O grande apelo turístico do
Brasil são as praias. Claro que a Amazônia e outras belezas naturais também
atraem turistas, mas não se compara com o fascínio exercido pelo litoral. As
únicas montanhas apreciadas pelos turistas são o Pão de Açúcar e o Cristo
Redentor, de preferência admiradas a partir das areias das praias que estão
visíveis desses dois pontos, Copacabana, Ipanema, Leblon, etc. Por isso, a Serra Fluminense
não é tão conhecida, exceto por alguns nichos muito específicos, os amantes da
natureza, por exemplo, que vão passar seu tempo de folga nas imediações de Visconde
de Mauá e Itatiaia, na Serra da Mantiqueira. Também é bastante comum que as
famílias da classe media alta carioca tenham suas chácaras e casas de montanha nas
cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, mais perto da cidade do Rio
de Janeiro e oferecendo maior conforto e variedade para o consumo desse
público mais interno (se bem que, ultimamente, essas cidades encontram-se em
certa decadência, devido às várias enchentes sofridas pela região nos últimos
anos). Por isso foi com surpresa que os integrantes do Coral Eletrosul
receberam a sugestão vinda de um colega, para que participássemos do festival
de coros programado para a cidade de Valença, aliás, para ser mais exato, no
seu distrito chamado Conservatória, situado a 600 metros de altitude, numa
região de serra no estado do Rio de Janeiro.
Conservatória, distrito de Valença (RJ) |
Saindo de Volta Redonda, às margens da Via Dutra, pega-se uma estrada tranquila e agradável, que vai até o entroncamento de
outra grande estrada, ligando Belo Horizonte ao Rio, nas cercanias de
Petrópolis. Ao longo do trecho de aproximadamente 150 km, estão as terras férteis
que receberam as primeiras lavouras de café no país, ciclo econômico do qual
herdaram grandes e imponentes fazendas, em meio a ondulação de montanhas que
variam de 500 a 1500 metros de altitude, revezando paisagens bucólicas e
cidades históricas. As cachoeiras e corredeiras para esportes radicais, também
se revezam com rios tranquilos e limpos, bons de banho e pescaria. A população
local junta a simplicidade e a ingenuidade dos mineiros, com a alegria e a
musicalidade dos cariocas. Da mesma forma, a gastronomia atende aos dois
apelos, o caipira e o afro-brasileiro. As excelentes cachaças da
região abrem o apetite para os
pratos típicos da cozinha mineira, embora estejamos do lado de cá da fronteira
com Minas Gerais.
Estive uma única vez em
Conservatória, na década de 1990, levado não pela fama de seresteira que a
cidade ostenta, mas, atraído pela tragédia que se abateu sobre sua artista
maior, a cantora, compositora e instrumentista Rosinha de Valença, que teve um
acidente vascular e ficou em estado vegetativo por longos 12 anos, até morrer
em 2004. Eu pretendia visitá-la no
hospital, para se ver o tanto que eu gostava daquela pessoa, mas, o único
contacto que obtive foi conversar rapidamente com o irmão dela, que me
informou da proibição de visitas, algo mais que compreensível. Emocionado até as lágrimas, ele disse que o único que entrava em seu quarto e passava horas
tocando violão para ela (como se ela pudesse ouvir), era o seu discípulo
Raphael Rabello, um rapaz que ficou pouco tempo entre nós, mas, na sua curta passagem foi um dos mais geniais violonistas da música brasileira. Eu, volta e meia, me pergunto a deus por que estranhas razões certos artistas sensíveis
e inspirados, como esses dois, se vão tão cedo para a outra dimensão, enquanto
facínoras e estúpidos duram tanto nesta terra.
Rosinha de Valença teve fama
internacional, em várias tournés à volta do planeta, incluindo mais de
cinquenta países. Fora os Estados Unidos, onde protagonizou sucesso espetacular com a banda Sergio Mendes e Brasil 66. Depois que se consolidou artística e
economicamente, voltou à sua Valença, de onde saia apenas para visitar amigos e matar as saudades do Rio de Janeiro, além de ocasiões
especiais, como a tourné que fez junto com o grande multi-instrumentista Sivuca.
No mesmo ano de sua morte, sua amiga Maria Betânia juntou vários artistas do círculo
de amigos que dividia com Rosinha, gravando um álbum em sua homenagem, onde estão algumas de suas obras primas, uma delas cantada pela própria Betânia. O violão que ornamenta a voz angélica de Maria Betânia é de Turíbio Santos.
Outro que participou do álbum foi Chico Buarque, em dueto com sua sobrinha Bebel, a filha de João Gilberto e Miúcha.
Alguém pode me explicar o que está acontecendo???
ResponderExcluirQuase 1500 acessos...
Explico!
ResponderExcluirEmbora não pareça, entre nós, os brasileiros, que vivemos num país que não dá muita importância para a divulgação e expansão da cultura, há muitos que gostam de cultura. E, você é uma pessoa que só não gosta como também divulga preciosidades como esta. Acho que consegui explicar, um pouco. Ao que parece, nem só de Samba e Futebol vive um país. Fui bem?
Dez dias depois, e já estamos com 1600 acessos. Impressionante! Quem é essa gente? Milagres da nova era...
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