quarta-feira, 26 de junho de 2013

Mulheres cantadas e pedras rolantes

Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços,
mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza,
que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas."
Sêneca


A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu:
a tirania do mais fraco sobre o mais forte."
Oscar Wilde




A mulher de leão
Brilha na escuridão.
A mulher de leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de leão não tem perdão.
As mulheres de leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Ígneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais"
Vinícius de Moraes




"Quando chegar aos 30

serei uma mulher de verdade

nem Amélia nem ninguém

um belo futuro pela frente

e um pouco mais de calma, talvez.

E quando chegar aos 60


serei livre, linda e forte


terei gente boa ao lado


saberei um pouco mais do amor


e da vida, quem sabe.


E quando chegar aos 90


já sem força, sem futuro, sem idade


vou fazer uma festa de prazer


convidar todos que amei


registrar tudo que sei


e morrer, de saudade."






Era uma vez uma menina-mulher independente que percebeu que em sua vida faltava alguma coisa.

Ela estava cansada de beijos sem sentimento, carícias sem motivo, sexo sem compromisso...

Ela sabia que estava sofrendo por isso. Mas esperava insistentemente que o príncipe encantado viesse salvá-la. Um dia perguntei a ela "Como é esse seu príncipe encantado?"

Eis o que ela me respondeu:

"Ele não deve existir.... ou, se existir, deve estar muito longe de mim... Imagino que seja um homem maduro, inteligente, divertido. que saiba me tratar como eu mereço. Que me sacie com carinhos, beijos e muito amor.

Que acompanhe meu ritmo noite e dia. Que entenda de poesia e as possa fazer nas horas mais inusitadas.
E que seja ousado... ".

Ela continua procurando!

Ana Carolina




Aquele que conheceu apenas a uma mulher e a amou de verdade,
sabe muito mais das mulheres do que aquele que conheceu mil."
Fernando Pessoa

terça-feira, 25 de junho de 2013

Copacabana me engana



 
 
Passou a chuva. Depois de uma semanada inteira com dias frios e úmidos, com máximas de 23 graus (inaceitáveis para os friorentos cariocas), finalmente abre um domingo glorioso. A luminosidade chega a turvar a minha vista, enquanto caminho por Copacabana,  “sem lenço nem documento” e apenas para exercitar a minha velha ótima sartreana, como cantou o Vitor Ramil numa outra antiga canção.  

Agora são 13 horas deste domingo ensolarado. As duas bocas de metrô existentes no bairro despejam multidões em direção à orla. Gentes dos morros distantes não creio, pois o tícket de ida e volta custa quase cinco reais por pessoa. Lindas suburbanas, famílias inteiras, adolescentes alvoroçados,  todos em trajes de praia. Há uma sensação de alegria e uma energia boa no ar, ainda que tenhamos de fazer algum esforço para não ver o povo das ruas, na figura de suas crianças drogadas, velhos doentes, os esmoleiros de sempre, os bandidos atentos ao nosso caminhar.  E eu de olho neles, nos bandidos e nos suburbanos.

Estrangeiros há, muitos estrangeiros. Claro que estes não saíram do metrô, ora bolas, pois estão hospedados nas centenas de hotéis próximos. O café da manhã no meu hotel é uma festa poliglota. Hoje consegui identificar inglês, espanhol, francês, alemão, japoneses e uma língua estranha de umas pessoas muito altas e muito brancas (russos?, poloneses? suecos?).  Evidentemente o inglês reina absoluto, mas, gostei de ver uma animada guia carioca adentrar ao ambiente e saudar seus clientes com um alto e alegre:  “Mira, que guapos que están, como fué la noche ?”. Parece que foi bom.  Estes estrangeiros são o motor desta economia copacabanense e, por causa deles, tudo aqui é pela hora da morte. Os restaurantes a quilo mais baratos estão na casa dos 40 reais, o chopp varia de 3,40 a 6,50, uma dose de vodka nacional sai por 10 reais, e por aí vai. Claro que eu não sei o preço do alface nem da cebola, tá certo ?

