domingo, 11 de setembro de 2016

CRISTIANISMO versus CRISTICIDADE. A igreja cooptada.




Cristicidade é a qualidade daquele que carrega a essência da mensagem de Cristo.  Esta é uma palavra criada pelo teólogo espiritualista universal HUBERTO ROHDEN (1893-1981), visando a diferenciação com o significado moderno e trivial do Cristianismo, por considerá-lo exaurido e prejudicado como portador da mensagem crística. Na verdade, segundo o autor, o Cristianismo passou a ser apenas um sistema de poder estabelecido em torno de valores que vão em contra a verdadeira mensagem cristã.  

A igreja cristã original durou apenas 300 anos. Com a profunda crise que se estabeleceu no império romano, o imperador Constantino deu um golpe de mestre ao oficializar o cristianismo como religião oficial de Roma. Isto se deu no ano 313 da nossa era. Os cristãos, que eram perseguidos e viviam em catacumbas, foram convidados a participar do governo. Montou-se uma super estrutura burocrática para governar a nova igreja. E se proibiu todas as outras. 

Os rituais pagãos, tão comuns em Roma, foram proibidos formalmente e sua prática passou a ser crime. Junto com eles, proibiu-se também o ensino de toda a filosofia grega nas escolas neo-platônicas, que existiam às centenas e ensinavam o modo de viver estóico, baseado no ideal da simplicidade e pureza, o que popularizava a antiga cultura grega na sede do Império e nas províncias. Proibiu-se o uso do idioma grego e obrigou-se que a língua a ser usada dali pra frente fosse o Latim, então um dialeto da região do Lácio, nas cercanias da capital. 

Com a oficialização do cristianismo, Roma conseguiu sobreviver mais 150 anos, ruindo por completo no ano 488, após o assassinato do imperador por um chefe bárbaro, que fez acordo com o Rei de Constantinopla (o lado oriental do império romano) e ficou com o território italiano. 

Segundo Huberto Rohden, o império usou a estratégia de cooptar os líderes cristãos, usando para isso três ferramentas mortais:

  • Fornecimento de armas, com a justificativa de que os cristãos tinham que se defender diante de seus inimigos. Na verdade, estes recursos passaram a servir também como armas de ataque, para subjugar outros povos e outras religiões. Mil anos depois, os cristãos estavam a invadir o oriente médio, para tomar aos árabes os territórios e riquezas da Palestina. Para surpresa deles, as bibliotecas de Jerusalém estavam cheias de traduções de Platão e filósofos estóicos, algo já banido do meio ocidental e cristão. 
  • Dinheiro para os negócios. Assim como para comprar as consciências de quem ousava praticar algum cristianismo original. Os que não se vendiam, iam para a fogueira como bruxos e magos satânicos. 
  • Participação ativa na política oficial de Roma, suas disputas internas e interesses no parlamento, seus negócios externos e suas confabulações que serviam para tudo, até para enganar os antigos amigos.    





BASE DO CRISTICISMO

É a experiência vivida. Rohden considera que a simples crença, sem a base da experimentação real, não passa de um comportamento infantil. Somente a experiência vivida é adulta. Qualquer fé baseada unicamente na crença pode ser desfeita, mas, se o crente viver uma experiência mística transcendental, torna-se impossível sua anulação e não há volta. Esta experiência pode ser algo simples, como uma comunhão real com o Pai Celestial, numa paternidade única em linha vertical. Através da meditação e das orações, por exemplo. A base da experiência é a ética natural, onde os discursos belos e bem articulados perdem todo sentido, quando desprovidos da emoção do encontro transcendental, aquele que excede a capacidade de armazenamento emocional. Neste ponto, dá se a experiência mística, pela entrega da Criatura ao seu Criador. 

Se apenas um ser humano que seja, aceitar viver a Cristicidade verdadeira, a humanidade ainda terá esperança em salvação e dias melhores.  A vivência da Cristicidade sabe diferenciar entre "benevolência" e "beneficiência". A primeira se caracteriza pela caridade desinteressada, por exemplo, enquanto a segunda espera o melhor momento político para ser praticada, quando os holofotes estão ligados. Segundo, Rohden, a plenitude de um momento de amor verdadeiro de apenas uma pessoa, pode neutralizar a energia do ódio de muitos milhões. 


    

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