sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR


Militância do PCdoB chama de GOLPE o impeachment de Dilma

Acabamos de acompanhar no congresso nacional um interessante debate político, mostrando que o Brasil está insolvente, ou seja, a diferença entre o que o governo federal gasta e o que arrecada está mostrando um rombo de 120 bilhões de reais. A “presidenta” precisava aprovar uma espécie de autorização formal para o rombo, como forma de se prevenir contra eventuais processos por irresponsabilidade fiscal e administrativa.  Não foi difícil conseguir o que queria, diante de um congresso dócil e domesticado à custa de verbas federais, para suas excelências aplicarem em suas bases eleitorais, verbas, aliás, já incluídas no dito cujo déficit nominal. Se não há dinheiro corrente para cobrir as despesas, todos os governos do mundo, os bons, os maus e os feios, sempre apelam para o mesmo recurso: emprestar dinheiro de quem tem, no caso, os investidores nacionais e internacionais. Para isso se lançam “títulos da dívida”, pagando os juros necessários para atrair estes investidores. No momento, estes juros estão em cerca de 15% ao ano, o maior entre os países do chamado BRICS e certamente um dos maiores da economia mundial. Para efeito de comparação, os Estados Unidos lançam títulos públicos pagando taxas de 0,25% ao ano.  O resultado dos desequilíbrios acumulados ao longo dos anos é o aumento da dívida pública. Para 2015 os economistas do próprio governo estão projetando uma dívida total em torno de 2,7 trilhões de reais, a quarta maior do mundo, em relação ao Produto Interno Bruto.  Mais de 20% deste total vence nos próximos doze meses.

A realidade, pois, é muito diferente daquela mostrada nos programas eleitorais do ano passado, quando o marqueteiro de Dilma Roussef convencia o eleitorado de que o país não tinha nenhuma crise e não precisava de ajuste nenhum. Eles ainda ameaçavam que, caso algum candidato da oposição vencesse, os trabalhadores perderiam as “conquistas” da última década e o país mergulharia no retrocesso. Pois bem, ganharam as eleições. Nem bem as urnas eletrônicas tinham se esfriado e a mesma “presidenta” otimista anunciava um tempo de aperto monetário. Uma nova equipe econômica, providenciada para substituir o “gastador” Guido Mantega, anunciou na entrada do ano que o país teria um superávit de 55 bilhões de reais. Provavelmente esqueceram de “combinar com os russos”, parafraseando a deliciosa piada de Mané Garrincha, contando que o treinador lhe pedia que invadisse a área russa, driblasse dois ou três zagueiros, puxasse a bola para a direita e a lançasse na cabeça de Pelé, que entraria pelo centro da grande área. “Então, o senhor já combinou isso tudo com os russos?”.  



O movimento de combate à reforma educacional em São Paulo ocupa as ruas


Ao lado da crise econômica, corre solta a crise política. O governo liderado pelos petistas nunca fez do ato de governar uma questão política. Sempre obteve apoio comprando votos no parlamento, imitando todos os demais governos pós ditadura militar, incluindo o de FHC. O primeiro escândalo do governo Lula, não por acaso foi o famoso Mensalão, onde se pagava propina mensal garantida a uma base de parlamentares que votavam o que o governo pedia. Nada se discutia, nada se questionava. Fernando Gabeira, deputado do PT no primeiro governo Lula, conta que o líder da bancada, um tal “Professor Luisinho” chegava com a pauta de votações na Câmara federal e dizia qual era a posição que o partido deveria apoiar. Quando questionado que um ou outro assunto não tinha sido previamente debatido com os deputados da bancada, o líder encerrava o assunto com uma sentença bruta: “Não tem nada que discutir, é só votar”.  Esse comportamento gerou um vício permanente: os parlamentares só apoiam os projetos do governo em troca de vantagens pessoais. Foi assim a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara no início do ano. O candidato do PT perdeu a eleição, mesmo o governo tendo maioria folgada no plenário. Os deputados apostaram que elegendo Cunha, teriam maior poder de pressão sobre o “caixa” do governo e conseguiriam melhores verbas. Cunha também pensava assim e aumentou a pressão. Ganhou ministérios e centenas de cargos, mas, qual um viciado convicto, nunca estava satisfeito, querendo sempre mais. Para atender a insaciável demanda de seus aliados, já não bastam os 39 ministérios, absurdo completo em termos administrativos, uma vez que a boa técnica de gestão ensina que um mesmo dirigente, não pode ter sob sua tutela direta mais do que nove subordinados. Os 39 subordinados diretos de Dilma nunca foram por ela reunidos. Neste semana, diante da crise do requerimento de impeachment, para mostrar união do governo, ela reuniu 23 ministros em torno de uma mesma mesa. Ficaram faltando quantos da “equipe” ? Dezesseis.