Assim funciona esta cidade símbolo do Brasil, ostentando seu esplendor e sua miséria convivendo lado a lado. Aqui você tem à sua disposição, ao mesmo tempo,  tesão e terror,  felicidade e desgraça, arte e barbárie, beleza e horror, céu e inferno. São 6 milhões de habitantes só no município do Rio de Janeiro, mais de 1 milhão só em Copacabana, um bairro do tamanho de Coqueiros em Floripa (6 km por 1). Eu acredito que na maioria das cidades, este cenário produziria inevitavelmente o caos social, mas, aqui os espaços que ficam entre os extremos, ou seja, o espaço público e socializado das ruas, este é preenchido pelo bom humor e simpatia do carioca médio, por essa alegria básica que suporta todo o conjunto dos contrastes.  Eu já vi outros povos com esta energia básica, mas, jamais vi relatos deste fenômeno sobreviver em situações de guerra civil declarada, como a que vivemos no Rio de Janeiro. Semana passada foi mais um arrastão no túnel Rebouças, uma via rápida que liga a zona norte (pobre) à zona sul (rica). Assaltantes vindos dos morros próximos (e são vários) simulam blitzes da polícia e param os carros dentro do túnel, para assaltá-los. É um deus nos acuda, pois, os carros que estão atrás tentam fugir dando ré, já pensaram ?  E tudo isto na cara da polícia, que está ali, em dois postos instalados em ambas as entradas do túnel, pode? 

Também está nas páginas principais da mídia o eterno conflito entre traficantes do Vidigal e da Rocinha, com a consequente ocupação militar das comunidades. Quando isto acontece, fecham-se todas as ligações da zona sul com a zona oeste, onde estão bairros emergentes e ricos como Barra da Tijuca e Jacarepaguá. O que realmente não dá pra entender são as razões das autoridades para ocupar militarmente os morros, pois já li não sei onde que, se quizesse, a polícia teria o mapa do tráfico num monitor de computador, ligado aos satélites e sistemas de geo-processamento, de modo que poderiam monitorar tudo o que acontece nesses morros e, assim, intervir eficaz e pontualmente apenas nos pontos de vendas de drogas e quartéis-generais do tráfico. Não foi por acaso que o profeta Renato Russo falou que o chefão do tráfico é um “general de dez estrelas” e que “fica atrás da mesa”, heim?  Não me comprometam, que eu não sei de nada. 

Mas, há quem saiba!  Aqui, bem pertinho do meu hotel, existe uma tal Ladeira Tabajara, onde uma velhinha de seus 80 anos passou os últimos dois filmando as bocas de fumo nos morros defronte seu apartamento. Quando revelou à imprensa o produto de seu exótico roteiro cinematográfico, apareceu de tudo: negócios no varejo e no atacado, artistas e figurões frequentando os pontos de distribuição e policiais atuando diretamente nos negócios. A coisa está um pouco obscura e eu não costumo acompanhar o noticiário, mas, parece que a velhinha está se dando mal. Quem mandou se meter, né não ?


O dia que Waly Dias Salomão visitou Paulo Leminski






“Eu sou de Virgem. Então, muitas vezes a cabeça está nas nuvens e os pés no chão. Quando fui nomeado diretor da Fundação Gregório de Matos de Salvador, trabalhei pesado. Na minha gestão eu me pautei antes de tudo por um modo de pensar desconfiado da relação do artista com o poder. E em algum tempo minhas habilidades administrativas e de flexibilidade política foram reconhecidas e fui designado coordenador do carnaval da Bahia. Minha luta foi toda em cima de defender o carnaval não como um fato turístico e pitoresco, mas fundamentalmente como um fato cultural. Nasci e briguei muito na Bahia naquele momento para dar valor aos blocos afros que estavam nascendo, como o afro de Itapuã, Male Debale, esse nome ajudei a dar e significava a revolução islâmica do século XIX em Salvador. Ajudei o Olodum, ajudei o Ilê Ayê. Sabia que estava ajudando a representação da maior cidade negra fora da Africa que é Salvador. Eu digo que tenho experiência administrativa porque o carnaval demandava 7 mil pessoas trabalhando diretamente sob meu comando e eu chegava mais cedo do que todo mundo, enfrentando os pelegos do carnaval que me chamavam de estrangeiro, não baiano. Mas fui provando não só que era de Jequié mas que tinha muito conhecimento da cultura baiana, das populações mais pobres, da população negro-mestiça, intimidade nas festas e nas agruras dos pescadores, das feiras, com o candomblé”Waly Dias Salomão (September 3, 1943 – May 5, 2003)




Quando Gilberto Gil foi ministro da cultura do governo Lula, levou Waly Salomão para ser o Secretário Nacional do Livro. O baiano revolucionário morreria menos de um ano depois. E ainda não tinha completado sessenta anos. Muitos dizem que morreu por que não sabia conviver com o poder. Ele, de fato, tentou mudar a cultura brasileira e livrá-la da influência nefasta dos donos do poder. Na verdade, tentou a vida inteira ser diferente. Não conseguiu... nem tanto por que não tivesse talento, mas, justamente por que o tinha em demasia. Era uma pessoa atenta para o que se passava no mundo, estava ligado em tudo que acontecia de diferente, e por isso sua atenção foi atraída pela poesia concreta que era feita em Curitiba no começo dos anos setenta. 


