terça-feira, 19 de junho de 2012

ROMANTISMO NA MÚSICA POPULAR - Yolanda




A ilha caribenha de Cuba é conhecida por sua música extravagante, colorida, cheia de raízes africanas, das quais são exemplos o Mambo e a Rumba. Também tem tradição nas canções hispânicas de acentuada sensualidade, como o Bolero, que ali foi criado pelos colonizadores espanhóis há uns duzentos anos atrás. Ninguém poderia supor que neste país tão mulato e alegre, parecido com a nossa Bahia, nascesse um hino visceral à paixão de um homem por uma mulher.

Na canção YOLANDA, o seu autor, Pablo Milanés, foi às últimas consequências da entrega incondicional de uma pessoa à outra, a busca ideal pelo casamento total e indestrutível. Mas, sua amada Yolanda o abandonou justamente no pior momento, quando o rapaz descobre um câncer ósseo e tem que se afastar do mundo artístico para se tratar, vindo a perder uma perna e a ficar vários meses entrando e saindo de hospitais. Daquele amor apaixonado, restou apenas sua voz melancólica entoando:

“Si me faltaras, no voy a morirme  
Si he de morir quiero que sea contigo.
Mi soledad se siente acompañada
Por eso a veces sé que necesito 
Tu mano, tu mano, tu mano, 
eternamente tu mano…"

A própria Yolanda conta que conheceu Pablo quando este tinha 25 anos de idade, e era apenas um rapaz cubano, mulato, pobre e triste. Apesar de ter construído a carreira com várias canções de intensa alegria, suas grandes obras foram Yolanda e Años, canções tristes que consolidaram um estilo completamente novo e desconhecido da música cubana, a partir do movimento que se autodenominou "Nova Trova", inspirada nas canções românticas e nos "blues" dos negros norte americanos. Mais tarde, com sua doença sob controle e uma prótese na perna amputada, Pablo Milanés correu o mundo, física e artisticamente. 
Nenhum outro músico  cubano foi tão reverenciado no exterior, nem mesmo os que se exilaram para os Estados Unidos, fugindo da revolução comunista, como Célia Cruz e Bola de Nieve. Aqui no Brasil,  Pablo ganhou um fan de carteirinha, Chico Buarque, que o chamava jocosamente de "meu homem em Cuba". 

Chico Buarque fez uma versão impecável da música Yolanda, que ofereceu para a cantora Simone fazer enorme sucesso nos anos 80. A letra de Chico, como seria de se esperar, melhorou ainda mais a dramaticidade da canção. Ele poderia simplesmente traduzir do espanhol para o português e, pronto, o sucesso seria o mesmo. Mas, além  de manter o sentido desesperado do poema original, Chico criou novas imagens poéticas e manteve a sonoridade das frases musicais, para que soassem em português igual ao canto de Pablo em espanhol. Por exemplo, se traduzisse  literalmente os versos finais, 

"rezando el credo que me has enseñado, miro tu cara y digo en la ventana: Yolanda"    
  
ele teria que colocar a palavra "janela", que em português soaria totalmente isento de poesia. Por isso, manteve o espírito da letra, mas trocou "ventana" por "ventania". Ficou muito melhor:  

"rezando o credo que tu me ensinastes, olho teu rosto e digo à ventaniaYolanda" .


Vamos acompanhar a versão de Chico Buarque na íntegra?
    
"Esta canção não é mais que uma canção
Quem dera fosse uma declaração de amor
Romântica, sem procurar a justa forma
Do que me vem de forma assim tão caudalosa
Te amo, te amo, eternamente te amo

Se me faltares nem por isso eu morro
Se é pra morrer, quero morrer contigo
Minha solidão se sente acompanhada
Por isso às vezes sei que necessito
Teu colo, teu colo, eternamente teu colo

Quando te vi eu bem que estava certo
De que me sentiria descoberto
A minha pele vais despindo aos poucos
Me abres o peito quando me acumulas
De amores, de amores, eternamente de amores

Se alguma vez me sinto derrotado
Eu abro mão do sol de cada dia
Rezando o credo que tu me ensinastes
Olho teu rosto e digo à ventania 
Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda."





3 comentários:

  1. Amor tão grande ou maior, só do Jacques Brel(nem sei se é assim que escreve), com o NE ME QUITTE PAS. Caramba, aquilo sim é que foi amor sofrido.
    De qualquer forma essa Yolanda também é linda, sentida.
    Ne me quitte pas, cantada pela Maysa então, lindíssimo.
    Bom, vc sabe né, adoro uma música de dor de cotovelo.kkkkkkk

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    1. Claro, minha querida, NE ME QUITTE PAS é fundamental na história do romantismo. Espero ter talento para escrever algo sobre ela.
      Grande abraço,
      LAERCIO

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