Os
gregos pré socráticos comunicavam suas ideias principalmente através de poemas,
como Odisseia ou Ilíada. Sócrates (470 a 399 a.c.) resolveu apenas falar. Nunca
escreveu uma linha. Se suas ideias fossem úteis, seus discípulos que se
encarregassem de proclamá-las, do modo que melhor lhes parecesse.
Platão (428 a 348 a.c.), talvez o principal deles, permaneceu mudo e calado ao longo do processo de julgamento e até a execução de Sócrates, por um crime improvável, o de "exercer más influências sobre a juventude de Atenas", num período em que “deuses” estrangeiros estavam se tornando populares em Atenas. Tal acusação foi formalizada por dois poetas que lhe tinham inveja, o que torna ainda mais injusta a sentença conferida por um tribunal popular.
O mexerico devastador provocou um terremoto nas hostes gregas, mas, não foi possível evitar o pior. O Rei adiou ao máximo a sentença, chegou a oferecer a Sócrates uma possibilidade de fuga, saída recusada pelo condenado.
Platão ficou todo esse dramático tempo doente, em profunda depressão, refletindo sobre as injustiças cometidas pela Democracia, como praticada pelos ignorantes, interesseiros e egoístas cidadãos atenienses ordinários. Não chegou a aproveitar as últimas e imperdíveis conferências dadas pelo mestre em sua prisão, no aguardo do cumprimento da sentença fatídica.
Platão (428 a 348 a.c.), talvez o principal deles, permaneceu mudo e calado ao longo do processo de julgamento e até a execução de Sócrates, por um crime improvável, o de "exercer más influências sobre a juventude de Atenas", num período em que “deuses” estrangeiros estavam se tornando populares em Atenas. Tal acusação foi formalizada por dois poetas que lhe tinham inveja, o que torna ainda mais injusta a sentença conferida por um tribunal popular.
O mexerico devastador provocou um terremoto nas hostes gregas, mas, não foi possível evitar o pior. O Rei adiou ao máximo a sentença, chegou a oferecer a Sócrates uma possibilidade de fuga, saída recusada pelo condenado.
Platão ficou todo esse dramático tempo doente, em profunda depressão, refletindo sobre as injustiças cometidas pela Democracia, como praticada pelos ignorantes, interesseiros e egoístas cidadãos atenienses ordinários. Não chegou a aproveitar as últimas e imperdíveis conferências dadas pelo mestre em sua prisão, no aguardo do cumprimento da sentença fatídica.
Finalmente, Sócrates tomou seu cálice de cicuta, veneno mortal utilizado para executar os prisioneiros mais nobres, em suicídio deliberado. Então, PLATÃO levantou-se de seu catre e retomou a palavra escrita. A linguagem que escolheu para se comunicar com o mundo e deixar suas mensagens para a posteridade, foi a forma de DIÁLOGOS. Neles, Platão usa argumentação dialética. Assim, o sol-luz-claridade são conceitos antagônicos a escuridão e trevas, da mesma maneira que JUSTIÇA está em contradição com CORRUPÇÃO.
No centro dos debates, estava sempre o
personagem SÓCRATES, como se Platão dissesse "Você não escreveu nada a
vida inteira, agora deixa que eu escrevo por você". Logo o primeiro
diálogo foi 'APOLOGIA DE SÓCRATES', onde Platão reproduz o discurso que teria
sido proferido pelo próprio réu em sua defesa na sessão de julgamento. Depois,
Platão escreveu mais 35 diálogos e 13 cartas (o equivalente bíblico das
epístolas).
A CIDADE e o INDIVÍDUO
Fica claro logo no
início de "A República", que a
Grécia passava por grandes transformações sociais a partir do ano 500 a.c., em
confrontos contra seus vizinhos, então sob influência direta do Império Persa,
atual Irã, que dominou todo o meio oriente, leste da Europa e norte da África.
