domingo, 16 de setembro de 2012

ENSAIO







A TV Cultura tinha um programa onde apresentava artistas musicais, mostrando os bastidores de suas vidas,  onde o personagem se expunha de forma franca e supostamente verdadeira, contando seus dramas e alegrias, enquanto cantava ali, ao vivo, seus melhores momentos. Era muito bom. Pena que o governo do PSDB de São Paulo acabou com isso e muito mais que a gloriosa Cultura nos proporcionava. 

Agora, vou passar a descrever bastidores da minha experiência pessoal. Não que eu tenha algo a ensinar, mas, em nome da literatura, aproveitando o suporte multi mídia que temos disponível. Quando se descreve fatos desconhecidos do grande público, penso que muita gente pode se informar melhor do que se passa antes do produto cultural ou político ser entregue ao distinto público. Alguém já pensou no trabalho que dá montar, ensaiar, produzir e, finalmente, apresentar uma peça de teatro? Mesmo assim, há aqueles que debocham dos atores. Eu mesmo, não suporto assistir peças de atores amadores, tipo estudantes ou trabalhadores comuns. Mas, não debocho. O que me encanta são os grandes atores e atrizes, feito Antonio Fagundes e Fernanda Montenegro. No entanto, vocês acham que para eles a coisa foi fácil? Ledo engano. Pelas entrevistas que já vi, suas vidas de sucesso foram construídas com sangue, suor e lágrimas. Da mesma forma, os coros amadores ficam devendo muito em termos de qualidade, mas sempre se inspiram na perseverança de um dia chegar perto do nível de um "Monteverdi Choir", de Londres.  

Participei de várias montagens de apresentações musicais, como baixo coralista. Na Associação Coral, fizemos um espetáculo que correu o estado, em conjunto com uma banda de rock. Foram meses de ensaios, duas vezes por semana. Nas vésperas da estréia, ensaiávamos com a própria banda. Horas em pé, empuleirado no palco, ora cantando, ora esperando a banda se acertar, ora apreciando o ensaio de outros naipes. Amadorísticamente, deixamos o controle do som com a banda. Foi um erro primário. O sonoplasta colocava a guitarra explodindo nas alturas, bateria, contrabaixo, teclado, tudo encobrindo nossas vozes. Mesmo assim, com todos os transtornos não esqueci da emoção de subir ao palco e receber o aplauso de centenas de pessoas, às vezes milhares, em teatros lotados, com o ingresso ao custo de um quilo de alimento não perecível. A grana para pagar a banda e a infra estrutura vinha de incentivos fiscais do governo. Nós cantávamos de graça, e ainda pagávamos uma taxa de manutenção mensal. 



Mesmo num coro de menor porte, o trabalho é o mesmo, talvez até maior, pois a estrutura também é menor. São abnegados voluntários, que se esforçam em um trabalho de grupo, buscando expressar na música a emoção que nos vai levando a um patamar superior de felicidade, até mesmo ouso dizer alegria que alimenta nossos espíritos. No Coral Eletrosul, nossos ensaios são no auditório da empresa, durante o horário de almoço. Porém, frequentemente somos desalojados  para dar lugar a algum evento. Qualquer evento, que poderia ser realizado em qualquer outro espaço, torna-se mais importante que o ensaio do coro. E lá vamos nós para a associação dos empregados, ou para a sala de licitações, enfim, em busca de um espaço amplo onde possamos cantar. Mas, continuamos ensaiando sempre, nunca ninguém pensa em desistir. O regente se esforça em colocar o coral apto a uma apresentação em público e, nesse trabalho, ele gasta horas ensinando e corrigindo os cantores, ensaiando naipe por naipe. Quando todos estão ensaiados, ele junta todos no mesmo canto. E é aquela trapalhada! Tem que começar tudo de novo, reconfigurar cada naipe de acordo com as falhas diante do arranjo correto da canção e, pacientemente, voltar ao grupo. Na véspera da apresentação, o nervosismo leva muitos a desaprender tudo; Lá vai o mestre a reconfortar, dar coragem e corrigir de novo os erros. Adiante, vai um extrato de parte do ensaio do coral, onde os "baixos" aprendem a cantar uma canção que será apresentada no "Outubro Rosa", onde estarão no palco das escadarias da Catedral de Florianópolis um multi-coral de umas 500 vozes.  Aqui é possível constatar o cuidado com que o maestro cuida de cada detalhe. 


Finalmente, chega o dia da apresentação. Aí o papo já é completamente outro. Todos estão sorridentes, com as almas lavadas e brilhantes, como se tivessem tomado um banho de chuva com águas vindas diretamente do espaço cósmico. Nunca vi uma pessoa infeliz no momento de uma apresentação musical de coral, mesmo em ambientes deprimentes como hospitais e prisões, onde cantamos costumeiramente. Aqui, o maestro apresenta um mini coro, formado dentro de uma escola de menores delinquentes em Minas Gerais. É de chorar de emoção, ao ver a música coral a serviço da integração pessoal e social, independente de qualquer linha política ou religiosa. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário