terça-feira, 21 de agosto de 2012

O amor é velho, velho, velho, ...





O amor é o tema mais apreciado pelo público leitor, televisor e radio ouvinte. Por isso faz tanto sucesso, seja na voz do breganejo Daniel ou do concretista Caetano Veloso. Um famoso cantor baiano estava por desistir da carreira, quando nem sua própria banda compareceu a uma apresentação marcada para um clube na periferia de São Paulo. Ele havia composto coisas maravilhosas, como a canção "São Paulo, meu amor" e "2001", com as quais vencera dois importantes festivais na televisão, e que tinham feito muito sucesso nos anos 60, mas, agora, no entrante 1990, estava tão duro e ignorado como um sabugo de milho. Pensava voltar para sua pequena Irará e retornar a plantar feijão...!

Foi nessa depressão, que ele mesmo confessou que não conseguia sequer levantar-se da cama. Foi quando o universo considerou que era ainda importante sua atuação. Inacreditavelmente, David Byrni, o líder do grupo Talking Heads ouviu um disco de Tom Zé, em Londres. Ficou tão impressionado que veio ao Brasil e, por sua própria conta produziu o disco "The Hips of Tradiction". Sucesso mundial que fez Tom Zé desistir da desistência.

Tom Zé raramente aparece na TV ou toca no rádio. Todo o sistema de comunicação, a serviço da mediocridade, o teme e não lhe dá espaço, por que ele não tem papas na língua. Presenciei dois episódios reveladores desta verdade. Em 2004 ele veio a Floripa, patrocinado pela Eletrosul que recém havia se transformado em petista, e que tinha um gerente de comunicação bem esperto e o levou ao palco do CIC. Ao abrir o espetáculo, este gerente fez a apologia do artista e, para aproveitar, agradeceu a presença e o apoio de dois candidatos a vereador, um que era da preferência do presidente da Eletrosul, outro que era da preferência do grupo político do referido gerente. Graças a deus, nenhum deles foi eleito. Aconteceu que no meio do show, Tom Zé faz um discurso contra o Bush e, no meio, enfia uma provocação a seus patrocinadores. "Pediram que eu elogiasse os dois candidatos que já foram citados aqui. Isso eu não faço, não! Além do mais, ainda estão cobrando vinte contos cada ingresso para este show. Devia ser de graça, já que estão usando verbas públicas de patrocínio cultural". 

Noutra ocasião, ele foi abrir a semana do calouro da UFPR, em Curitiba. Seu cachê era mínimo, ficou hospedado na casa do estudante universitário (CEU) e viajou de ônibus. Numa palestra para os calouros, saiu-se com essa: "Vocês bem que podiam arrumar alguma festa de milionário, pra eu ganhar um dinheirinho extra. Vou lá, faço papel de palhaço, como de graça e divirto os ricaços, além de me divertir também. Heim? O que vocês acham?".







2 comentários:

  1. Por que será que ele diz que o "amor é menina...?"

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  2. Todo o mundo civilizado, branco, capitalista, explorador, injusto, medíocre, burguês, enfim, a corja do mundo cristão louva o "menino Jesus". O ano todo, mas, principalmente na época do natal, um período de intensa exploração comercial e máxima valorização do consumismo inútil e perdulário. Penso que Tom Zé tenha tido por intenção desafiar mais uma vez o status quo vigente na sociedade onde vivemos, a grande dominação elitista. E para isso usou o artifício de pedir ajuda à "menina Jesus". Um desafio verbal e comportamental. Uma ofensa pessoal à hierarquia católica e cristã, omissa e comprometida. Eu achei o máximo!

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