A ilusória vitória na batalha de Matarona (490 a.c.) deu novo ânimo à cidade de
Atenas, mas, não conseguiu evitar que toda a Grécia fosse invadida pelos persas
no ano 480 a.c., tendo a população ateniense fugido para as ilhas, vendo
saqueada sua capital. Poucos anos depois, os gregos expulsaram os persas e
fundaram novas alianças entre si, conquistando grande progresso material, assim
como nas artes, medicina, matemática, arquitetura e na FILOSOFIA. A aliança helênica entre Atenas e Esparta foi
amplamente beneficiada pelo período de paz, com apenas pequenas rusgas entre os
vizinhos, trazendo grande prosperidade a todo o mundo egeu e mediterrâneo. É
nesse ambiente de riqueza e prosperidade que se dá o apogeu da civilização
grega, onde cada cidadão tinha ampla liberdade de língua, religião, pensamento
político e influência na escolha dos administradores do Estado. Mesmo a
escravos e estrangeiros asilados, eram concedidos confortos e facilidades nunca
antes proporcionados. Nesse período, que vai até a capitulação ante o reino da
Macedônia (323 a.c.), viveu Platão.
Mesmo no ambiente
progressista de Atenas, Platão passou a imaginar a cidade perfeita. Ela haveria
de praticar a justiça perfeita, sim, mas também deveria preparar sua transição
para o mundo perfeito, o mundo do BEM. Isso deveria ser necessariamente papel
do processo educacional. Nesse assunto, o personagem Sócrates faz várias
considerações interessantes, como o papel da Música e da Ginástica na educação
dos jovens. Ambas são convenientes para a perfeita harmonia entre tensão máxima
e relaxamento máximo. Experimentando os
dois extremos, o ser humano se aperfeiçoa para o caminho do meio, nem tão tenso
como os que fazem só ginástica, nem tão relaxado como os que só ouvem música.
Também se deve levar em conta a importância da vivência pessoal e experiência
acumulada, como um Juiz, a quem o passar dos anos e o observar das penúrias da
condição humana, vai tornando mais sábia a aplicação da justiça.
A cidade perfeita é
constituída de TEMPERANÇA, CORAGEM e SABEDORIA. Isso lhe é transferido a partir
dos méritos de cada cidadão que a habita, que devem ter passado por um processo
educacional que os preparou ao desempenho eficaz de sua missão na vida. Cada
qual deve fazer aquilo que lhe cabe, dentro de uma organização perfeita,
voltada para o bem comum. A cada cidadão
lhe será exigido executar com o máximo de perfeição o papel que lhe cabe, mas,
não lhe é permitido invadir a área de atuação de outra especialidade. Assim,
Platão imagina três grandes categorias de cidadãos especializados.
Uma está dedicada
à TEMPERANÇA. Esta é movida por interesses ligados às atividades produtivas.
São os artesãos, dedicados aos processos de fabricação de coisas e de
manutenção dos serviços necessários à vida da Cidade. Corresponde ao campo
somático, ou ao físico-etérico na visão teosófica.
A segunda categoria está
dedicada a CORAGEM e tem como atributo a defesa e a organização da Cidade. São
os administradores públicos, os soldados, os que se responsabilizam pelo
suprimento de mercadorias necessárias, através do comércio e da logística, por
exemplo. Corresponde ao campo da Psique, ou ao astral-mental na visão teosófica.
No degrau superior está
a SABEDORIA, suportada pela razão, pelo pensamento abstrato e pela capacidade
de resolução de problemas complexos, tanto materiais como mentais. Aqui estão
os administradores de nível superior, que supervisionam os Guardiães e o
planejamento estratégico dos processos produtivos. Corresponde ao campo da
inspiração divina NOUS, ou ao mundo Causal na visão teosófica ou a Manas, na visão
oriental.
