sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Teatros




O Teatro Colón de Buenos Aires rivaliza com o Scala de Milão e a Ópera de Viena, disputando o título de melhor acústica do mundo, segundo os entendidos no assunto. Não é o caso deste que vos fala, eu que sequer conheço os dois europeus, mas, mesmo não entendendo nada de acústica, sou capaz de apreciar a beleza e não creio que seja possível algo mais belo e encantador do que o prédio da avenida Nove de Julio, com sua estampa em mármore rosado português tomando todo o quarteirão.

Eu estava na Argentina em novembro de 2006 e assisti pela TV o último concerto antes do Colón ser fechado para reformas. Foram duas horas de musica popular argentina, onde Mercedes Sosa trazia ao palco as figuras mais representativas daquele país, para acompanhá-la em uma de suas últimas apresentações, antes de cair definitivamente doente e morrer. O único inconveniente daquela festa foi a presença de uma orquestra sinfônica imensa, todos de fraque preto e camisas brancas, algo perfeitamente dispensável em se tratando de música folclórica. Imaginem uma canção como "Zamba de mi Esperanza", utilizada intensamente para combater a ditadura de 1976, normalmente acompanhada apenas de um simples violão, agora tocada por uma centena de violinos. Devia ser justamente para sufocar o poema e fazer esquecer as origens da canção.  

As nossas artes mesmo estão largadas ao léu, na sarjeta dos malditos, enquanto os órgãos encarregados da cultura estão subalternos aos assuntos esportivos das instâncias de governo. A orquestra sinfônica estadual foi despejada do centro cultural que lhe servia de sede. Acabou falindo e, não fosse a solidariedade da igreja católica, até o seu Coro Lírico teria falido junto.  Os grupos teatrais vivem de rifa e os corais são patrocinados pelos próprios cantores. Sucesso garantido mesmo, só na noite ilhoa, onde os bares que costumavam apresentar blue-jazz passaram a tocar sertanejo-universitário. 


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