Lembro-me que era uma noite de inverno, daqueles invernos frios de antigamente naquela Curitiba de 1975, que ainda debatia as novidades, como a canaleta exclusiva do ônibus expresso, algo impensável até então e que iria "tirar os carros da classe média" das avenidas da cidade, assim como o calçadão da Rua das Flores iria provocar a "falência generalizada do  comércio".  Naquele tempo e naquela cidade as certezas ideológicas começavam a ruir dentro de mim,  pois não é que a inovação mais revolucionária no transporte de massas do país vinha de um sujeito indicado prefeito pela ditadura militar ? 

Vejam que ironia. Comunistas e esquerdistas em geral eram os principais opositores das idéias revolucionárias daquele prefeito judeu, filiado à ARENA, que propunha  a modernização do transporte e da cidade, assim como a implantação de um calçadão exclusivo para pedestres, com confortáveis bancos de descansar e cafés no meio da rua, para se conversar em pé.

Havia apenas dois anos que eu morava na cidade e meu espírito rebelde por natureza esbaldava-se com o ambiente curitibano, as animadas discussões nos bares lotados, em plena madrugada fria, o termômetro na Rua das Flores marcando zero grau, e nós lá dentro do Savoy ou do Cometa, mandando brasa na cachaça e na palavra.  As pessoas chegavam todas encasacadas em vistosos paletós, ponchos e jaquetas de flanela. Pois, foi assim que eu os vi entrar no Cometa.  Não poderia haver outro lugar melhor na cidade, para onde pudesse ser levado o demolidor poeta baiano. Não poderia haver melhor companhia para ele do que o casal Alice Ruiz e Paulo Leminski. Waly já era um poeta e compositor famoso, com vários sucessos emplacados. Tinha ido lá para conhecer o "polaco da Barreirinha", Leminski, que despontava como promissor concretista no cenário da literatura nacional. 

O baiano estava então com 32 anos de idade, era imenso, alto, ainda magro e bonito, principalmente bonito, com seus cabelos longos e encaracolados. Quem iria imaginar que já havia passado da metade de seu tempo de vida?  







Analista

--- Como assim?  

O filósofo reagiu espantado, diante daquela bela e simpática senhora que lhe pedia uma "avaliação da minha pessoa". Ele fora pego de surpresa e não podia compreender a natureza da análise que lhe era solicitada. Também pudera, não é toda hora que lhe aparece uma mulher pedindo que a avalie. Ainda mais no caso dela, uma bonita mulher, ainda atraente no limiar da sua entrada na assim chamada meia idade, de alta classe média, gestora de uma família aparentemente muito bem estruturada, mantendo relacionamentos mais que estáveis com o marido, uma bela residência "classe a", apartamentos e investimentos bancários, filhas, carros, mãe, irmãs, amigos e todo o conjunto de influências e trocas cotidianas que formam o ambiente onde uma pessoa da sua categoria (sobre)vive. Naquele momento, o filósofo não soube responder nada. Enrolou a língua, desdisse o que não havia dito, falou da teoria do desaparecimento explícito, e ela apenas riu, se despediu linda e deliciosamente perfumada, como sempre. 



Depois, nosso cronista abobado ficou se perguntando: o que terá acontecido? Ficou muito claro que houvera um estresse no almoço de domingo em família. Parece que os nervos estavam à flor da pele, envolvendo problemas com com as filhas; a menor sofrendo inseguranças e confrontos entre as amiguinhas da escola, enquanto vivia as incertezas de sua primeira viagem sozinha, numa excursão escolar de dois dias. Obviamente o filósofo considerou motivo muito pouco convincente para tal drama conjugal. Claro, a menina é inexperiente, mas, se não começar a sair sozinha, como vai vivenciar experiências de autonomia?  Parece que a viagem é para alunos de uma escola moderna, bem gerenciada, com todo o jeito de entender bem dos chiliques dos filhos da classe média. Então, qual o problema de viajar sozinha? Ainda mais que estará suportada por toda a infra-estrutura da escola. Rusgas e competição entre as meninas? Nada que a mãe possa resolver. Aliás, este seria mais um motivo pra que a menina viajasse sozinha e aprenda a lidar com as situações de confronto. E depois, evidentemente a coisa não estaria à beira de uma tragédia, senão a própria estrutura de acompanhamento da escola já teria detectado. Viagem a lugares estranhos? Ora, isso até poderia ser um problema se a excursão fosse pra favela da Rocinha ou pro Complexo da Maré. Mas, Festa das Flores de Joinville, convenhamos, este não pode ser o motivo do estresse.