A grande inovação
imaginada por Platão não foi a diferenciação em classes, por que isso já
existia desde sempre. Em sua visão utópica, as classes não teriam diferenciação
de poder, riqueza e importância entre si. Todos estariam no mesmo patamar. Um
sujeito que possuísse grande fortuna, mas, cuja índole fosse a de um produtor
artesanal, não seria diferenciado de seus colegas por ser mais rico. Nem de um
amigo seu que fosse da categoria dos Guardiães. A justiça seria aplicada por
igual, até por que seus aplicadores seriam da categoria dos sábios, a quem deveria
ser proporcionada uma educação especial, assim como lhes seriam proibidas a
acumulação de riquezas e inclusive a geração de filhos. Aos olhos do mundo de
hoje, este é um mundo completamente inviável e excêntrico. O mundo platônico,
por exemplo, não concebe a luta de classes.
Uma Cidade ideal tem que
ser governada por uma categoria especial de dirigentes. Sobre isso Platão falará
detalhadamente, a partir do personagem central imaginado em Sócrates: “somente o homem sábio tem a inteira idéia do
bem, do belo e da justiça”. Essa ideia
de Platão, de que a sociedade deve ser governada por homens sábios,
preferencialmente FILÓSOFOS, atravessou as civilizações modernas e hoje
justifica até a tecnocracia.
A EDUCAÇÃO DOS DIRIGENTES
A conclusão a que chegou
o personagem Sócrates é que a Justiça se faz quando cada qual executa aquilo
que lhe foi confiado pela Sociedade. Segundo esta lógica, ao professor cabe
ensinar e ao estudante aprender, sempre
da melhor maneira possível. Conforme a proposição de Platão na divisão em
classes, o artesão produz bens e
serviços, o guardião cuida da segurança e da organização da Cidade e aos sábios
cabe dirigir e governar. O poder dos governantes deve vir de seu profundo
saber, e não de sua posição familiar, ou riquezas acumuladas, ou capacidade de
sedução das massas, ou alianças que consegue implementar, etc. Uma classe especial de dirigentes precisa,
pois, de uma educação especial. A este conceito elitista de Platão, o Marxismo
gerou uma outra utopia no sentido contrário, de que a classe dos proletários é
que deve dirigir a sociedade, extinguindo-se a propriedade dos meios de
produção. Entretanto, Platão subverte, mais de dois mil anos antes, a moral
conservadora que seria proposta pelo marxismo. Platão imagina a estranha
prática que a classe dos dirigentes deveria compartilhar todos os bens
materiais e as famílias, incluindo a coletivização dos casais de mulheres e
homens, para terem relações sexuais indiscriminadas e livres, além de
compartilharem entre si os filhos que poderiam ser gerados nessas relações.
Conceitos assim foram considerados absurdos, já por seus próprios concidadãos e
seguidores, incluindo Aristóteles.
A educação dos
Guardiães, de onde serão selecionados os dirigentes, deve ser mais aprofundada
do que a dos Artesãos. Aos Guardiães não é permitido ter medo, por exemplo.
Também devem ser condicionados a equilibrar e moderar os desejos, incluindo os
sexuais. A literatura disponibilizada não deve falar de fracassos nem de
derrotas militares. Jamais devem ser contemplados poemas que elogiem
personagens maus, coléricos ou demasiado emocionais, para não influenciar a
personalidade do futuro Guardião, que deve ser um homem ou mulher equilibrado e
digno. A música deve ter papel importante e se deve evitar os cantos fúnebres
ou tenebrosos, privilegiando-se composições equilibradas com bom ritmo,
harmonia e letras construtivas. De preferência odes elogiosas aos deuses, às
boas virtudes como coragem, resistência
e auto-controle, etc. Disciplina e treinamento militar, aliado a regime
alimentar e prática da dialética. Os Guardiães também devem ser pobres. “Por
terem ouro na alma, não será permitido que o tenham no plano físico”. Segundo
Sócrates, riqueza é origem de muitos
defeitos, tais como luxúria,
vícios, desleixo, etc..
