terça-feira, 20 de setembro de 2016

Vozes de Santa Catarina


Vila Rica, a mais bela cidade do ocidente. 


O nome Vozes de Santa Catarina foi dado para identificar o conjunto de cantores dos corais do maestro Robson, à frente o Coral Eletrosul, então em tournée à cidade de Conservatória (RJ) em novembro de 2013. Manu, Macuco, Rosângela, Leinha e outros líderes propuseram outras viagens, inclusive ao festival de corais das Tres Fronteiras, em Foz do Iguaçu no mes de abril de 2015. 

As Vozes de Santa Catarina agora aceitaram o desafio de participar do Festival Internacional de Corais de Minas Gerais, que este ano homenageia Fernando Brandt, o grande poeta das Geraes, autor de inúmeras obras primas da música mineira, falecido precocemente há pouco mais de um ano. Seu compadre, o maestro Lindomar, nos recebeu de braços abertos e com ele fizemos grande amizade. É um figuraço que defende de frente encantada  a música mineira e brasileira autêntica. Foi amor à undécima vista, intuída pela nossa alma brasileira, assim como por toda a entourage familiar do maestro, que inclui seu filho ainda bebê, o neguinho Fernando, de onze meses, que certamente será um grande personagem do meio musical, pois foi concebido, nasceu e vive dentro dele. 

Há várias estradas que adentram Minas Gerais a partir do sul. A maior delas, sem dúvida, é a rodovia Fernão Dias, que liga SP a Belo Horizonte. Mas, o acesso a Poços de Caldas é talvez a mais bela das entradas, ao passar pela paradisíaca Águas da Prata (SP), que produz uma das melhores águas minerais do planeta. Depois, sobe-se uma bela serra e se baixa no vale encantado das termas de Poços de Caldas. Ali é o antigo paraíso dos casais em lua de mel. Só esta herança bendita já enche a cidade de amor e paz. 




Várias fontes de águas medicinais se espalham pela cidade, assim como jardins e matas, cachoeiras e vales, morro que vai a 1800 metros de altitude, para o qual há um teleférico por onde eu já me aventurei em pânico explícito numa viagem passada; e ao qual eu havia prometido nunca mais por os pés. OK, não foi desta vez que rompi a promessa... A grande atração de Poços de Caldas é o Hotel Palace e seu parque, no qual se encontra o edifício das Termas Antonio Carlos, um centro hidro terapêutico de primeira linha, talvez o melhor do país. Infelizmente, como todo serviço público brasileiro, algumas funcionalidades como a Sauna estão temporariamente canceladas. Mas, os banhos de banheira em águas sulfurosas continuam primorosos. 

Em Poços de Caldas não cantamos, mas, em compensação, o que comemos e bebemos de chopp não está escrito nem é bom lembrar...


Termas Antonio Carlos, anexa ao parque do Hotel Palace Poços de Caldas.


SÃO JOÃO DEL REY e TIRADENTES, as duas cidades gêmeas nasceram por volta do ano 1700, resultado da exploração das minas de ouro pela matriz portuguesa. Tiradentes é bem menor e mais tímida do que São João del Rey, mas tem provavelmente a melhor culinária mineira e uma população que mistura caboclos autênticos, burgueses deslumbrados e hippies inspirados. Boa parte da melhor poesia e música mineira é feita aqui. Já São João del Rey é para amadores: da boa música barroca, por exemplo. Sua universidade federal e seu curso superior de música, em conjunto com as ordens católicas na cidade, armazena o maior acervo organizado e documentado de música barroca do planeta. Só quem passou aqui uma Semana Santa é capaz de falar sobre a magia do lugar. Infelizmente, tivemos pouco tempo para aproveitar desta vez. Mas, apenas a visita ao templo de São Francisco valeu por todas as peregrinações que já fiz à Fátima, Compostela, Lourdes, Matosinhos, El Escorial, Pilar, Aparecida, etc. A energia que rola em São João del Rey é indescritível. Voltarei sempre, sem dúvida...





Fizemos uma parada em Congonhas do Campo para visitar as obras finais de Aleijadinho, o grande escultor barroco. Eu já havia visitado a cidade uns 25 anos atrás; e ela já não era um primor de urbanidade. Mas, agora, trata-se de uma tragédia consumada! O próprio santuário, onde estão fechadas à sete chaves as obras do mestre e seus auxiliares (por que senão seriam depredadas e roubadas), converteu-se numa feira de bugigangas de plásticos. Nem é bom falar no assunto. Aliás, é bom  falar da única coisa  boa  além  do santuário, nosso almoço no restaurante Estância Real, uma obra prima da culinária mineira de bom gosto. 





Chegamos em Ouro Preto! 
Melhor apenas recomendar a visita. Em respeitoso silêncio. No entanto, vamos falar de Vila Rica, a antiga capital de Minas Gerais. Trata-se da mais bela cidade barroca do mundo, sem dúvida !  Construída à peso do ouro extraído de suas montanhas, Vila Rica é um museu à céu aberto. Enquanto S.J. del Rey concentra a pureza e a cultura barroca num pequeno relicário católico, Vila Rica expande a luxúria cristã em grandes e suntuosos edifícios. Adivinha-se o nível de sofisticação da sua colonial elite portuguesa pelo luxo das suas moradias e espaços sociais. O teatro onde cantamos, o mais antigo das Américas, é uma autêntica cena de luxo e glamour,  a rivalizar com qualquer ambiente de Lisboa, em menor e adequada proporção, evidentemente. A cidade é difícil de ser aproveitada por gente idosa, devido às suas ladeiras, mas apenas o núcleo central é suficiente para encantar definitivamente o visitante. Tenho uma única certeza absoluta sobre isso: não há nada igual!  



Contrastes. Trânsito e Mansidão. 


Finalmente, chegamos na noite de sábado ao ápice de nossa aventura mineira: o espetáculo de Sabará, uma cidade histórica que foi engolfada pela grande Belo Horizonte. Então, é curioso você passar por áreas degradadas como qualquer grande cidade brasileira, e depois deparar-se com um oásis urbano, como se o tempo e a pilhagem social não tivessem acontecido. No meio da praça, encontrei um banco onde me acostar o cansaço de Ouro Preto. Agora, nos preparávamos para a terceira apresentação do dia, o que para um amador não é nada fácil, ainda mais que tivemos que sustentar por algum tempo o volume do som sem energia elétrica, no ar livre de Ouro Preto. Garganta e cordas vocais comprometidas, eis que se me apresenta um senhorzinho vestido de terno, igual a mim, e diz: "Muito agradecido por o senhor ter vindo até aqui". Eu olhei meio atônito, primeiro para seus olhos e depois para a mulher que estava a seu lado, enquanto pedia explicações com o olhar e apertava a mão do cidadão. Ele esclareceu: "Sou o prefeito municipal". Seu secretário de cultura, segundo vi depois, é Saulo Laranjeira. Só podia ser!



A passagem por Belo Horizonte começou 3 horas da manhã de domingo, depois da apoteose e jantar em Sabará. Às dez da manhã deixamos o hotel em direção à praça central, onde há um grande parque e o Palácio das Artes. Ali, fizemos uma apresentação final. Não vou falar desta emoção, senão já começo a chorar...










2 comentários:

  1. Parabéns colega do coral vozes de Santa Catarina ! Estou emocionada com sua narrativa tão bem descrita do que foi a emoção de estar em Minas Gerais!!! Abraço, Denise do coral Encantos

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