sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Museus



- Quem gosta de museu é velharia ...!  Quem já não ouviu esta frase pelo menos uma vez na vida? Pois se preparem por que ela não vai mais fazer sentido. Os museus estão se transformando tão rapidamente, que daqui a alguns anos não restará nada desses antigos lugares abafados e escuros, cheirando a naftalina, que sempre foi o terror dos turistas e jovens estudantes. Evidentemente que, pra confirmar a regra,  sempre haverá aqueles que adoram o programa, os chamados ratos de museus ou de bibliotecas. A maioria, ao contrário, só costumava visitar museus para registrar suas presenças através de fotos e de lembrancinhas, para na volta poder mostrar aos amigos e comprovar como  são verdadeiramente muito cultos. Quantos que visitam o Museu do Louvre, em Paris, estão realmente interessados nas milhares de peças ali expostas? Garanto que uma boa parte deles querem mesmo é tirar uma foto (proibida) da Gioconda e mandar para seus amigos do facebook...



Mesmo os museus tradicionais, como o citado Louvre de Paris,  ou o Prado de Madrid (já visitei ambos, crianças!), estão se especializando e criando facilidades tecnológicas para atrair públicos de maior diversidade, além de manter sempre alguma exposição temporária em torno de um assunto ou artista, o que os tornam mais atrativos e informa melhor ao visitante. Além disso, essas exposições têm a vantagem de reunir obras emprestadas de outros museus. Foi assim que, há alguns anos,  o Museu Van Gogh, na Holanda, pode reunir um grande acervo do meu grande amigo Vincent, com obras vindas da França, Estados Unidos e Inglaterra, viabilizando a contemplação das obras primas do artista numa única exposição, o que de outra forma seria impossível, principalmente nos períodos de guerra,  quando os museus costumam competir ferozmente entre si, tal qual suas correspondentes pátrias amadas. Com o passar do tempo e a chegada da mais recente modernidade, baseada no velho conceito de aldeia global, foi-se criando uma nova especialidade acadêmica na arquitetura. Se o prezado leitor for pesquisar na Internet, vai ficar impressionado com a quantidade de dissertações e teses sobre o assunto Museologia. 



Algum tempo atrás pude visitar em São Paulo os museus do Futebol e da Língua Portuguesa. Foi uma experiência magnífica! Não é em qualquer lugar que você pode assistir famílias inteiras maravilhadas com as informações culturais que estão recebendo, onde uma multidão de pais se empenham no papel de guiarem seus filhos pelos caminhos do conhecimento, “veja aqui, meu menino, isto você ainda não conhecia”, e a garotada em estado de graça,  encantada diante do novo que se lhes é apresentado, “olha, papai, uma sala tridimensional, tá ligado?”.  Você mesmo não vê o tempo passar e, quando dá por si, transcorreram-se duas ou mais horas da visita que se antevia chata e morosa. Onde mais seria possível um cenário assim, senão no Museu do Futebol?  Ao que consta, é o primeiro museu dedicado exclusivamente ao futebol brasileiro como um todo, registrando-o em milhares de imagens e várias horas de vídeo, além de centenas de objetos que traduzem sua história e emoção.

A localização não poderia ser melhor, debaixo das arquibancadas junto ao portão principal do Estádio do Pacaembu, ele próprio uma verdadeira obra de arte, a começar pela Praça Charles Müller, de onde se tem uma vista privilegiada da cidade de São Paulo. De quando em quando, há uma janela ou sacada saindo para a arquibancada, de onde se pode admirar o estádio por dentro. Ali, observando a garotada correndo no gramado verdinho lá embaixo, você pode se recuperar da emoção de ter visto em três dimensões o lançamento perfeito de 40 jardas, onde o canhotinha de ouro Gerson colocou o rei Pelé na cara do gol italiano em 1970. O museu é simplesmente perfeito!  Na seção de informações sobre os clubes de futebol profissional, que não é interativa,  pude rememorar a escalação do Grêmio Maringá, tri-campeão paranaense de 1963-64-65, época em que este garoto que vos fala teve a chance de ver Pelé jogar pela primeira vez.



O público do Museu da Língua Portuguesa é completamente distinto do Museu do Futebol, embora a emoção da garotada não seja muito diferente. São também centenas de adolescentes, agora reunidos em grandes grupos, todos maravilhados diante das imagens e jogos interativos que contam a história e falam das belezas do nosso linguajar. Inicialmente a curiosidade me levou a perguntar ao orientador da visita por que razão os pais da meninada não estão aqui presentes. Sua resposta não me convenceu, pois ele disse que os ditos cujos pais não teriam a necessária paciência, preparo e muito menos o interesse. Será mesmo?  Mas eles pareciam tão interessados e cultos no museu do futebol ...   Achei melhor deixar esta questão sem resposta e prestar atenção nas professoras e nas explicações que davam aos seus pupilos, enquanto raciocinava comigo mesmo “que maravilha", eu ali já sessentão, no meio da garotada,  assistindo um filme projetado nas quatro paredes e no teto de uma sala espetacular, onde diferentes imagens se entrecruzam ao som de lindas melodias e de citações deveras interessantes de nossos maiores talentos escritores.  Meia hora de puro deleite, pra não dizer palavra mais forte. Depois, quando baixaram os créditos, percebi que a qualidade da obra era compatível com o talento dos que a produziram. Gente da melhor estirpe e não somente de São Paulo ou de um mesmo gênero literário, mas, uma combinação de tudo o que há de bom no país, misturado e peneirado pela competente equipe diretora do filme. As tecnologias computacionais não poderiam ter melhor aplicação do que num museu como este. E como eles abusaram do uso intensivo de tecnologia!

A literatura, assim como qualquer outra modalidade de cultura, é um bem completamente imaterial. Mesmo os livros impressos só têm valor pelo que representam em termos de conteúdo imaterial, que são as idéias e o talento do autor. Fazer a representação disso tudo em forma de museu não é pra qualquer um...  Este realmente é um bem público que deixa qualquer cidadão orgulhoso da cultura do seu país, e sendo eu brasileiro, é pra sentir emoção em dobro, como a que senti ao visitar este museu da língua portuguesa. A temática principal será sempre variável e temporária, tratando  em profundidade um assunto ou autor. A mostra da ocasião enfocava a vida e a obra de Machado de Assis, ocupando todo o segundo piso do museu. É uma chance de ouro para conhecer ou ter uma rápida noção da literatura machadiana. Só a reconstrução virtual da cidade do Rio de Janeiro e os costumes vigentes em 1880, por si só já valem a visita. Eu concordo inteiramente com a idéia geral enunciada pelo museu, a de que as línguas pertencem aos povos que as falam e não às suas pátrias de origem. Assim sendo, Portugal deixou de ser o proprietário da língua portuguesa, até por que são minoria absoluta no seu falar.  De minha parte, se fosse uma pessoa poderosa, já teria declarado a independência da língua brasileira.  Que tal, Presidenta ...???









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