As mulheres não devem
ser discriminadas em nada. Se, ademais,
forem Guardiãs, devem ser educadas no mesmo nível do homem, apesar de
serem intrinsecamente mais fracas. No entanto, algumas atividades e assuntos
são tipicamente femininas, como tecelagem e culinária. Na escolha do campo de
trabalho, também deve se levar em conta a peculiaridade de procriar e amamentar
os filhos.
Os governantes devem
zelar para que a Cidade não fique super populosa, mas, também para que não
falte população. A melhoria genética deve ser uma preocupação social e, para
isso, os acasalamentos devem ser incentivados entre os melhores homens e as
melhores mulheres, para a geração de filhos sadios.
Um dos interlocutores de
Sócrates questiona se tal educação não estaria condenando à infelicidade os
Guardiães, especialmente aqueles escolhidos para serem dirigentes. A resposta
dura e seca é “SIM”. Este é o sacrifício que têm que fazer, em contra partida ao
direito de dirigirem a sociedade.
Perguntado se tudo isso
não seria algo irrealizável, Sócrates explana que essa questão é irrelevante. A
Cidade Perfeita, antes de existir, deve ser imaginada e planejada, como eles
estão a fazer naquele momento. Uma vez concebida a IDEIA da perfeição, cabe à
Sociedade buscar as formas de implementá-la da melhor maneira possível. O ideal seria que FILÓSOFOS fossem os
governantes, mas, diante da impossibilidade de assim ser, que se convoquem os
homens mais sábios que a Cidade disponha, selecionados entre os melhores
Guardiães. Cabe aos dirigentes garantir o processo educacional desde a tenra
infância até a idade madura. Assim, cumprindo com seus deveres, todos
terminarão seus dias em estado de felicidade, inclusive os Filósofos.
DO MUNDO ‘SENSÍVEL’ AO MUNDO
‘INTELIGÍVEL’
A construção da Cidade
Ideal é um longo processo de acumulação de conhecimento. Em sua utopia, Platão
apresenta conceitos completamente radicais e revolucionários, tais como a
dissolução da família no contexto da classe dos Guardiães, de onde seriam
escolhidos os futuros dirigentes do governo. Haveria controle da natalidade e
os casais seriam formados de modo a acasalar os homens e mulheres mais
preparados. O trabalho se dá em condições de igualdade entre homens e mulheres,
segundo as aptidões naturais de cada um. O sistema educativo deve ser
aprimorado para formar bons trabalhadores, sem distinção de privilégios ou
poderes especiais entre as classes. Deve-se incluir a formação que leve ao
conhecimento da idéia do BEM como objetivo supremo da Cidade. Sobre o BEM,
Sócrates explica o caminho para alcançá-lo, o qual definiu como a Dialética da
Linha Dividida.
Tanto o conhecimento
quanto a verdade são coisas belas. Mas o BEM é distinto deles e os supera em
beleza, assim como a visão permite ver a claridade do Sol, mas não é a Luz. Podemos dizer que a visão é
algo solar, por que só é útil junto com a Luz, mas não se confunde com a Luz
nem é o Sol.
Assim como o sol confere
credibilidade às coisas, através da Luz, a verdade essencial das coisas só é
possível através do Conhecimento, caminho formado etapa por etapa a partir da
Opinião, passando pela Crença, que pode ser elaborada como Entendimento a
partir da Inteligência, até atingir o objetivo que é o BEM. De outro modo,
podemos dizer que o CONHECIMENTO é a passagem do mundo das sombras (sensível)
para o mundo das idéias (inteligível).