Ah, tem o caso dos desmaios da adolescente de 17 anos, a filha mais velha. Já não foi medicada? Sim, parece que não foi detectado qualquer problema físico ou psicológico. Então seria caso de chantagem emocional da pequena para os pais? Quem pode saber? 




Diante do quadro, o filósofo não pode deixar de considerar que, se não há solução para estas questões, tudo solucionado está. É simples assim, como na sabedoria popular.   Todas as questões da vida doméstica parecem ter ficado ao encargo desta esforçada senhora, a minha amiga, e esta responsabilidade certamente contribui muito para o estresse que se manifesta em noites mal dormidas,  ansiedade, palpitações no coração, tristeza, decepções. Então os casais de hoje não praticam a divisão do trabalho? Claro que sim, ela administra a   casa com piscina, gatos, cachorros e coelho, empregada, supermercado, jardineiro, leva as meninas para a escola, dança, inglês, matemática, psicólogo, ginástica, shopping, e caminha na Beira Mar Norte.   Haaa..., também trabalha 8 horas por dia e se pretende ótima profissional numa companhia complexa e grande. 

Ele já tem trabalho que chegue na labuta para que as pesquisas científicas que faz melhore o mundo. O mundo dos outros, claro! Que fique bem entendido! Na militância a favor do progresso científico, passa mais tempo  nos aviões de carreira que no seu amplo e lindo laboratório. Como encontrar tempo para coisas tão triviais como  cortar a grama, limpar a piscina ou comprar feijão com arroz? Já se ocupa suficientemente em irritar-se quando percebe algumas garrafas de vinho quebradas no porta-malas do carro, coincidentemente quando a esposa está dirigindo, ou quando se dá conta que o orçamento doméstico está subindo.

Parece difícil que estes dois mundos separados venham juntar-se um dia, raciocinou o filósofo. Diante da constatação de que o caso não tem jeito, e já pronto pra diagnosticar novamente que o que não tem solução, solucionado está, o filósofo espantou-se com o próprio assombro diante da injustiça da situação e não teve outro remédio senão recorrer a seu amigo, o também filósofo Lalá Zen, que mora numa chácara do Campeche, à qual chama carinhosamente de "Mansidão". Após momentos de meditação e análise, Lalá Zen foi enfático: "Ninguém merece!".

Diante da profundidade do pensamento de Lalá Zen, o filósofo mudou a estratégia do conformismo e concluiu que o que não tem solução precisa de medidas radicais e urgentes. "Todos já para a terapia!" A familiar para eles e, "pra você, minha amiga, também análise individual". Bote tudo de pernas pro ar, mesmo que o orçamento doméstico suba um pouco mais. Só tem um jeito de escapar do terrível destino de "dona de casa", que lhe está reservado: "vá à luta!"  

Neste momento o filósofo deu-se conta da seriedade do conselho que propunha à angustiada amiga, assim como da difícil possibilidade de comunicá-lo. Também ficou procurando formas de evitar que não fosse recebido  como uma intromissão na vida familiar, já suficientemente complicada. Achou que o mais prudente seria escrever uma crônica e publicá-la no Facebook. 



Mis deseos para ti

Autor: Victor Hugo



Te deseo primero que ames, y que amando, también seas amada.  Y que, de no  ser  así, seas breve en olvidar y que después de olvidar, no guardes rencores.

Te deseo también que tengas amigos, y que, incluso malos e inconsecuentes, sean valientes y fieles, y que por lo menos haya uno en quien puedas confiar sin dudar. Y porque la vida es así, te  deseo también que tengas enemigos. Ni muchos  ni pocos, en la medida exacta, para que, algunas veces, te cuestiones tus propias  certezas. Y que entre ellos, haya por lo menos uno que sea justo, para que no te sientas  demasiado segura.

Te deseo, además, que seas útil, pero, no insustituible. Y que en los momentos, cuando no quede más nada, esa utilidad sea suficiente para mantenerte en pie.

Igualmente, te deseo que seas tolerante; no con los que se equivocan poco, porque eso es fácil, sino con los que se equivocan mucho e irremediablemente, y que haciendo buen uso de esa, sirvas de ejemplo a otros.


Te deseo que, siendo joven, no madures demasiado deprisa y que, ya madura,  no insistas en rejuvenecer, que siendo vieja no te dediques al desespero. Porque cada edad tiene su placer y su dolor y es necesario dejar que fluyan entre nosotros.

Te deseo de paso que seas triste. No todo el año, sino apenas un día, pero que en ese día descubras que la risa diaria es buena, que la risa habitual es  sosa y la risa constante  es  malsana.

Te deseo que descubras, con urgencia máxima, por encima y a pesar de todo, que existen, y que te  rodean, seres oprimidos, tratados con injusticia y  personas infelices.

