Nunca mais se ouviu falar na Igreja Progressista, aquela parte do Catolicismo que tentava recuperar o caráter transformador da primitiva seita cristã, subjugada e costumeiramente massacrada por Roma, até que quatro séculos depois o Império se viu ante a iminente hecatombe social e, numa jogada de mestre, acabou com a liberdade religiosa e adotou o culto do povão bárbaro como sendo seu, o que lhe deu mais duzentos anos de sobrevivência. Ao ser oficializado como "estatal", o cristianismo desenvolveu o conjunto de dogmas e paramentos que teve seu resplendor na idade média, com seus Papas indicados por reis, príncipes Arcebispos e sacerdotes isolados em monastérios. A partir dos anos 1950, mas, principalmente nos 60 e 70, uma parte importante da Igreja achou que lhe cabia o papel de militante político, a serviço da elevação do padrão social dos miseráveis, contra, portanto, o status quo vigente nos sistemas de produção e governo do mundo cristão. Essa visão de mundo foi particularmente facilitada durante o mandato de João XXIII, que no seu curto pontificado de cinco anos transformou completamente o catolicismo, coroando com chave de ouro sua carreira eclesiástica de enorme sucesso, sendo inclusive núncio apostólico em vários países, destacando-se nos dois últimos, Turquia e França, antes de transformar-se no Patriarca de Veneza; naqueles dois locais o diplomata do Vaticano teve atuação brilhante, ora ajudando os judeus perseguidos pelo nazismo, ora atuando em favor do apaziguamento dos ódios remanescentes contra militares alemães presos na França, após a reconquista do território pelos Aliados. Com tais antecedentes ecumênicos, só podia mesmo ser o papa da liberdade e da transformação, que causou grande alvoroço nas hostes conservadoras quando promoveu o concílio Vaticano II, gerando o revolucionário conjunto de orientações estratégicas ao clero católico, que passou a influenciar sua atuação pelos próximos 15 anos, até ser propositalmente "esquecido" pelo Papa João Paulo II em 1978, o responsável pelo retorno da igreja Católica às posições conservadoras dos dias atuais.
Durante o período que a Igreja Progressista tinha liberdade de ação, muitos sacerdotes adotaram posturas políticas influenciadas pela esquerda, particularmente na América Latina, destacando-se o Brasil, onde líderes como dom Helder Câmara causavam mal estar na cúpula romana, ao aliar-se abertamente com as forças que combatiam a ditadura militar. Durante os anos mais trágicos do regime que sobreveio do golpe de estado de 1964, a Igreja Católica foi uma das poucas instituições que prestava algum abrigo aos perseguidos políticos, através de organizações como a Pastoral Operária, Conselho Indigenista Missionário, Grito da Terra e outros movimentos de caráter contestatório. Foi notória a participação de alguns sacerdotes na ajuda à luta armada de caráter comunista, como no caso dos frades Franciscanos de São Paulo, apanhados pela espionagem da repressão ajudando a organização clandestina de Carlos Marighela. Presos e torturados barbaramente, eles acabaram entregando um ponto marcado para futuro encontro com o líder guerrilheiro, que foi morto naquele ponto do centro de São Paulo. Os sacerdotes envolvidos foram todos levados para o exílio, após intervenção da diplomacia do Vaticano. Alguns deles morreram em consequência das torturas físicas e morais sofridas, mas, muitos continuam ativos entre nós, atuando como professores e até empresários. Um deles, Frei Beto, chegou a ser assessor especial da Presidência durante parte do mandato de Lula, depois deixou o governo por conta própria, tornou-se confessor de certa elite paulistana, onde oficiou o casamento do empresário Ricardo "virando a própria mesa" Semler. Outro que sobreviveu aos infortúnios do período repressivo é o professor da Unicamp, Roberto Romano, que frequentemente está em debates sobre ética e filosofia na televisão brasileira.
Porém, nada se compara aos sacerdotes que se envolveram diretamente na luta armada, como no caso de outros países do continente, destacando-se o pequenino país da América Central que há décadas sofria sob a ditadura dos Somoza, patrocinada pelos Estados Unidos. Vários padres lutaram no exército da Frente Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua, à exemplo do cura Gaspar Garcia Laviana, a quem foi dedicada esta canção.
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