sexta-feira, 6 de abril de 2012

Norwegian Wood

                    --- Ahhnnn, então você é brasileiro, heim?
                     --- Sim, sou do Brasil. Você já esteve no Brasil?
                       --- Não, não... Fora da Europa, eu só conheço os Estados Unidos.
                        --- Não tem vontade de conhecer um dia?
                          --- Não. O lugar que eu gostaria de conhecer é a Patagônia.




                  
Não faz nada bem para a auto estima nacional ouvir algo assim de um estrangeiro. Como pode alguém, aparentemente bem informado, dizer que prefere geleiras e vulcões, em vez das nossas praias ardentes de sol e mulheres bonitas? Mas, o diálogo existiu mesmo e foi travado numa cabine de navio. Meu interlocutor era um norueguês típico, loiro e forte, olhos azuis e inglês fluente. Antes que alguém imagine coisas, saibam que para mim não foi nada agradável encontrá-lo já instalado na cabine onde eu deveria passar a noite, durante o trajeto pelo mar do norte, entre Copenhaggen, na Dinamarca, e Oslo, na Noruega, viagem que dura umas dezoito horas de navegação. Tinha feito mil fantasias de encontrar uma loira viking, com quem teria quentíssimo afair sobre as ondas frias dos mares nórdicos, e me aparece aquela novidade. Este é o problema de viajar sozinho. Em vez de passar a noite numa agradável companhia feminina, me coube o constrangimento de dividir o espaço com aquela figura rara. Ele também não gostou muito da coincidência, pela cara de poucos amigos que fazia, enquanto balbuciava insistentemente a mesma frase "então, quer dizer que você é brasileiro, heim, ora veja só."  


Apesar da sua panca bem comportada, descobri mais tarde que seus concidadãos gostam mesmo é de uma boa sacanagem. Conversando com uma garota norueguesa, depois que desembarquei na linda capital do país, a gata estava com férias programadas para Recife, no mes de junho, e não acreditou quando eu lhe contei que nessa época fazia frio e havia neve na serra catarinense, onde eu disse que morava. Para eles, nós estamos eternamente na canção do Michel Teló, que, por acaso, está neste momento fazendo o maior sucesso por lá também. 

Voltando à nossa conversa naval, deixei o galego falando sozinho e fui passar a noite na boate do navio. Afinal, era minha primeira viagem num transatlântico e queria aproveitar ao máximo.  Quando me cansava da musica alta, ia para o convés admirar o sol da meia noite. Quanto mais perto do polo norte, mais o sol nunca se põe no verão. No máximo, fica na altura do horizonte, entre meia noite e tres da manhã, aproximadamente, horário em que sai da penumbra e começa de novo a singrar o céu.  Parece que o dia nunca mais vai virar noite, dá uma espécie de medo atávico e a pessoa desacostumada não consegue dormir direito. Você dorme, por que não aguenta mais ficar desperto e, quando acorda, continua sendo dia.  A sensação é estranhíssima!


Viajar em grupo ou em casal é a forma mais confortável de fazer turismo. No caso do casal, é uma aventura espetacular, aprofunda a relação e gera lembranças quase sempre agradáveis, a serem compartilhadas pelo resto da vida. No grupo, você não precisa se preocupar com nada, tudo já está providenciado pela companhia que organiza a viagem. Os hotéis já estão reservados, os passeios que você vai fazer já estão definidos, enfim, não há surpresas e, por este lado, é muito bom. No entanto, a sua liberdade é inexistente ou mínima. E você começa a se perguntar se vale a pena gastar tanto dinheiro para ficar ouvindo gente falar português. Pior ainda quando começam a ligar para suas respectivas casas, a perguntar pela saúde do  cachorro, se a criança já tomou banho ou até para pedir ao filho orientações sobre o funcionamento da filmadora. É de matar! .




Nada que se compare a uma viagem sozinho, numa terra e língua estranhas, onde você tem que se virar por conta própria, desde alimentação até sexo, se for o caso. Talvez o ideal fosse juntar as duas coisas, digo, viajar em casal, mas ter cada qual sua liberdade pessoal. Um amigo me disse que com ele era assim. A mulher ficava no hotel e não se importava se ele passasse a noite inteira fora. Não havia cara feia ou perguntas, quando ele regressava. Disse ele que experimentava mil aventuras eróticas, mesmo quando viajava com a esposa. Bem, na verdade, esse sujeito era magro, alto, bonito e meio gay. Eu, de minha parte, não tenho nenhum destes predicados atendidos, por isso, tenho que batalhar cada momento; e não pense que brasileiros são bem recebidos, por serem simpáticos e bem falantes, como nós mesmos nos achamos. Isso é mito. De forma geral, latino americanos não são bem vindos, nem nos países latinos, quanto mais nos anglo saxões, eslavos e escandinavos. Já passei por situações onde entrei num bar e pedi uma cerveja, sendo praticamente expulso pela garçonete, sob o argumento que não havia a bebida, quando ao meu lado um barulhento grupo de norte americanos bebiam à vontade.  Coisas da vida e da sina de ser pobre. Mas, não vai ser isso que vai nos afastar da grande aventura de correr o mundo, ora, não vai mesmo!  Ainda este ano, quero fazer uma experiência diferente: conhecer a Itália com uma namorada brasileira, porém, dentro de uma excursão espanhola. Só falta encontrar a namorada!






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