Te deseo que acaricies un gato, alimentes a un pájaro y lo oigas erguir triunfante su canto matinal, porque de esta manera, te sentirás  bien por nada.

Deseo también que plantes una semilla, por más minúscula que sea, y la  acompañes  en su crecimiento, para que descubras de cuántas vidas está echo un árbol.



Te deseo, además, que tengas dinero, porque es necesario ser práctico.
  Y que por lo menos una vez por año pongas algo de ese dinero frente a ti y  digas:  "Esto es mío",  sólo para que quede claro quien es dueño de quien.

Si todas estas cosas llegaran a pasar, no tengo más nada que desearte.





Rua Barão de Mesquita, 425

Domingo fui visitar a Rua Barão de Mesquita, 425, Tijuca, Rio de Janeiro. 




Por trás deste endereço singelo, que parece o de uma familiar padaria ou da casa da nossa avó, escondia-se um dos símbolos do regime militar brasileiro 64-84.  Eu diria até que se tratava de um dos sustentáculos da ditadura, qual seja: a prática da repressão mais violenta e sem o menor pudor. As outras duas estacas mestras de sustentação daquele regime eram a sua política educacional e o alinhamento da nossa economia aos objetivos norte-americanos, mas, isto é matéria para sociólogos e não memorialistas, como eu.

De modo que, voltando à nossa conversa, eu dizia que fui visitar a antiga sede do DOI-CODI, onde passei momentos que gostaria de esquecer. Não, eu não fui torturado, na verdade não era sequer prisioneiro. Minha presença nesse lugar de tantas memórias se deu por conta da minha condição de recruta do exército brasileiro no ano de 1970, justamente do 1º Batalhão de Polícia do Exército, que era o proprietário oficial do endereço. Fazia 40 anos que não passava em frente ao prédio. Recordo-me que uma vez, há mais de 20 anos, tomando um taxi na Praça Saens Peña em direção à Vila Isabel, deu-me curiosidade de pedir ao chofer que passasse em frente, mas, não tive coragem. Acho que não estava ainda pronto para as emoções que sobreviriam apenas neste domingo. Vou poupar a todos nós o relato das noites de horror, dos gritos animalescos, das famílias torturadas em conjunto e no atacado, da chegada de inocentes que haviam sido arrastados por engano ou da chegada dos militantes políticos, presos em combate ou no estouro dos frágeis aparelhos. 

Não, eu também não quero lembrar das operações especiais a que assisti, como na época do sequestro do cônsul suiço, em 1970, quando o agito era deca-duplicado, claro, pois a situação exigia pressa. Não preciso dizer que nestas situações os sons infernais iriam  acompanhar o ritmo do movimento e subir ao nível do insuportável.  Sim, vou poupar-nos da inconveniência destas memórias. 

Entretanto, foram exatamente elas que emergiram nesta manhã de domingo, enquanto eu olhava de frente para a entrada de serviço, localizada defronte a pequena Praça Lamartine Babo, vejam que ironia, logo o nome do grande carnavalesco, logo ele que não merecia uma "homenagem" dessas.  Era por ali que entravam e saiam os comandos em busca de novas presas.  E eu ali, olhando pro quartel, percebi que minha vista se turvava e meus óculos não serviam pra mais nada, molhados que estavam. Num lampejo de consciência, tive que recuperar o controle emocional, pois estava no meio da rua e as pessoas passando ao redor, eu não podia fazer o “papelão” de chorar.  


Dizem que medo e ódio são a mesma coisa e que estão invariavelmente  associados à raiva, não é mesmo?  Eu aceito como dizem, visto que não sou propriamente um especialista em psiquiatria e, afinal, tenho pouca intimidade com as teorias de Wilhelm Reich, mas, lembro-me perfeitamente que quando organizei uma palestra do Darci Ribeiro na minha universidade, lá por 1977, eu “literalmente” ouvi a polícia ocupar o pátio da UFPR enquanto o Darci falava da tribuna, com seu discurso sempre explosivo. Na minha insanidade eu já me via sendo levado ao pau-de-arara, apenas por que era o coordenador cultural da minha entidade estudantil.  O que são as memórias, heim? Nos seguem pela vida afora ....

Passadas minhas filosóficas reflexões, eis que estou agora confortavelmente instalado num belo apartamento de frente para o morro do Pavão-Pavãozinho, Copacabana, e não seria má ideia sair pra jantar algo bem agradável nesta  noite domingueira, pois,  afinal, amanhã o batente em Furnas vai ser total. Além do mais, estou convencido de que a rua Barão de Mesquita, 425,  é apenas um endereço no catálogo do bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. 


Será? 



