domingo, 13 de janeiro de 2013

Quando fui para a pampa

A palavra "pampa" para nós brasileiros está ligada ao interior do Rio Grande do Sul. Todos imaginamos os gaúchos como os aventureiros dos "pampas", e assim tudo fica meio explicado, meio misterioso, afinal quem são esses pampeiros e como se originaram? Instintivamente, nos damos conta de que se trata de mais uma mestiçagem com os castelhanos. O próprio termo "gaúcho" , para muitos de nós não passa de uma identificação dos habitantes ou nativos do Rio Grande do Sul... Não vamos entrar nesta questão, por enquanto. Vamos ficar apenas com o significado da palavra "pampa",  o que já nos dará suficiente trabalho. 

A palavra "pampa" é um vernáculo Quechua, língua de diversos povos indígenas subordinados ao império Inca, que ia do sul da Colômbia ao norte da Patagônia.  Significa "planície", exatamente o relevo geográfico predominante que se inicia na metade de baixo do Rio Grande do Sul e vai até as escarpas de acesso a Bariloche, nos Andes argentinos. Neste imenso território floresceram dois importantes ritmos musicais. Um urbano, criado nas cercanias de Buenos Aires e Montevidéo, o mundialmente conhecido "Tango". Outro, rural, originado nas solidões perdidas das terras onde não se vê nada além do horizonte, um ritmo tão importante quanto o tango, só que absolutamente desconhecido fora de sua zona de influência regional. Este ritmo é a "Milonga", presente com muita força, inclusive em nossa pampa gaúcha, quero dizer, naquela planície pampeira que fala português. 

No entanto, existe uma outra Pampa, não ao nível do mar como a que estamos falando. A "pampa" andina situa-se a 2 mil metros de altura. Os únicos animais que habitam aquelas paragens nevadas no inverno e quentes no verão, além dos insensatos humanos, são as alpacas e lhamas, animais mamíferos que substituem com vantagem vacas e cabritas.  Os humanos lá estão por conta de uma indústria importantíssima para a economia global, a mineração. A vida destes pobres mineiros foi cantada por muitos poetas, no entanto, nenhum deles chegou perto da chilena Violeta Parra. 





A canção de Violeta é do início da década de 1960. Imediatamente foi associada com as músicas de protesto político que influenciou fortemente aqueles anos no mundo todo, a partir de movimentos denunciando a cruel injustiça que predominava em nossos países terceiro mundistas, vítimas quase sempre da guerra fria entre o "primeiro" e o "segundo" mundos. 

ARRIBA QUEMANDO EL SOL é um tremendo clássico do cancioneiro popular chileno. Clássico e perigoso, por que aqueles que a cantavam nos anos da ditadura Pinochet eram automaticamente acusados de comunistas traidores da pátria, como os rapazes do grupo folclórico Inti Illimani ("festa do sol", em quechua), um dos grupos latino americanos de mais belo vocal que já ouvi. Por cantarem essa e outras canções de Violeta, notória comunista morta em 1966, o Illimani foi expulso do Chile. Só voltou depois que os milicos de Pinochet já não mandavam na justiça e na polícia chilena. Fizeram um show no Estádio Nacional de Santiago, no ano de 2002, para resgatar aquele importante monumento da história moderna do Chile, onde brilhou Mané Garrincha em 1962, que os fascistas transformaram em campo de concentração, logo depois do golpe em 1973, local do sacrifício de milhares de cidadãos chilenos, cujo único crime foi  o de pensar diferente. Naqueles anos, pensar era muito perigoso. Ser independente também. Era por demais arriscado. Apenas por que se negou a saudar o ditador Pinochet, convidado de honra dos ditadores brasileiros, em visita ao "nosso" Congresso Nacional, o deputado baiano Francisco Pinto foi punido com a perda do mandato. Anos de chumbo puro. Salve Inti Illimani e sua festa da reconquista do Estádio Nacional para a nação chilena em paz, ainda que continue injusta!   



2 comentários:

  1. Muito legal o texto pai, gostei bastante do video dos Inti Illimani já velhinhos hehehehe que bom que eles sobreviveram aqueles anos relativamente sãos, nem todos os que contestaram o "poder constituído" conseguiram

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  2. Interessante a sua sensibilidade em escrever de forma tão delicada e intensa sobre os pampas e sua cultura.

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