Para Platão, o BEM
deveria ser o objetivo supremo de toda Cidade, por que nele estão as essências
de todas as coisas, dado que o estado de ignorância decorre da incapacidade de
percepção das coisas reais, motivada pelas Trevas e Sombras. O caminho da
Ascensão ao mundo do BEM começa com o desenvolvimento de opiniões e
conjecturas, que levam à formação das Crenças. Para o esclarecimento da essência das coisas,
é necessário acessar o Mundo Inteligível, constituído pelas Ideias e Objetos
Matemáticos, que se formam a partir do conhecimento científico aperfeiçoado e
testado pela Dialética, ou seja, no confronto desses conceitos complexos com as
realidades que os cercam, estará a Verdade.
O BEM é o atributo que
confere Verdade às coisas do mundo inteligível, assim como o SOL confere
verdade às coisas do mundo sensível. Neste sentido, BEM e SOL são as duas faces
de uma mesma coisa, a busca da felicidade. Portanto, este deveria ser o
objetivo da busca empreendida pelos Filósofos.
Nem tudo que é belo, bom e justo dura para sempre. Tampouco a barbárie é eterna. |
Alguns críticos modernos da filosofia de Platão, citam sua rejeição à Arte, conforme delineadas no apêndice de A REPÚBLICA (livro X), como
uma falha no enxergar a função artística apenas no contexto da história antiga
grega. Ali, Platão lamenta a influência particular da poesia de Homero na
formação da juventude, por que ele, Platão, tem em foco apenas a construção do Novo Homem para
a Cidade Perfeita. Teria faltado a ele a observação da Arte como um universo a
mais da representação do mundo, além do “sensível” e do “inteligível”. Penso que esse mundo é o da “contemplação”,
onde o objeto artístico não tem outro valor senão aquele intrínseco na obra do
artista. Certamente, existe a Arte
comprometida com uma ideologia, uma forma de ver o mundo e até com alguma
religiosidade específica, mas, a mensagem em si não é a Obra, dado que a
mensagem está limitada no tempo e no espaço, enquanto a representação artística
em si é atemporal.
O MITO DA CAVERNA
Foi a forma que Platão
encontrou, pela boca do personagem Sócrates, para explicar a “Dialética da
Linha Dividida”, ou o caminho que leva ao BEM a partir das Trevas, ou como
atingir a Verdade a partir da Ignorância. Estando habituado às Sombras
(Ilusão), o homem prisioneiro dentro da caverna da Ignorância imagina ser esta
a única realidade existente. Com o passar do tempo, alguns indivíduos vão
percebendo que há algo mais que projeções de imagens distorcidas dentro da
penumbra da caverna, e resolvem investigar por conta própria. Acabam
encontrando uma saída da caverna e se deparam com a luz, inicialmente tão forte
que os torna cegos, porém, com o assimilar da luminosidade, os indivíduos
começam a perceber a luz das estrelas refletidas num lago. Até finalmente poder
encarar a luz do sol, sem cegar a visão. Uma vez libertos, esses homens podem
ajudar os outros prisioneiros a libertarem-se também. A moral da parábola é
“somente aquele que se liberta das ilusões, pode e deve governar os outros
prisioneiros”. Na visão platônica, este
liberto que conquistou a Verdade das coisas é o Filósofo, e cabe a ele governar
a Cidade Perfeita dos homens.
Em outras palavras, o caminho para a ascensão ao BEM está na conjunção dos
atributos do Mundo Sensível, EMOÇÃO, VONTADE e AMOR, com os do Mundo
Inteligível, CAPACIDADE MENTAL, USO DA RAZÃO e INTELIGÊNCIA. É o casamento de Eros com a Ciência.
DECADÊNCIA DA CIDADE PERFEITA
Na visão do personagem
Sócrates, imaginado por Platão em “A REPÚBLICA”, a decadência das Cidades é
inevitável, pois todas as coisas do mundo material são transitórias, tendo seu
início, seu desenvolvimento e apogeu, e inexoravelmente seu fim. Depois de ter
atingido a perfeição, a Cidade tende a cair por conta de suas próprias
contradições, a que são levadas devido às falhas humanas dos que as conduzem.