Quebrando a cara em Nimes




Consultei meu guia "Toda França" e escolhi ficar na cidade de Nimes, onde cheguei no trem de seis da tarde, o sol alegre do pré-verão ainda brilhando. A cidade correspondia a tudo que eu havia lido e mais um pouco, talvez a mais bem  preservada das ex-colônias românicas que eu tenha visitado. A limpeza das ruas e calçadas era de impressionar japonês, quanto mais alguém acostumado com as cidades sul-americanas, como eu! Quem sabe fosse coisa típica do maio ainda primaveril, mas, o perfume que eu sentia no ar, comum nas cidades do interior da França, em Nimes rescendia à alfazema. Caminhei prazerosamente por mais de uma hora, para esticar as pernas. De volta à pousada baratinha que encontrara, tomei meu banho tipicamente francês, aquele em que, para lavar a barriga, você tem que colocar a bunda pra fora da cortina que protege a ducha presa na parede.






Saí pra comprar uma garrafa de vinho e celebrar a minha primeira noite em território inimigo, digo, francês. Foi quando percebi que os supermercados e mercearias fecham às 6 da tarde e que padaria não vende vinho. Coisa de país atrasado, deve ser, né? Sem deixar cair o astral, estava voltando para perto do hotel quando vi um posto de gasolina, com uma pequena janelinha onde ficava um pequenino oriental, que deveria estar lá pra receber a grana dos abastecimentos. Nas prateleiras a seu lado brilhavam centenas de garrafas de vinho, iluminadas pelas luzes fluorescentes. Não tive dúvidas e parti célere pra escolher uma ou duas, quando dei com o nariz de encontro a uma parede. Caramba! A tal loja era de vidro e estava fechada, como todas as demais que vendem bebidas alcoólicas! O chinesinho só balbuciou "sang..., sang..." e me ofereceu um pacotinho de algodão. 


A vida é uma grande viagem - em sete capítulos





1

Que Saudade do Bar do Chico!
As ruas de Botafogo estão abarrotadas de apressados cariocas de classes médias, loucos pra pegar as suas vans e ônibus suicidas, trens e sei-lá-mais-o-que, pra ir não-sei-pra-onde. Em meio ao “calor humano” das encardidas ruas de Botafogo você quer chegar logo em Copacabana, para um ou vários chopps que façam esquecer o trabalho de sondar “processos de negócios”, para encontrar neles misteriosos Controles Sistêmicos, que “mitigam” ameaçadores Riscos. Isto quando não tem o azar de identificar de cara um “Gap direto”, que leva diretamente ao nocaute. De fato, convém esquecer destas coisas por algum tempo. Agora, neste barulhento boteco da Siqueira Campos com Barata Ribeiro, você, pelo menos, está só a duas quadras do seu hotel e o chopp geladíssimo à sua frente lhe faz lembrar de um mergulho nas ondas do Campeche, Floripa, numa luminosa manhã de domingo. Aí, você diz para o bolinho de bacalhau: "Que saudade do Bar do Chico!".











2

O senhor é do Ibama, moço?
Estava trabalhando em Manaus. Cansado de tomar chuva no lombo, resolvi pegar um ônibus e conhecer Itacoatiara, talvez uns 200 km Rio Amazonas abaixo. O calor era intraduzível, mas, à margem esquerda do famoso rio tudo era encantamento. Deslumbrantes paisagens, povo simpaticíssimo, mulheres belíssimas. E um belo restaurante à margem do rio. Peço o cardápio e verifico que os peixes são todos de cativeiro. Curioso, pergunto à garçonete: "Vem cá, esses peixes de cativeiro são muito diferentes dos naturais?" Ela responde: "Não, moço, aqui não temos peixes de cativeiro." Eu replico: "Mas, está escrito aqui, no cardápio", então ela esclarece: "Haaa, isso é pra enganar o Ibama, pois, como estamos na época do defeso, é proibido pescar. Se vier o fiscal, mostramos o cardápio!"   Dando-se conta da mancada, apavorada, pergunta: "Ai, ai, ai, moço, o senhor não é do Ibama não, né?"