Segundo a filosofia da velha China, crise e oportunidade são dois lados da mesma moeda. Sendo assim, toda crise tem um lado bom, que aponta a necessidade de mudanças estruturais e táticas. Uma boa saída para a crise econômica e política brasileira, numa perspectiva de longo prazo, seria juntar as forças do país em torno de um programa de governo, a ser construído em conjunto pela sociedade, visto que o sacrifício da população será necessariamente grande. Num cenário assim, se pressupõe que os governantes também deveriam fazer algum esforço, certo? Errado. Está aí o governo desesperado para aumentar impostos. Mas, não consegue cortar suas despesas, inclusive a que compra parlamentares. A presidente leva uma delegação de 180 pessoas a participar da conferência internacional sobre o Clima, em Paris, e ela própria e sua assessoria direta ficam num dos hotéis mais caros do mundo, com diárias de 70 mil reais por suíte. Ao voltar ao país, para debelar sua crise fiscal e política, pede aos cidadãos brasileiros mais sacrifícios. Vem o líder do governo à público defender a proposta de um novo imposto, a CPMF, e diz com a maior cara de inocente “não é muito o que estamos pedindo”.  O cidadão comum só pode ter uma resposta na ponta da língua: “Por que não vai pedir para a senhora sua mãe?”.

Como sabemos, a base de apoio do governo possui vários segmentos. De novo, o PT desistiu de fazer política e juntou no seu entorno qualquer tipo de agente apoiador, sem perguntar se tem alguma identidade com o projeto e a história do Partido. Igualou-se a José Sarney, cujo único papel importante foi o de ser guardião dos interesses militares na transição para a democracia. E parodiou o velho Leonel Brizola, que aceitava qualquer bandido em seu partido, sob o argumento um tanto infantil de que “todos são bem vindos, desde que ajudem a empurrar este caminhão”. Além de suas alianças políticas herdadas dos velhos pelegos da ditadura militar, o PT abriu espaço para a nova direita, composta tanto pelo moderno capital financeiro como pelos atrasados oligarcas do campo, representados pelos folclóricos “coronéis” nordestinos. Brilhando como auxílio luxuoso no campo da direita, atua com garbo o agro-negócio, para o qual foi entregue o Ministério da Agricultura. No entanto, este governo é capaz de colocar sob o mesmo guarda chuva, as militâncias de ultra esquerda, que ainda professam um certo espírito socialista “revolucionário” dos anos 60. Ao lado do agro-negócio, estamos vendo os vermelhinhos do MST, apoiando o mesmo governo. Seria a sonhada “paz no campo”? Não é o que diz a realidade. A matança de bois, com requintes de crueldade e selvageria, perpetrada pelos vermelhos recentemente em fazendas do Pará, mostra que os dois segmentos continuam inimigos mortais. Completando a militância de rua, na qual os partidos PT e PCdoB detém inquestionável expertise, estão os estudantes secundaristas e universitários, onde o PCdoB,  em especial,  possui enorme influência. É dele a liderança das manifestações violentas ocorridas em São Paulo, contra a nova política educacional do governo do estado. Para lá foram deslocados militantes do país inteiro, atuando na desestabilização política do governo do PSDB, com vistas às próximas eleições. No front trabalhista, a CUT se coloca ostensivamente a favor do governo, uma atitude pouco comum a sindicatos de trabalhadores. Nem nos regimes soviéticos isso era a prática usual, dado que sindicatos sempre estão confrontando posições de governo. No Brasil do PT, conseguiram o milagre do presidente da CUT ameaçar a oposição com “luta armada”, caso fosse necessária para defender Dilma. De novo agora, com a ameaça de abertura do processo de impeachment, um recurso legal e perfeitamente constitucional, estes grupos de militantes ostensivos ameaçam com manifestações de rua, prometendo “colocar fogo no país” contra o que eles chamam de “golpismo”.  

Assim, o país caminha para um confronto de dimensões não sabidas, talvez próximo ao modelo bolivariano da Venezuela. As perspectivas econômicas são as piores possíveis e alguns especialistas preveem algo como uma década de apertos e recessão. Em dois anos o país já perdeu 4% de seu PIB e para o próximo ano se prevê uma queda de mais 3%. A tendência é o incremento da crise, com o fenômeno terrível da estagflação: estagnação econômica com inflação. É o pior mundo possível, com destruição do poder de compra da população, aumento da violência urbana e rural, destruição da indústria e infra estrutura, etc.  Cada vez torna-se mais difícil uma saída negociada. Principalmente por que o governo parece confiar no potencial de seus militantes de rua: colocar fogo no país. Nos queimaremos todos na fogueira da insensatez.


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