Ainda hoje se pode ver pelas imensas dunas e restingas do litoral de Imbituba o famoso cipó imbé, como chamado pelos índios Carijós que habitaram aquele trecho por tempos imemoriais. Era o material básico na prática da pesca, a principal ocupação dos indígenas e também dos pioneiros açorianos, que aqui desembarcaram lá por 1720 e, embora a atividade tenha se tornado indústria de alta tecnologia, ainda é utilizado nas lidas artesanais, graças a sua surpreendente resistência, que pode durar cinquenta anos ou mais, mesmo submersos nas profundezas oceânicas. Além da utilidade nos serviços da pesca, pintam de verde o branco predominante nesta terra dos imbés em abundância, a nossa Imbituba.
Não sabíamos nada disso quando embarcamos no ônibus, às 07:30 da manhã de domingo em Florianópolis, sob os primeiros frios do inverno. Assim como ainda não sabíamos das hospitalidades e amabilidades dos imbitubenses da Vila Nova, pequena comunidade que foi fundada muito antes de Imbituba, propriamente dita, por que seria ali a sede da missão religiosa que por lá chegou com o objetivo principal de catequizar os Carijós. Eram tempos ásperos aqueles de 1620 e os sacerdotes encarregados de implementar a missão foram expulsos por guerreiros portugueses e espanhóis, que não queriam ver seus virtuais futuros escravos sob a proteção papal. Assim, a Vila Nova voltou a ser apenas um território Carijó selvagem por mais cem anos, até a chegada dos açorianos.
Vila Nova de Imbituba. Onde chegaram os primeiros brancos, em 1620. |
Assim que chegamos, encontramos nos esperando as nossas amadas irmãs nativas da terra, Mada e Rosa. Tinham como presente para nós um docinho feito com farinha de mandioca e amendoim, com certo nome estranho e difícil de pronunciar, além do reconfortável café da manhã que a Paróquia de Santa Ana nos oferecia. De nossa parte, levamos também um presente para a Rosa, na figura do seu cambaleante, porém firme cravo, o Pedro, apoiado em sua bengala pós cirúrgica.
E iniciamos as cantorias.
Leínha, emocionada com o próprio encanto. |
Maestro Robson e algumas de suas centenas de cantantes. |
A platéia se encantava a cada nova presença no palco-altar.
No final da tarde, ouvi muitos moradores de Imbituba se perguntando, "será que o maestro Robson ainda vai se apresentar com algum de seus coros?".
Eu, intrometido que sou, para variar, disse que "sim, ele ainda vai nos reunir para encerrar o Encontro". Então, meus confidentes reafirmavam sua admiração: "ha, se é assim, não dá para ir embora, temos que esperar!". Com a chegada da hora do ângelus, todos os corais presentes cantamos juntos a última canção.
E o domingo musical de cantoria veio conosco, de volta, destinado a ficar gravado em nossa memória, tais quais as lembranças boas que embalam nossos sonhos na dura batalha do cotidiano de cada um. Até que um próximo encontro nos anime a repetir tudo de novo.
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