Em 1982 eu estava apurando de forma paralela as eleições para governador de Santa Catarina, a partir dos boletins de urna liberados pelo TRE-SC. Apesar de filiado ao nascente PT, eu e mais uma galera do departamento de computação da UFSC estávamos servindo como voluntários ao PMDB e seu candidato ao governo do estado, que tentava tirar do poder a oligarquia Ramos-Bornhausen, apoiadores tradicionais da ditadura militar e detentores do poder no estado há uns cem anos, mais ou menos. Tínhamos montado um centro de processamento de dados na residência do presidente do PMDB, uma mansão na avenida Beira Mar Norte em Florianópolis.
Recebíamos cópia dos boletins de urnas do TRE, digitávamos os dados e computávamos o resultado, para orientação da direção do partido. Percebemos que havia uma quantidade muito grande de votos anulados. Por outro lado, vinham notícias de que no interior, as apurações eleitorais se davam em clima tenso, por que as mesas apuradoras atuavam em favor dos candidatos governamentais da ARENA, o partido da ditadura, depois transfigurado em PDS.
Muitos anos depois, em 1990, fui convocado pelo TRE-SC para trabalhar na primeira experiência de automação da contagem oficial dos votos, a partir da digitação dos velhos boletins de urnas. Designado para o distante município de São Lourenço do Oeste, ao chegar, fui apresentado à juíza eleitoral, que me apresentou em seguida a um senhor muito simpático, a quem ela se referiu como "o nosso candidato".
--- "Como assim, "nosso candidato", excelência?"
--- "Errr, quero dizer, o candidato da cidade".
O "candidato da cidade" era do mesmo PDS da ditadura e perdeu a eleição para um farmacêutico filiado ao PMDB, naquele ano em que o povo brasileiro resolveu que os herdeiros da ditadura não tinham mais sua confiança. Está claro que, em seguida, todos migraram para partidos sociais democratas e se desvincularam da herança maldita da ditadura militar, mas isso faz parte da nossa esperteza política, que não é percebida pelo eleitor comum, como demonstram as nossas várias eleições.
Naquelas eleições manuais, a Juíza exercia plenamente sua prerrogativa de anular votos, principalmente os que não eram destinados ao seu "candidato da cidade". Anulava principalmente os votos no candidato emergente do PT, um agricultor ligado ao movimento católico das comunidades. Ouvi um assessor da Juíza chegar no ouvido dela e dizer "doutora, os petistas estão irritados, temo pela segurança das apurações, a senhora está anulando muitos votos deles". A resposta dela, de modo totalmente autoritário, me impressionou pra caramba, eu, um já experimentado veterano em apurações. Ela disse, do alto de seu autoritarismo: "Não tenho culpa se eles não sabem votar!".
A questão das urnas eletrônicas volta a pauta de discussões na sociedade brasileira. A moda agora é acusar que as urnas são fraudadas, de modo a desviar os votos de uns e passá-los para outros candidatos. No entanto, não há uma única prova cabal de que isso tenha acontecido. São apenas denúncias vazias.
Na minha opinião, o projeto da Urna Eletrônica foi a maior conquista da tecnologia de informação nacional, superior até a automação bancária, além da comercial, nas quais nós somos sem dúvida os campeões mundiais. Eu acompanhei de perto este desenvolvimento, por que passei seis meses cedido pela Eletrosul ao Tribunal Regional Eleitoral de SC, que foi pioneiro na contagem de votos apoiada por computador e forneceu preciosos subsídios para o projeto da urna eletrônica. Mas, o projeto em si foi desenvolvido pela indústria de software nacional, formando um conglomerado colaborativo. Talvez a palavra fosse "consórcio", mas eu não sei se eles estavam associados como uma joint venture, por isso não uso esta palavra. O produto final foi uma combinação de hardware e software que nos colocou na ponta de lança mundial das apurações eleitorais de grande volume. Imagine uma eleição com 140 milhões de votos a serem contados. Isso não existe em lugar nenhum do mundo, por que os países com grandes volumes eleitorais são descentralizados em vários níveis, como na China e Rússia, ou regionalizados, como nos Estados Unidos.
As Urnas Eletrônicas não estão conectadas aos servidores centrais por via Internet, portanto, não são acessáveis por hackers ou criminosos virtuais. As redes são protegidas por criptografia on line, ou seja, ninguém a não ser o próprio sistema detém as chaves de descodificação dos dados.
A única forma de fraudar a Urna Eletrônica seria a partir da sua operação, ou seja, apenas os operadores poderiam alterar o resultado da votação, simulando votos não existentes. Por exemplo, colocando votos de pessoas que não compareceram à votação. Alterar um voto dado e registrado na Urna é impossível.
É uma pena que uma experiência tão vitoriosa do ponto de vista técnico e científico, esteja sendo massacrada pelos políticos oportunistas. O voto impresso é outra falácia, mas, sobre isso falaremos em outra ocasião.
Enfim, o que isso tem a ver com os Telhados de Paris? Nada! É apenas uma canção do Nei Lisboa, velho amigo de Porto Alegre que morou na Trindade, aqui bem pertinho da UFSC ... É uma das canções hippies mais belas jamais feitas na música brasileira.
A questão das urnas eletrônicas volta a pauta de discussões na sociedade brasileira. A moda agora é acusar que as urnas são fraudadas, de modo a desviar os votos de uns e passá-los para outros candidatos. No entanto, não há uma única prova cabal de que isso tenha acontecido. São apenas denúncias vazias.
Na minha opinião, o projeto da Urna Eletrônica foi a maior conquista da tecnologia de informação nacional, superior até a automação bancária, além da comercial, nas quais nós somos sem dúvida os campeões mundiais. Eu acompanhei de perto este desenvolvimento, por que passei seis meses cedido pela Eletrosul ao Tribunal Regional Eleitoral de SC, que foi pioneiro na contagem de votos apoiada por computador e forneceu preciosos subsídios para o projeto da urna eletrônica. Mas, o projeto em si foi desenvolvido pela indústria de software nacional, formando um conglomerado colaborativo. Talvez a palavra fosse "consórcio", mas eu não sei se eles estavam associados como uma joint venture, por isso não uso esta palavra. O produto final foi uma combinação de hardware e software que nos colocou na ponta de lança mundial das apurações eleitorais de grande volume. Imagine uma eleição com 140 milhões de votos a serem contados. Isso não existe em lugar nenhum do mundo, por que os países com grandes volumes eleitorais são descentralizados em vários níveis, como na China e Rússia, ou regionalizados, como nos Estados Unidos.
As Urnas Eletrônicas não estão conectadas aos servidores centrais por via Internet, portanto, não são acessáveis por hackers ou criminosos virtuais. As redes são protegidas por criptografia on line, ou seja, ninguém a não ser o próprio sistema detém as chaves de descodificação dos dados.
A única forma de fraudar a Urna Eletrônica seria a partir da sua operação, ou seja, apenas os operadores poderiam alterar o resultado da votação, simulando votos não existentes. Por exemplo, colocando votos de pessoas que não compareceram à votação. Alterar um voto dado e registrado na Urna é impossível.
É uma pena que uma experiência tão vitoriosa do ponto de vista técnico e científico, esteja sendo massacrada pelos políticos oportunistas. O voto impresso é outra falácia, mas, sobre isso falaremos em outra ocasião.
Enfim, o que isso tem a ver com os Telhados de Paris? Nada! É apenas uma canção do Nei Lisboa, velho amigo de Porto Alegre que morou na Trindade, aqui bem pertinho da UFSC ... É uma das canções hippies mais belas jamais feitas na música brasileira.