está pronto há mais de sete anos, mas nunca chegou à rede comercial. Não é do interesse dos que mandam no país e na sua cultura.
Silvio é um catarinense de Blumenau nascido em 1937. Estudou e iniciou carreira em Curitiba. Seus filmes costumam chocar, pela ousadia das cenas ou pelo conteúdo absolutamente instigante. Há mais ou menos uns 45 anos, seu primeiro filme já tratava da questão do Contestado, "A guerra dos pelados". Ali, ele desmistificava a versão oficial de que a guerra era apenas por divisão de terras entre PR e SC. Ele deixava claro que a guerra era de fazendeiros contra posseiros, em terras devolutas do Estado, num cenário em que a companhia que construía a estrada de ferro PR-RS obteve do governo federal a cessão de alguns quiilômetros de terras ao largo da ferrovia, para ambos os lados. Por causa disso, a estrada talvez seja a que mais dá voltas no mundo, kkk. E mais, ele mostrava aviões do exército bombardeando os acampamentos caboclos, na primeira vez que o invento de Santos Dumont foi utilizado como arma de guerra, o que teria levado o ilustre inventor mineiro ao suicídio, versão historicamente não confirmada.
A guerra propriamente dita, com os combates, emboscadas, incêndios de serrarias e massacres de caboclos nativos, ocorreu no período entre 1912-1916, que coincide com o início da exploração de madeira pela companhia norte americana Lumber, supostamente uma especialista em colonização, subsidiária da detentora da concessão das terras do planalto catarinense, por onde passava a ferrovia. Esta Lumber não estava interessada em colonizar nada, mas, apenas e tão somente na exportação dos pinheiros centenários, que cortava e preparava em suas serrarias, todas equipadas com tecnologia de ponta para a época, operadas por especialistas norte americanos. Estima-se que neste período se tenha exportado cerca de 10 milhões de pinheiros adultos por ano (BISHOP, S. - Relatório da Southern Brazil Lumber and Colonization Company. 1917a (Abril). Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.).
Nessa guerra suja, estava diretamente envolvido o governador de SC, um fazendeiro do planalto, que tinha interesses pessoais nas artimanhas guerreiras. Era o patriarca da família Ramos, detentor de várias homenagens e estátuas espalhadas por Santa Catarina, cujos descendentes, junto com os Bornhausen, formaram uma aliança política que domina o estado há mais de cem anos. Os espíritos dos caboclos do Contestado, que ainda não tenham reencarnado, esperam ansiosamente por uma nova oportunidade para um novo Contestado ...