segunda-feira, 26 de março de 2012

Brasileiros não são benvindos

Eu e minha companheira passeávamos de carro pelo interior da Espanha em 2001. 
Abandonamos a caríssima estrada pedagiada, de onde não se via nada a não ser os carros te ultrapassando a duzentos por hora, e preferimos seguir por umas estradinhas do interior, apreciando a paisagem, parando nas vilas que outrora fizeram parte da velha colônia romana de Valentia, fundada antes da era cristã, assim como a vizinha Barcino, atual Barcelona.

Se achávamos alguma cidadezinha simpática, buscávamos um hotelzinho e lá ficávamos dois ou tres dias, convivendo com a vida simples do povo rural, frequentando suas tabernas, comendo seus pratos típicos e, principalmente, provando de seus vinhos. Nesta região, a atração principal são os estupendos espumantes, de nome cave, talvez por serem envelhecidos em túneis subterrâneos, como os franceses, aliás.  A primeira coisa que fazíamos numa parada era visitar os super mercados e adquirir os que nos pareciam melhores, todos a preços de banana, brasileira, claro, por que as bananas espanholas (africanas) são caríssimas. 

De repente, na beira do asfalto, um velhinho nos acena com o sinal inconfundível de "carona". Instintivamente eu paro o carro e o velho entra, já falando no dialeto valenciano, quando eu lhe interrompo e informo no meu castelhano macarrônico que não entendemos sua língua, pois somos brasileños.

--- Brasileiros? Como? Seu carro tem placas de Madrid!
--- O senhor já ouviu falar em carro alugado?
--- Haaaannnn! E alugam carros para brasileiros?
--- Se pagar adiantado, eles alugam até para marcianos.
--- Eu pensei que brasileiros eram todos pretos e catavam lixo.

Vários preconceitos e ofensas numa só frase. Arrependi-me da boa ação, ainda mais que tivemos que suportar a tagarelice do idoso senhor até a próxima cidadezinha. Ele contou muitas histórias, todas terríveis, o que me vez acreditar tratar-se francamente de um Franquista, com perdão da evidência evidente.

Estou cansado de ver brasileiros serem destratados no exterior. A Espanha, país à beira da falência, esqueceu que passava fome até 1960, sob as botas do regime Franquista, que fazia o país crescer igual cola de caballo, quer dizer, para trás e para baixo. Mesmo assim, se dá ao luxo de barrar cidadãos latino americanos em seu aeroporto principal, como se lá fôssemos roubar suas migalhas. Dizem que é para proteger seu mercado de trabalho, que apresenta  fantástico desempenho, com mais de 20% de desempregados. 


E não é só a antiga Hispânia, mas, toda a Europa. Em Londres, noutra ocasião,  também me deram um chá de cadeira de duas horas. Ficaram repetindo as mesmas perguntas, para ver se eu entrava em contradição. Quando finalmente me dispensaram, um outro funcionário estranhou que eu havia desembarcado de um vôo vindo de Copenhaggen. 

"Fui lá visitar minha irmã", eu disse, enquanto o oficial se ajeitou na cadeira para continuar: "Então, quer dizer que tens parentes na Dinamarca. Tens parentes aqui também? Quem está te esperando do lado de fora?", e começou tudo de novo. Numa sala ao lado eu via vários latino americanos com jeitão de índio,  lendo um grosso manual, em Inglês. Era o regulamento do serviço de imigração, sobre o qual eles fariam perguntas mais tarde àqueles pobres seres humanos. Será que vale a pena levar nosso rico dinheirinho para países assim, que nos recebem como bandidos? Eu adorei quando a Polícia Federal deteve aquele piloto mal educado, da American Air Lines, quando ele reclamou com gestos obscenos, obrigado à mesma revista que os norte americanos fazem em nossos cidadãos. Isso devemos ao Lula. Pelo menos nenhum de seus ministros tirou os sapatos para passar na aduana americana.  



Eu entraria por Lisboa, se fosse de novo à Europa. Mesmo que sejam mal educados, como todos os funcionários de aduanas, pelo menos eles falam algo parecido com a nossa língua e, se não nos tratam como iguais, respeitam como assemelhados. Porém, mesmo entrando pela porta amiga de Portugal, estamos sujeitos a todo tipo de risco. Em 2008, fomos num grupo grande, 100 pessoas entre cantores e acompanhantes do coral representando a arquidiocese de Floripa, cantar em várias Basílicas Católicas de Portugal, Espanha e França. Entramos por Lisboa, porém, quando desembarcamos em Madrid na continuidade da viagem, o carimbador de passaportes quis nos fazer enfrentar de novo a imigração. Nosso guia uruguaio tentava de todos os modos se fazer entender, o que só foi possível quando a guia portuguesa, que já nos esperava com seus ônibus, no lado de fora do aeroporto, foi chamada para prestar socorro e subiu nas tamancas contra os funcionários.

--- Vocês estão nesta porra de comunidade européia? Sim ou não, caralho? Se estão, tratem de seguir as leis. Ou vocês vão querer que eu lhes explique?  

Não sei se os funcionários espanhóis nos liberaram, por que entenderam o recado da  portuguesa ou se ficaram com medo dela. 


Para terminar com uma pergunta: por que fazemos todos esses sacrifícios? Não seria melhor ir para Miami fazer compras? Pode até ser, nossa questão é que lá não vamos encontrar essa cultura antiga e sempre renovada. 





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