sábado, 18 de fevereiro de 2012

LUGARES IMPROVÁVEIS - carnaval sem mulatas


A Corrientes moderna e bem estruturada.

A Corrientes tradicional, à beira do Rio Paraná, é um lugar de descanso tranquilo.

































O planeta mais uma vez assiste assombrado ao carnaval brasileiro. Não há nada similar no mundo em termos de festa profana. Diz-se que os blocos mais populares de Rio de Janeiro, Salvador e Recife arrastam atrás de si mais de dois milhões de participantes cada um. É mais que as populações de muitas capitais da nossa América, mesmo descontando o possível exagero...

Lembro-me que na adolescência, quando ainda não estávamos na aldeia global internética, íamos ao cinema na época de carnaval para assistir ao jornal que antecedia ao filme principal, o qual invariavelmente mostrava o rebolar das mulatas nos ensaios e apresentações. A dança demoníaca levava os machos do gênero humano ao delírio erótico.  Mas, tais deusas do sexo eram inatingíveis, muito longe, desde onde se deixavam filmar no mundo exótico do paraíso perfeito, lugares fantásticos onde mulheres daquele porte andavam por avenidas e becos pobres, morando em favelas e disponíveis aos aventureiros que tivessem a coragem de empreender a sonhada conquista. Raramente uma passista daquelas conseguia ascensão social, ao contrário de hoje, quando as artistas do cinema, televisão, teatro, modelos e até socialaites, de todas as categorias, disputam a primazia de aparecerem na frente da bateria da escola de samba, afim de abrilhantarem as telas eletrônicas mundo afora com suas nádegas perfeitas, em imperfeito descompasso com os carnavais do passado, quando tais predicados eram apenas sugeridos. Confesso que para mim as mulatas da minha adolescência tinham mais graça e atração erótica, do que o festival de órgãos genitais que se vê hoje em dia. Como profetizou Nelson Rodrigues, a gatinha moderninha aparece semi nua para comprar um picolé e o negão do carrinho de sorvetes se mostra mais interessado na venda do produto do que na cliente. São os tempos do trivial e da banalidade !

O carnaval, em si, é uma festa profana que se tornou popular a partir do ano 1270 na Europa medieval, então impregnada de suas bruxas e pecados, vejam só... Por isso mesmo, esta festa sempre esteve associada com o promíscuo e o proibido.  Quem estudou a história da revolução francesa já leu ou entrou em contato com filmes mostrando a raínha Maria Antonieta, de família austríaca extremamente católica, saindo clandestina do Palácio de Versailles, afim de se divertir incógnita e mascarada no carnaval do centro de Paris.   

Mesmo fazendo parte dessa vertente fantasiosamente erótica e proibida, o carnaval brasileiro extrapola todos os limites, inclusive os financeiros: o orçamento de uma escola de samba chega a 12 milhões de reais por ano, em grande parte suprido pelo poder público e complementado pelo jogo do bicho e narcotráfico.  As comunidades pobres, onde normalmente as escolas de samba se instalam, pouco contribuem, além do talento, da disposição ao trabalho e o suor nas quadras de samba e na avenida do desfile principal.  E muito tesão, claro!


O carnaval de nossos vizinhos latinos americanos é completamente diferente, totalmente ingênuo, sem a malícia e o erotismo que nos caracteriza. Veja o exemplo do mundialmente famoso "Carnavalito", tão conhecido como nossa aquarela do brasil, só que produzido e inspirado nas regiões frias da Quebrada de Humahuaca, situada nos cafundós da fronteira entre Bolívia e Argentina, nas alturas andinas.













O Mardi Gras (terça feira gorda) de New Orleans, nos Estados Unidos, também é uma inocente festa onde enormes e envelhecidas senhoras ficam nas sacadas mostrando ou sugerindo mostrar os seios, enquanto os transeuntes lhes atiram moedas. Sem dúvida, o carnaval mais entusiasmado da América extra-Brasil é o da cidade de Corrientes, um polo herdado de índios guaranis, aventureiros e escravos negros fugidos, situado estrategicamente no encontro dos rios Paraná e Paraguai, encravado na fronteira Argentina com o Paraguai. Apesar de espanhola, Corrientes se manteve independente de Buenos Aires enquanto pode resistir.  Assim como no vizinho Paraguai, o carnaval correntino no passado se resumia a brincadeiras de uns jogarem água nos outros. Para apagar o fogo do futuro, pois hoje a inocente festa foi invadida por modelos alienígenas, como se vê neste clip a seguir.  





    

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