Em seu estado perfeito, o
regime ideal para a Cidade, como foi visto anteriormente, é a ARISTOCRACIA, o governo dos melhores. Os
governantes são selecionados pelo seu profundo conhecimento e por seus méritos
comprovados, formando-se uma Escola de alta performance que se mantém pelo
tempo que resistir a uma influência nefasta, que a vai contaminar, o EGOISMO que
gera a necessidade de obter reconhecimento e glórias pessoais.
Decorrente da decadência da
Aristocracia, nasce o segundo tipo de governo, a TIMOCRACIA, o governo das
honrarias. Platão chega a especular que uma das causas dessa decadência
primordial poderia ser a mistura de raças, as descendências geradas entre
homens e mulheres desiguais e fora do tempo certo, a prática excessiva da
ginástica em prejuízo da música, desarmonias
que provocam divisões, ódios e inimizades, gerando por fim a guerra civil.
O passo seguinte da
derrocada é a tomada do poder pelos mais fortes e mais ricos, ou seja, a OLIGARQUIA.
Nela, os governantes vão se tornando cada vez mais avarentos, buscando acumular
riquezas ao invés de virtudes. As leis são modificadas para atender
necessidades que não são justas, a população pobre é excluída dos benefícios
públicos, instalando-se a insegurança. A caminho da pobreza extrema, os
excluídos começam a saquear e roubar. A educação das crianças é corrompida, a
situação começa a ficar violenta, ameaçando a própria existência da cidade, de
modo que a elite oligárquica não tem outra saída senão incluir o povo
no compartilhamento do Poder, afim de acalmá-lo. Os cargos de governo passam a
ser ocupados através de eleições gerais.
Como decorrência do
enfraquecimento dos oligarcas, surge a DEMOCRACIA, onde qualquer cidadão pode
pleitear qualquer cargo. O Poder deixa de ser inerente à Sabedoria, como na
Aristocracia. As riquezas podem mudar de mãos de forma radical, as fortunas
acumuladas podem ser rapidamente transferidas e o Poder já não é exclusividade
dos ricos tradicionais, como na Oligarquia. Aparentemente, é um bom sistema de
governo e agrada à maioria da população. A Liberdade torna-se o principal
benefício do regime Democrático e será ela, a liberdade, a responsável por sua degradação,
pois qualquer movimento excessivo numa certa direção, sempre irá gerar uma reação
contrária, de igual força e potencial. Devido ao excesso de liberdade, surge a
Anarquia, onde a ordem dos valores éticos e da autoridade é facilmente
subvertida. Estabelece-se o confronto entre a minoria de ricos e a multidão
pobre. No ambiente confuso da luta de classes, surge o líder carismático, que
levará o povo a entronizá-lo no Poder.
Do poder popular impessoal e
libertário, costuma surgir o encantador líder que que implantará a TIRANIA. Aos
poucos ele vai cercando-se de auxiliares entre os indivíduos mais espertos e
sedentos por riquezas. Com medo de vir a perder o poder conquistado, vai
comprando mercenários para protegê-lo, o que o torna cada vez mais isolado do
povo que o tornou poderoso. Assessora-se cada vez mais de pessoas que ignoram as
virtudes, buscando apenas vantagens pessoais. Esse grupo desqualificado em
termos éticos acaba ocupando todos os espaços e, para evitar possível
concorrência, passa a usar poderes indiscriminados e eliminar os adversários. Traição
e suborno passam a ser práticas correntes, gerando um governo baseado na
corrupção praticada em todos os níveis. Todos viram prisioneiros do sistema,
incluindo o Tirano mor, pois a ninguém é
garantida a segurança de seus postos.
Nessa Cidade, enfim, todos são INFELIZES.
Nessa Cidade, enfim, todos são INFELIZES.