quinta-feira, 20 de outubro de 2016

ENSAYO DE ORQUESTA (en Buenos Aires)


























O atual Teatro Colon iniciou suas atividades com o nome de Teatro Municipal, no ano de 1857. Estava localizado na Praça de Maio, onde hoje está o Banco de La Nacion. No ano de 1890, iniciaram se as obras da nova sede, localizada na Praça dos Tribunais, um espetacular espaço no centro principal da cidade, onde estão instaladas as principais cortes judiciais do país, com todas as suas super estruturas burocráticas e tudo o mais. Nos cafés ao redor da imensa praça, o cenário está composto por sisudos advogados e seus clientes, em meio aos alegres e meio abobados turistas de passagem pela capital, entre os quais eu alegremente me incluo. Estamos a uma quadra do Obelisco, o ponto emblemático de Buenos Aires, onde costumam se reunir todos os movimentos políticos da capital, antes de partirem em passeata para a Praça de Maio, como é o costume dos bate bumbos locais. 


Foi neste teatro que eu vi um ensaio da principal orquestra filarmônica da Argentina. Eu contei 25 violinos, umas 15 violas de gamba, 10 violoncellos, 8 baixos, 8 percussões diferentes, uns 15 metais,  2 arpas e 2 pianos. É a maior orquestra que eu já vi ao vivo na minha vida. 

O Teatro Colon, sede do grupo Orquestra Filarmônica de Buenos Aires, por si só é outra obra de arte. Ao largo de sua história este monumento à cultura universal já viu de tudo no campo da música clássica e popular, ópera e ballet, tendo recebido gênios como Arturo Toscanini, Nijinski, Caruso, Margot Fonteyn, Mijail Barishnikov, Antonio Gades, Richard Strauss, Igor Stravinsky, Camille Saint-Saëns, Manuel de Falla, Herbert von Karajan, Leonard Bernstein, Zubin Mehta, María Callas, Yehudi Menuhin, Pau Casals, Rudolf Nuréyev, Maurice Béjart, Plácido Domingo, José Carreras, Luciano Pavarotti, Montserrat Caballé, Kiri Te Kanawa, entre muitos outros artistas famosos dos últimos 120 anos.


Segundo uma pesquisa realizada pelo especialista em acústica Leo Beranek,  entre destacados diretores internacionais de ópera e de orquestra, o Teatro Colon ocupa o primeiro lugar mundial  para encenação de óperas e o terceiro em qualidade sonora para concertos. Seguramente está entre os cinco principais centros de espetáculos do mundo. 

A última reforma durou 10 anos e o teatro foi reinaugurado por ocasião dos festejos do bicentenário da independência da Argentina, em 24 de maio de 2010. Leva o nome em homenagem a Cristóvão Colombo, ao qual se pretendeu homenagear em 1892, por ocasião do quarto centenário do descobrimento da América, quando a atual sede estava em construcão.  O imenso teatro com 108 salas e oficinas, incluindo o auditório principal com 3 mil lugares, sendo a platéia principal com 2.400 lugares, mais quatro andares de balcões finamente decorados. Na sua construcão foi usado o que de melhor e mais luxuoso havia no mundo dos materiais. O empreendimento, extraordinário para sua época, foi reflexo da grande prosperidade da Argentina conquistada a partir de 1880, depois da chegada de milhões de imigrantes europeus e do início das atividades de exportação de grãos como trigo, milho e cevada. Com o desenvolvimento dos navios frigoríficos, a exportação de carne virou o melhor negócio do mundo, depois das armas de guerra, claro! E a pampa argentina produzia a melhor carne de gado do mundo, sonho de consumo dos ricos europeus. Neste contexto de fim de século XIX, Buenos Aires era considerada a nova Paris das américas e, como tal, mereceria um atrativo digno dessa condição. A construção do Teatro Colon foi concebida como uma grande oportunidade de fazer ver aos olhos do mundo que esta era a realidade por aqui, onde um novo país se encontrava em gestação. 

O Teatro Colon atual mantém três grandes departamentos estáveis e permanentes, onde se desenvolvem atividades de ensino e pesquisa nas áreas de canto coral, dança e orquestração, formando futuros profissionais através do Instituto Superior de Artes. A expressão artística desta estrutura se manifesta igualmente em três áreas profissionais estáveis, o coro, o ballet e duas orquestras, uma para acompanhamento de ballet e óperas, e outra para concertos, a  Filarmônica,  que foi fundada oficialmente no ano de 1946. Hoje a Filarmônica conta com um cast de mais de 100 músicos profissionais. Está sob a direção do maestro mexicano Enrique Arturo Diemecke, que já foi regente de grandes orquestras em Los Ângeles, Londres e Paris.

Não demonstra vontade de se aposentar. Nem de deixar Buenos Aires...

    




  


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