quarta-feira, 22 de julho de 2015

POLÍTICA É O FIM! Apud Caetano Veloso


Em 1980, Caetano era o perfeito intérprete de tempos soturnos.

O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis, que designa aquilo que é público. O significado é muito abrangente e está relacionado com o espaço público. Na tradição ocidental, a política é a ocupação do espaço público por interesses privados, organizados segundo orientações ideológicas e negociais, as quais constituem os partidos políticos.  

A melhor frase sobre política que já ouvi foi feita por Caetano Veloso: "Eu só queria que o prefeito desse um jeito na cidade da Bahia".


Brincadeira, na verdade Caetano está entre os melhores poetas da língua portuguesa, capaz de fazer brilhantes versos musicados, como esses: 




"Será que apenas os hermetismos pascoais 
e os tons, e os mil tons, seus sons e seus dons geniais,

nos salvam, nos salvarão dessas trevas, e nada mais?

Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
 daqueles que velam pela alegria do mundo
indo mais fundo, tins e bens e tais"




Meu tempo de militante político já passou, mas, lembro-me que fui fundador do PT.
Na verdade, já era "petista" desde muito antes, quando participei da luta estudantil pela retomada da democracia no país. Participei do lendário Congresso da Classe Trabalhadora em Praia Grande, SP, no ano de 1981. 

Rompi com o PT orgânico em 1982, quando eu achei que era mais importante apoiar a candidatura do peemedebista Jaison Barreto ao governo de Santa Catarina. Ao defender essa posição numa plenária, fui expulso da tribuna, sob vaias que me impediam de falar. A velha tática da esquerda totalitarista, aqui em Floripa dominada pela LIBELU (cuja secretária geral, que pregava a luta armada,  é atualmente secretária pessoal de Lula, aquela que anota os compromissos impublicáveis) e pelo MEP (valentes "revolucionários", atuais serviçais do palácio do planalto e outras instâncias, as famosas "boquinhas"). 
Naquela eleição de 1982, fui indicado delegado do PT junto a justiça eleitoral, que, pela primeira vez, usaria um computador para totalizar os votos. Questionei que a empresa contratada para o serviço era o SERPRO, estatal do governo federal da ditadura, que tinha interesse na vitória da antiga ARENA, então atual PDS, partido do candidato do governo, Esperidião Amim. A imprensa presente se agitou e veio me entrevistar, enquanto os desembargadores do TRE coçavam as cabeças. Mas, a encrenca não foi feita pelo SERPRO, cujos representantes vieram me convidar para um jantar, ao qual, evidentemente, eu recusei.
A grande fraude das eleições de 1982 foi cometida nas juntas de apuração locais. A coisa funcionava assim: vários voluntários constituiam uma turma de apuração, que contavam manualmente os votos e preenchiam um "boletim de urna". Esse Boletim era enviado para o Centro de Processamento de Dados, para ser totalizado. Neste preenchimento, algumas vezes eram alteradas as intenções dos eleitores. Quando saia dali, o que passava a valer era o Boletim, pois os votos eram enterrados numa sacola e nunca mais seriam abertos, a não ser que algum juiz autorizasse uma recontagem. Exatamente o que vai acontecer com os votos impressos agora aprovados pelo congresso nacional.
Pois bem, uma cópia desse Boletim era distribuída para a imprensa e para cada coligação participante do pleito. Nós montamos um CPD próprio na casa do presidente do PMDB, onde digitávamos a nossa cópia e acompanhávamos par e passo a apuração do SERPRO. Dali, recebíamos as notícias das fraudes no interior do estado, mas também na capital e grandes cidades. A Arena dominava tudo, afinal, os funcionários públicos, bancários e chefes de escritórios, que eram o típico público voluntário da apuração, até outro dia eram obrigatoriamente do partido da ditadura, mesmo que não concordassem com ela.
Mas, também acompanhávamos que a eleição não estava definida. Lá pelo terceiro dia da apuração, já perto do final, a diferença a favor de Amim contra Jaison era de pouco mais de 10 mil votos. Para o senado, Jorge Bornhausen estava apenas mil votos na frente de Pedro Ivo. Nossa turma trabalhava animada, em quatro turnos de 6 horas.
Então o professor do curso de sociologia da UFSC, do diretório estadual do PMDB e coordenador do nosso grupo de trabalho, veio com a notícia: "Pessoal, vamos desmontar tudo. A executiva do partido decidiu encerrar os trabalhos e assumir a derrota". Ficamos perplexos. "Como? Agora que estamos na reta final? Precisamos resistir e mostrar que há fiscalização, senão eles vão fraudar até o certificado de nascimento da mãe!". Não houve jeito. "Ordens são ordens", e desmontamos o CPD. Nem o dono da casa apareceu para dizer "muito obrigado". Foi um verdadeiro velório.

O Professor morreria de câncer, poucos anos depois. Na eleição seguinte, em 1986, o ex candidato a senador, Pedro Ivo, seria eleito governador sem concorrência. O PDS lançou um candidato de mentirinha, apesar de estar no poder. Pedro Ivo também morreria de câncer em pleno mandato. Jaison veio a aliar-se politicamente com o governador eleito na fraude. Mas, felizmente está vivo até hoje, apesar de gagá.  E Santa Catarina ficou na mesma, perdeu oito anos de sua história! Oito anos? Diz aí, Raimundão! Quantos anos você acha que perdemos?
Atualmente, não vejo qualquer perspectiva política para o Brasil. Não há oposição que conte. E os governos são bandos de criminosos organizados em quadrilhas, para expropriar o que resta de riqueza no país. Nunca votei no PT nem no PSDB. Aliás, votei poucas vezes. Nossa única esperança é o povo. O mesmo povo ignorante e despolitizado que temos, que é bem capaz de eleger de novo o Lula, para "salvar o país".  Minha confiança é no movimento da vida, que é capaz de fazer milagres!

Exilado em Londres, macho e saudoso poeta.

Aviadado em Salvador, beijando outros homens. 







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