O Teatro
Colón de Buenos Aires rivaliza com o Scala de Milão e a Ópera de Viena,
disputando o título de melhor acústica do mundo, segundo os entendidos no
assunto. Não é o caso deste que vos fala, eu que sequer conheço os dois
europeus, mas, mesmo não entendendo nada de acústica, sou capaz de apreciar a
beleza e não creio que seja possível algo mais belo e encantador do que o
prédio da avenida Nove de Julio, com sua estampa em mármore rosado português
tomando todo o quarteirão.
Eu estava
na Argentina em novembro de 2006 e assisti pela TV o último concerto
antes do Colón ser fechado para reformas. Foram duas horas de musica popular
argentina, onde Mercedes Sosa trazia ao palco as figuras mais representativas
daquele país, para acompanhá-la em uma de suas últimas apresentações, antes de
cair definitivamente doente e morrer. O único inconveniente daquela festa foi a presença
de uma orquestra sinfônica imensa, todos de fraque preto e camisas brancas,
algo perfeitamente dispensável em se tratando de música folclórica. Imaginem
uma canção como "Zamba de mi
Esperanza" , utilizada intensamente para combater a ditadura de
1976, normalmente acompanhada apenas de um simples violão, agora tocada
por uma centena de violinos. Devia ser justamente para sufocar o poema e fazer
esquecer as origens da canção.
As nossas artes
mesmo estão largadas ao léu, na sarjeta dos malditos, enquanto os órgãos
encarregados da cultura estão subalternos aos assuntos esportivos das
instâncias de governo. A orquestra sinfônica estadual foi despejada do centro
cultural que lhe servia de sede. Acabou falindo e, não fosse a solidariedade da igreja católica, até o seu Coro Lírico teria falido junto. Os grupos teatrais vivem de rifa e os corais
são patrocinados pelos próprios cantores. Sucesso garantido mesmo, só na
noite ilhoa, onde os bares que costumavam apresentar blue-jazz passaram a tocar
sertanejo-universitário.
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