3

Como é o nome do hotel?
O trânsito em Paris estava infernal naquele 16/06/2001 e o carro alugado deveria ser devolvido até 6 da tarde. Decidimos devolvê-lo no aeroporto de Orly, situado fora do centro e, portanto, mais acessível. Achamos um simpático hotelzinho na vila, deixamos as malas e devolvemos o carro na locadora. Aliviados, procuramos transporte para retornar ao hotel, quando nos perguntamos um ao outro: "Como é mesmo o nome do hotel?" Na pressa, esquecemos de pegar sequer um cartão do tal hotel. Perambulamos tentando juntar detalhes que ajudassem a achar o local de nossa hospedagem. Nada. Cansados, sentamos num bar e pedimos uma água mineral, em inglês, tentando obter alguma informação do balconista. Nada, de novo. Num certo ponto, trocamos entre nós algumas palavras em português, ao que o "patrício lusitano" exultou: "Ora, então por que não falamos nossa própria língua?" Imediatamente chamou esposa e filhos para ajudar e, rapidamente, deduziram que o hotel só podia ser o "Le Rouge". No outro dia, fomos lá agradecer e ele se recusou a cobrar a meia dúzia de "geladas" com as quais celebramos a sorte: "Um dia tu me pagas lá em São Paulo, quando eu for visitar meu primo que mora no Brasil". Acho que ele nunca veio ...





4

Je ne parle pas le français
Após um tremendo feriadão de 1º de maio em Barcelona, com direito a ouvir a multidão cantar a "Internacional Socialista" na festa, saí numa manhã de quarta feira para tomar o trem que me levaria ao sul da França. Na plataforma certa, com folga no horário, fui percebendo uma crescente angústia, pois não falava patavina de francês e pressentia grandes dificuldades para os próximos dias. Era a primeira vez que viajaria por um país cuja língua não fosse português ou espanhol. Pra sair daquele estado d'alma desagradável, puxei conversa com outro sujeito que também esperava o trem. E não é que o cara responde em francês? Quase entrei em pânico e disse simplesmente "pardon, je ne parle pas le français".
E ele: "Oh, desculpe, como vais para a França, julguei que fosses francês".
Desfeito o engano, continuamos com um proveitoso papo no bom e velho castelhano.







                                A VIDA É UMA GRANDE VIAGEM







5

Mendigos Escandinavos
Sim, eles existem. Na maior parte são drogados, gente que perambula durante o curto verão escandinavo. Certa vez, em Oslo, um deles veio pedir-me esmola. Quando respondi que não entendia sua língua, o danado caprichou no inglês. Em outra ocasião, quando estava embarcando para Copenhagen, Dinamarca,   a oficial da companhia solicitou documentos a um jovem maltrapilho que tentava embarcar no navio. Ele aprontou uma confusão dos diabos, questionando, lá na língua enrolada deles, por que ela não exigia documentos dos demais passageiros. Dizia que estava sendo discriminado por causa de seus cabelos negros, uma raridade em meio ao mar de louros vikings. Não me pareceu que fosse racismo, mas, exclusão social, pois era evidente que se tratava de um imigrante, talvez árabe, além de sua condição de outsider social. Não deixou de ser curioso perceber a forma educada e gentil com que foi tratado, apesar de seu comportamento violento. No nosso país teria levado logo uma dura da polícia. 






6

Feijoada Cubana
Sentada perto de mim no avião estava uma senhora cubana, que não falava uma palavra em português e,   com seu sotaque enrolado, a conversação ia difícil, amenizada apenas pelo formidável Habana Club, anejado 8 años, que animava a madrugada e encantava a todos nós naquele vôo em novembro de 1994.  Quando aterrisamos em Havana já éramos mui amigos e ela pediu-me um favor: "Como cubana, não tenho chances de passar este pacote de feijão preto, que trago pra fazer uma feijoada; mas, a você, como turista, no le van a importunar. Hace-me el favor de passar-lo?" Provavelmente ainda sob o efeito do rum, imprudentemente aceitei o desafio e coloquei o pacote na minha mochila, que foi aberta quando passei pelo raio-x. O inspetor, com o pacote de feijão nas mãos, me perguntava a razão daquele aparente e insensato delito. Depois de muita explicação e de apontar a verdadeira dona, fui liberado rapidamente e não sei o que aconteceu com a senhora cubana. Então,  eu me dei conta do que teria acontecido comigo se, ao invés de feijão, o pacote contivesse uma bomba, por exemplo. 







7

Tres ovos para quatro famintos
Em 1993 viajávamos dois casais num "golzinho" 88, voltando de Arequipa, Peru. Somente em La Paz descobríramos que não seria possível voltar por Corumbá, como planejávamos, pois simplesmente não havia estrada. Então nos recomendaram voltar por Jujui, Argentina, depois Asuncion, Paraguai e entrar por Foz do Iguaçu. Foram mais de 500 km de estradas de chão pelos Andes bolivianos. Dias das mais fantásticas aventuras, por caminhos de belezas absolutamente embriagadoras no altiplano andino. Mas, também de muita privação. Certa ocasião, depois de mais de dez horas sem comer, finalmente chegamos numa vila. Havia um único boteco aberto, com uma pobre boliviana atendendo suas várias crianças e o balcão. Não havia comida, exceto biscoitos, cerveja e três ovos. Imediatamente requisitamos os três ovos e pedimos que fossem cozidos, pois eram tempos de cólera. Neste momento, pra demonstrar o espírito solidário do ser humano, a mulher do meu amigo gritou: "Dois são meus!".




