida entre os religiosos presentes a constatação de que nunca houvera ali uma missa tao bem cantada. Pudera!

A música sempre esteve associada com a religiosidade, desde os tempos atávicos das cavernas, quando os nossos ancestrais usavam batuques com paus e pedras, afim de chamar a atenção dos deuses e animar seus rituais. Posteriormente, civilizações talvez mais adiantadas que as atuais usavam sons especiais para se reconectarem com suas origens cósmicas. Os budistas antigos do oriente chegaram na sonoridade que expressava de forma completa a presença cósmica em suas vidas e criaram o OM, o som universal. Continua sendo muito usado ainda hoje em dia. 

Numa aula de Yoga qualquer, sempre há algum espaço dedicado às atividades de Meditação e, nestas ocasiões,  é possível observar os praticantes com os dedos indicador e polegar ligados, praticando uma tal respiração onde o ar é expelido  de modo a produzir o som "ômmmmmmnnnn" até o esvaziar completo dos pulmões. Nesse espaço de tempo, toda a atenção está focada na respiração e no som emitido. Não se deve deixar a mente vagar por outras recordações, assuntos ou interesse. Essa é uma das formas de meditar, ou seja, "ditar a mim mesmo", ou, de outra forma, "ouvir minha voz interior".   Isso produz uma paz de espírito tão grande que a pessoa sai da experiência renovado, pronto pra outra!  Muita gente usa este recurso para resolver problemas que aparentemente se mostravam insolúveis. É a sabedoria divina a nosso serviço!

O mesmo acontece nas catedrais, especialmente as católicas, que possuem o recurso do sino de bronze a produzir som semelhante...  Observe o badalar dos sinos de uma catedral e sinta que o som parece expressar o "ômmmmmmmnnn" dos budistas. É o som da conexão com a Mônada, a energia divina que está dentro de todos os seres. Imagine uma cidade católica nas montanhas de Minas Gerais, São João del Rey, por exemplo, com todas as maravilhosas igrejas tocando ao mesmo tempo. Que convite irrecusável para a reflexão e a oração! Dentro de uma igreja, parece que o ambiente é mais limpo e menos carregado, graças à influência do som dos sinos. Se a esse badalar agradável é acrescentado o som de vozes humanas, então, a conexão está perfeita. O "Améééémmmnnnn" cantado regularmente nas missas tem o mesmo efeito de limpar o ambiente de energias pesadas. Tudo em nome da beleza! Ela também conduz ao sagrado, como no ambiente de penumbra e incenso de uma grande catedral européia da idade média. Imagine-se assistindo um cerimonial na catedral de Notre Dame, Paris, à beira do Rio Sena, ouvindo cantos suaves em latim. O céu não estará muito distante. 

Não se pode dizer que a catedral de Gravatal seja Notre Dame, muito ao contrário, trata-se de uma igrejinha simples, sem grandes colunas, com acústica imperfeita e tudo o mais que caracteriza uma construção feita com parcos recursos, mas, na tarde de sábado, coral após coral, nossos ouvidos iam se acostumando ao som sagrado. Foi quando o Coral Encantos, de Florianópolis, entoou um canto evangélico. Todos ficamos grudados nas faces cantoras que acompanhavam o comando do regente Robson Medeiros Vicente, ora aumentando o volume, ora diminuindo até o limite de nossa sensibilidade, ou fazendo nosso coração explodir em júbilo e lágrimas que rolavam sem controle de nossos olhares encantados.


Coral Encantos, de Florianópolis

Quando um coro essencialmente católico canta um hino clássico evangélico, fica claro que a religiosidade e sua emoção não tem donos. Assim é que deve ser. "Mestre, o Mar se Revolta" foi composto em 1831, na cidade de Chicago, EUA. Mas, poderia tê-lo sido num mosteiro budista da Índia ou católico do interior de Minas Gerais. O importante é a conexão espiritual que ele possibilita. Como seria igualmente possível num hino católico, cantado pelas vozes de um coro luterano, ou numa canção luterana, cantada por vozes anglicanas, como nessa gravação clássica do coro Monteverdi, de Londres.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ggm0SZCWKZo


O Monteverdi Choir 

foi escolhido há alguns anos como o melhor do mundo, 
pela revista Deutch Gramophone.






2 comentários:

  1. Muito bom o dia de sábado e também seu comentário sobre as estâncias minerais da região.

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  2. Opa! Complementou! Agora ficou ainda melhor.
    Quando falastes do som dos sinos, fui remetido para a Áustria, onde estive com a Elisabete e minha filha Fabíola, em 2008, na cidade de Innsbruck. Passamos uma tarde por lá, nos admirando com a eternidade da neve cobrindo os Alpes, o casario e os prédios antigos e como não podia deixar de ser, com as Catedrais. Estávamos no alto da torre de uma delas quando soaram os sinos de todas. A cidade é cercada pelas montanhas (nem sei como tem aeroporto por lá). Simplesmente fantástico. Os sinos davam uma badalada a cada 15 minutos e, nas horas cheias era aquele som mágico. Além da qualidade dos sinos acho que tem o efeito do cerco das montanhas. O que mais me impressionou. Fiquei encantado.

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