CHICO BUARQUE QUER CHUPAR CANA E ASSOVIAR AO MESMO TEMPO
Arte só tem valor verdadeiro quando orientada para a transformação do mundo. Quase sempre, isso evolve combater o sistema dominante. Mesmo a arte pictórica, que não se expressa na linguagem propriamente política, é diferente quando patrocinada pelo poder ou quando feita à revelia deste. Os pintores clássicos, que produziam sob encomenda dos reis, príncipes ou das autoridades religiosas, podem ter seu valor artístico enquanto pesquisadores e inventores de um estilo. Mas, não se comparam com os pintores que faziam de sua arte uma linguagem de protesto e contestação. Compare Van Gogh com Renoir, por exemplo, e vão entender o que eu digo. Quando Picasso se auto exilou em Paris, em protesto contra o regime fascista de Franco, logo foi alcançado pelas forças de Hitler na ocupação da França. Contam que um agente da Gestapo o trouxe para um interrogatório e, mostrando uma foto da obra "Guernica", inspirada no famoso bombardeio de um a aldeia, durante a guerra civil espanhola, onde Hitler teria testado suas armas para a guerra que se aproximava, o oficial perguntou a Picasso "Foi você quem fez isso?" O artista espanhol respondeu: "Não. Eu apenas pintei. Quem fez foram vocês".
O que mudou na vida do Chico Buarque que combatia a ditadura nos anos 70? Financiamento a fundo perdido para a produção do filme
"Chico, um artista brasileiro" = 4,5 milhões de reais. Vai ter o
mesmo fim do "Lula, o filho do Brasil", que é vendido em lojas de
1,99. Não é
preciso dizer mais nada, mas eu digo. Chico não se diferencia em nada da elite
que tem os olhos para a Europa e a bunda virada para o Brasil. Usufrui de
direitos que não deveria. Os financiamentos culturais, são prioritariamente
para novos talentos. O que faz com que eles sejam destinados a velhos figurões
como Chico, sua namorada e seu irmão? O seu comprometimento com o regime atual, corrupto, inepto, imoral,
aliado com o que há de pior na vida brasileira. Podem acrescentar outros
adjetivos, à vontade.
Não é proibido ser puxa saco de um governo como esse. Mas
há um preço político a pagar por isso. O senhor Chico Buarque pode se
comprometer com essa gandaia nacional, se quiser, mas, não espere que continue
sendo o velho Chico da contestação, da conquista da liberdade, da luta pela
volta da democracia. Ninguém critica o Chico
como artista, mas, sim pelo valor político que ele agrega no apoio ao governo.
Justamente por ter a história que ele tem, o seu gesto não pode ser considerado
como o de um "zé ninguém". Quem fez canções como "Vai
passar", não pode alegar ingenuidade ou ignorância. É interesse pessoal e
isso tem um nome: puxa saco do sistema. Hoje, os conceitos de Direita e
Esquerda se perderam. O que faz sentido é se uma pessoa está comprometida
com a melhoria e a transformação do mundo. Não
dá para classificar como popular e progressista um governo que se apoia em
aparelhos velhos e carcomidos como CUT, UNE, etc, bem como se nutre das
alianças com os latifundiários mais atrasados que se conhece, além das
estruturas viciadas em corrupção, já provadas e condenadas pela justiça
federal. Veja a base de apoio dos governos do PT: Sarneys, Renans, senadores
como Sergio Cabral e Requião, deputados como o homem da cueca cheia de dólares,
etc. Até poucas semanas atrás, era aliado e comprava apoio em troca de cargos
para um sujeito chamado Eduardo Cunha. Por isso, Chico Buarque ou qualquer
outro artista que apoie o governo, não pode querer passar como interessado em
justiça social. Ele até pode argumentar sua posição de cidadão, que o autoriza
a fazer o que bem quiser com seu apoio, sua fama e seu legado. Cabe aos
cidadãos conscientes, deixar claro o que isso significa ao final das contas. E que contas!!!
Esse episódio sobre Chico Buarque foi bem ilustrativo
do que está ocorrendo no país. Há um clamor nacional contra o governo Dilma,
mas também contra o mundo político como um todo. A percepção do desgaste da tão
(mal) falada "classe política" é visível, especialmente nos setores
mais autônomos, que não dependem tanto de ajuda governamental. Os casos de
corrupção deslavada, que se espalham por todos os partidos e poderes, dá a
sensação de um mal estar depressivo, principalmente
por que não há no horizonte qualquer alternativa visível. A lama é geral, ampla
e irrestrita. Por isso mesmo, os artistas não podem se considerar acima
do bem e do mal. Eles são julgados por suas posições políticas, como qualquer
pessoa pública. Querer se beneficiar pessoalmente do apoio ao governo, e ao
mesmo tempo manter a popularidade junto à opinião pública mais bem informada, é impossível Senhor Chico Buarque. Ninguém te cobra que seja o mesmo
ídolo de antes, podes até apoiar o governo, de olho nos patrocínios para ti e
para os teus, mas, arque com as conseqüências políticas.