segunda-feira, 24 de junho de 2013

Vão importar médicos cubanos para atuar no SUS



Vão importar médicos cubanos para atuar no SUS. Eu não sou especialista na área, mas, tenho ouvido dizer que os médicos brasileiros não trabalham no SUS por que a remuneração é ridícula, como realmente é, basta ver a quantidade de fraudes que se comete neste sistema, afim de elevar um pouco o faturamento. A maioria dos hospitais públicos e de organizações humanitárias que atendem pelo SUS estão falindo ou já faliram, como as antigas Santas Casas, então mantidas pela igreja católica, a qual, justamente por que deixou de ser parte do estado laico, abandonou-as à própria sorte.


A pergunta que não quer calar é "Por que os médicos cubanos seriam solução para os nossos problemas de medicina emergencial ?".



Bueno, não seriam. Estive conversando sobre isso com um médico peruano, em minha recente visita a Cusco. Ele revelou que em seu país se tentou o mesmo movimento, porém, os médicos cubanos chegaram e não deram conta da situação. Estes cubanos estão preparados para atuarem prioritariamente como "médicos de família", graças ao bom sistema de medicina preventiva existente em Cuba. Isso não tem nada a ver com o caos que encontram em nossas emergências. Então, entram em pânico e causam mais problemas do que soluções. Não resolvem os problemas de "falta de médico", e, ao contrário, ainda criam mais alguns. Vamos ver como será a solução "brasileira", e torcer, claro ! Que venham lindas morenas cubanas a atuarem no posto de saúde do Campeche!




Não queria estar na pele da Dilma nestes tempos de protestos de ruas. Compreendo que ela é apenas uma peça da engrenagem. Lembra-se que a Dilma foi alçada à posição de ministra das Minas e Energia por que o Lula não conseguiu um acordo com os grupos que dominavam o setor, empreiteiras e Sarneys, logo no início do primeiro mandato. Ela ficou ali, como poste de prontidão. Depois, com o mensalão e a queima do Zé Dirceu, a Dilma foi chamada para a casa civil. Lembro-me que Lula a levou no aerolula para Asunción, numa dessas cúpulas do Mercosul. Ali, diante das condições colocadas por Lula, ela aceitou ser poste mais uma vez. Quando o PT ameaçava se rachar, Lula a impôs como sua candidata à convenção do PT. Desta vez o poste iria assumir nada mais nada menos que a Presidência da República. Não é à toa que, diante do impasse de manifestações não previstas e não imaginadas pelos seus sociólogos e marqueteiros, Dilma foi logo ao encontro de seu mentor, em São Bernardo do Campo. Assistindo a tudo ao vivo e a cores, o ministro da justiça foi encarregado de dizer à imprensa que o encontro fora apenas uma reunião de amigos. E disse mais: Lula não tinha nada a comentar sobre o assunto dos protestos. Sobre o que pensava Dilma, ele não falou, por que era naturalmente desnecessário. Todos sabemos quem realmente continua a ser Presidente da República do Brasil. República? Tenho minhas dúvidas ... Em todo caso, vamos apreciar a música da nossa América real, tristemente submetida aos desmandos das casernas ou dos líderes personalistas como Perón, Vargas, Lula e Chirchner. A única que se salva é a música de León Grieco, interpretado pelas nossas fascinantes cantoras que seguem nossas tradições humanistas, apesar de tudo. 







Já perceberam que o povo não explodiu rojão ou fez carreata na nossa classificação para a semi final dessa copa fajuta da Fifa, que reúne seleções como Espanha 9 versus Taiti zero. Que torneio politiqueiro é esse? Isso chega a ser um desaforo para o esporte ! Mas, o povo não explodiu rojões por que o Brasil está pegando fogo. Essa é a razão por que a população não comemora. Ninguém consegue explicar o que está acontecendo nas ruas das nossas cidades e estradas . Todas as teorias são apenas suposições. Vi as explicações de um grande sociólogo, que acha tudo isso a consequência de uma insatisfação reprimida, louca para sair do armário e que apenas aguardava o aparecimento de algum corajoso que a explicitasse, o que teria se dado com as manifestações do pessoal do Passe Livre. Vi também explicações místicas, segundo as quais a Era de Aquarius está mudando a mentalidade das pessoas e transformando as condições objetivas do planeta, necessárias para mudanças ainda mais profundas que virão. Seja o que for, só por ser diferente virá bem. Viva a mudança!!!