A Corrientes moderna e bem estruturada. |
A Corrientes tradicional, à beira do Rio Paraná, é um lugar de descanso tranquilo. |
O planeta mais uma vez assiste assombrado ao carnaval brasileiro. Não há nada similar no mundo em termos de festa profana. Diz-se que os blocos mais populares de Rio de Janeiro, Salvador e Recife arrastam atrás de si mais de dois milhões de participantes cada um. É mais que as populações de muitas capitais da nossa América, mesmo descontando o possível exagero...
Lembro-me
que na adolescência, quando ainda não estávamos na aldeia global internética, íamos ao cinema na época de carnaval para
assistir ao jornal que antecedia ao filme principal, o qual invariavelmente
mostrava o rebolar das mulatas nos ensaios e apresentações. A dança demoníaca
levava os machos do gênero humano ao delírio erótico. Mas, tais deusas do sexo eram inatingíveis, muito
longe, desde onde se deixavam filmar no mundo exótico do paraíso perfeito, lugares
fantásticos onde mulheres daquele porte andavam por avenidas e becos pobres,
morando em favelas e disponíveis aos aventureiros que tivessem a coragem de
empreender a sonhada conquista. Raramente uma passista daquelas conseguia ascensão
social, ao contrário de hoje, quando as artistas do cinema, televisão, teatro,
modelos e até socialaites, de todas as categorias, disputam a primazia de
aparecerem na frente da bateria da escola de samba, afim de abrilhantarem as
telas eletrônicas mundo afora com suas nádegas perfeitas, em imperfeito
descompasso com os carnavais do passado, quando tais predicados eram apenas
sugeridos. Confesso que para mim as mulatas da minha adolescência tinham mais
graça e atração erótica, do que o festival de órgãos genitais que se vê hoje em
dia. Como profetizou Nelson Rodrigues, a gatinha moderninha aparece semi nua para
comprar um picolé e o negão do carrinho de sorvetes se mostra mais interessado
na venda do produto do que na cliente. São os tempos do trivial e da banalidade !
O carnaval,
em si, é uma festa profana que se tornou popular a partir do ano 1270 na Europa
medieval, então impregnada de suas bruxas e pecados, vejam só... Por isso
mesmo, esta festa sempre esteve associada com o promíscuo e o proibido. Quem estudou a história da revolução francesa já
leu ou entrou em contato com filmes mostrando a raínha Maria Antonieta, de família
austríaca extremamente católica, saindo clandestina do Palácio de Versailles,
afim de se divertir incógnita e mascarada no carnaval do centro de Paris.
Mesmo fazendo parte dessa vertente fantasiosamente erótica e proibida, o carnaval brasileiro extrapola
todos os limites, inclusive os financeiros: o orçamento de uma escola de samba
chega a 12 milhões de reais por ano, em grande parte suprido pelo poder
público e complementado pelo jogo do bicho e narcotráfico. As comunidades pobres, onde normalmente as
escolas de samba se instalam, pouco contribuem, além do talento, da disposição
ao trabalho e o suor nas quadras de samba e na avenida do desfile principal. E muito tesão, claro!
O carnaval de nossos vizinhos latinos americanos é completamente diferente, totalmente ingênuo, sem a malícia e o erotismo que nos caracteriza. Veja o exemplo do mundialmente famoso "Carnavalito", tão conhecido como nossa aquarela do brasil, só que produzido e inspirado nas regiões frias da Quebrada de Humahuaca, situada nos cafundós da fronteira entre Bolívia e Argentina, nas alturas andinas.
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